‘Projeto 100 anos de samba paulista’: herança afro-bantu, ruralidade e oralidade

Iniciativa busca informar sobre origens, histórias, batuques e rituais do gênero na cidade|Iniciativa busca informar sobre origens, histórias, batuques e rituais do gênero na cidade

Os ciclos econômicos do Brasil tiveram um papel fundamental para a formação das diversas manifestações culturais espalhadas em todo o país. Com a falta de mão de obra “barata” para aumentar a produção no plantio de cana de açúcar no nordeste do país, no século XVI, o Brasil inicia o processo escravista trazendo milhares de negros africanos para a exploração dessa mão de obra. Com a chegada dos africanos, surgiram diversas manifestações culturais que ainda hoje podem ser identificadas no nordeste do país, como o Maracatu, o Tambor de Crioula, Boi Bumbá, entre outras.

Manifestação cultural do Maracatu no Nordeste

Alguns séculos depois, inicia-se um novo e intensamente usurpador ciclo econômico, responsável pelo enriquecimento de vários países da Europa, o ciclo do ouro. Neste momento, o centro-oeste do Brasil se transforma em uma fecunda fonte de extração de minérios feita pelos negros que migraram do nordeste e por outros trazidos do norte da África. Com a vinda dos negros para o trabalho nas minas de ouro, diamantes e os demais minérios que enriqueciam aquela região, surgiram algumas das mais tradicionais manifestações da cultura popular brasileira, como o Congado, Folia de Reis (principalmente em Minas Gerais), sempre influenciados pela Igreja Católica.

Mas foi no finalzinho do século XIX que o mais próspero e importante ciclo econômico trouxe para o sudeste do país uma significante contribuição político-econômica: o ciclo do café. Neste período, há uma elevação na receita do país pelas diversas articulações na exportação de mercadorias, principalmente do café, que na época era conhecido como “ouro negro”.

No período, os negros que trabalhavam no plantio do café traziam conhecimentos da cultura do Jongo, da Umbigada (também conhecida como Tambú), do Samba de Bumbo, do Moçambique, entre outras que fizeram de São Paulo um fecundo terreiro em que mais tarde brotaria uma modalidade peculiar do samba, criada e totalmente desenvolvida no Brasil. São Paulo cultua a partir de então o “Samba Rural”.

Cena do Tambú de Piracicaba, que mantém a tradição do samba rural

Ainda hoje, respeitando os saberes da tradição e oralidade dos ancestrais africanos, o Samba Rural Caipira é quem dá especificidade ao nosso jeito de fazer samba. Como referência, temos a cidade de Pirapora do Bom Jesus no Vale do Ribeira, que ainda preserva o Samba de Bumbo, as cidades de Guaratinguetá e Piquete, preservando o Jongo no Vale do Paraíba, e as cidades de Piracicaba, Tietê e Capivari, as quais preservam o Tambú. São ritmos, danças e cantos exclusivamente paulistas e que nos permitem formar e perceber uma identidade cultural.

Texto elaborado por T. Kaçulacoordenador do “Projeto 100 anos de samba paulista”