10 dicas essenciais para você cuidar da saúde mental no trabalho e não surtar
Setembro Amarelo: Síndrome de burnout acomete 30% dos trabalhadores brasileiros
Um emprego sob constante pressão pode trazer sérias consequências. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o estresse relacionado ao trabalho é uma das principais causas de problemas de desequilíbrio psicológico, afetando 15% da população mundial economicamente ativa.
Segundo o Ministério da Previdência Social brasileiro, houve um crescimento de 38% nos afastamentos por motivos de saúde mental em 2023, evidenciando a necessidade urgente de uma abordagem mais robusta para o bem-estar no ambiente de trabalho.
O aumento significativo pode ser atribuído a vários fatores, como o impacto contínuo da pandemia, as rápidas mudanças no local de atividade profissional, e a pressão constante sobre os profissionais para se adaptarem aos novos modelos.
- Autismo sem diagnóstico: conheça os sinais sutis que podem ser ignorados facilmente
- Estes sintomas do Alzheimer surgem a partir dos 30 anos
- Pesquisa mostra relação entre dieta e interrupção de crescimento de câncer
- Estudo aponta vitamina que pode baixar a pressão arterial em idosos
Um estudo realizado pela Pipo Saúde, corretora de saúde que auxilia departamentos de RH, revelou que 48% dos entrevistados estão em risco de problemas de saúde psicológica, 44% sofrem de insônia, 66% enfrentam sedentarismo e 60% estão com sobrepeso devido à dificuldade de adaptação ao novo ritmo de expediente pós-pandemia.
“A velha ideia de romantizar o workaholic, de que quanto mais você rala, mais chances terá de receber reconhecimento, não respeitar os próprios limites (ou nem reconhecê-los) também contribui para exaustão, mas é injusto atribuir responsabilidades individuais quando o problema é sistêmico e quando o medo de perder a fonte de renda é maior do que a coragem de se preservar. Por outro lado, esperar que o sistema mude, no curto prazo, é quase ingênuo da nossa parte, o que nos traz de volta às esferas mais particulares”, comenta a psicanalista e Presidente do Ipefem (Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana Tomazelli.
Mente cheia é oficina do esgotamento mental
Em lugares onde a produtividade e a competitividade são priorizadas, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é frequentemente comprometido, levando ao aumento de casos de ansiedade, depressão e burnout.
No Brasil, a Isma-BR (International Stress Management Association) estima que 72% dos trabalhadores economicamente ativos lidam com estresse relacionado a função, e 32% enfrentam burnout.
Muitos profissionais lidam com a pressão de atingir metas, enquanto outros enfrentam a sobrecarga de e-mails, relatórios e demandas crescentes. “Essa pressão contínua não apenas reduz a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também impacta diretamente a produtividade e a eficiência das equipes”, destaca o especialista em Desenvolvimento de Lideranças e Saúde Mental no trabalho, Renato Herrmann. “Em muitos casos, a resposta a essas demandas excessivas é o esgotamento completo, resultando em um ciclo vicioso onde o desempenho cai, aumentando ainda mais a pressão e o estresse”.
O que contribui para um local de serviço tóxico?
Para Herrmann, a sobrecarga de tarefas e a falta de suporte adequado criam um ambiente onde os profissionais se sentem isolados e incapazes de atender às expectativas impostas. A cultura do ‘sempre conectado’ agrava ainda mais essa situação, tornando as fronteiras entre o emprego e a vida pessoal cada vez mais indistintas.
Uma pesquisa está sendo realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para contabilizar a quantidade de trabalhadores que possuem dificuldades em desconectar-se do trabalho fora do expediente, contribuindo para o desgaste psicológico.
Enquanto isso, países como Austrália e Reino Unido estão estudando leis que garantem o direito do trabalhador de ignorar comunicações da empresa após o expediente.
“É fundamental que as organizações reconheçam a importância da saúde psíquica e ataquem os ofensores: altíssima demanda, posto de trabalho tóxico e recompensas desequilibradas, além de dar suporte adequado aos seus profissionais” enfatiza Ana. A especialista acrescenta que só será possível reverter esses números se houver uma educação começando pelos líderes, para que a empresa reveja seus processos e se adapte.
“Se o topo da hierarquia abordar essas questões de frente, as empresas não apenas melhoram o bem-estar de seus times, mas também fortalecem a resiliência e a produtividade da equipe. Pessoas doentes refletem um local doente”, declara Tomazelli.
Dicas para implementar um programa de saúde mental no trabalho:
1) Reconhecer a importância da saúde mental: a saúde mental é tão fundamental quanto a saúde física. Um local de serviço que prioriza o bem-estar psicológico cria condições mais favoráveis para a produtividade e o engajamento dos colaboradores.
2) Criar políticas claras e estruturadas: políticas bem definidas que integrem o equilíbrio emocional devem ser parte essencial da cultura organizacional. Elas precisam abranger desde a prevenção até o suporte em casos de crises, com um enfoque na criação de um ambiente de trabalho seguro e acolhedor.
3) Estabelecer canais de comunicação abertos e acessíveis: é fundamental facilitar a comunicação na empresa por meio de canais que permitam aos funcionários expressar suas preocupações e buscar apoio sem medo de retaliação. Isso inclui a criação de plataformas seguras para discussões confidenciais e a promoção de uma cultura onde o diálogo sobre saúde psíquica é incentivado.
4) Disponibilizar recursos e suporte adequados: recursos como programas de assistência ao empregado (EAP), treinamentos em gestão do estresse, workshops sobre resiliência, e acesso a profissionais de saúde mental devem ser facilmente acessíveis e adaptados às necessidades dos colaboradores.
5) Definir expectativas e papéis com clareza: a empresa deve garantir que cada colaborador compreenda claramente suas responsabilidades e metas. A ambiguidade pode gerar estresse desnecessário, portanto, a transparência e a comunicação regular sobre as expectativas são fundamentais para reduzir a ansiedade e melhorar o foco na função exercida.
6) Promover relacionamentos positivos e colaborativos: uma cultura de respeito, apoio mútuo e colaboração entre os colaboradores deve ser parte da empresa. Relacionamentos saudáveis são essenciais para um local que favoreça o bem-estar mental, reduzindo a incidência de conflitos e promovendo um sentimento de pertencimento.
7) Garantir clareza na direção e nos objetivos do negócio: os funcionários devem estar sempre informados sobre a direção estratégica da empresa e como seus papéis contribuem para esses objetivos. Isso não só alinha as expectativas, mas também reforça o sentido de propósito, um fator crucial para a satisfação e motivação.
8) Prevenir comportamentos inadequados e promover um ambiente seguro: é indispensável ter uma política de combate rigoroso contra qualquer tipo de assédio, discriminação ou comportamento tóxico. A criação de um espaço seguro, onde os colaboradores se sintam respeitados e valorizados, é um pilar essencial para a promoção da saúde mental.
9) Personalizar os programas de saúde psicológica para atender às necessidades específicas: ao desenvolver programas de bem-estar, é necessário considerar as particularidades da organização, como a cultura corporativa, o perfil dos funcionários e os desafios específicos enfrentados por eles. Programas genéricos muitas vezes falham em alcançar resultados significativos; a personalização é chave para a eficácia.
10) Quebrar o tabu em torno da saúde mental: a empresa deve trabalhar para desestigmatizar o tema entre seus colaboradores, promovendo campanhas de conscientização, treinamentos sobre saúde psicológica, e a criação de grupos de apoio. Incentive uma cultura de transparência e confiança, onde todos se sintam à vontade para discutir suas preocupações sem medo de julgamentos ou repercussões negativas.
“Ou seja, um ambiente de trabalho que prioriza o bem-estar mental de seus profissionais tende a ser mais produtivo, inovador e resiliente diante dos desafios do mercado, o que, portanto, aumenta os lucro das organizações ou, minimamente, ‘economiza’ o que a organização já está perdendo com o adoecimento das pessoas”, pontua Herrmann.
Organizações que reconhecem a importância da saúde mental e investem em programas efetivos estão preparando o terreno para um futuro mais equilibrado, onde a produtividade e a saúde psicológica andam lado a lado, beneficiando tanto os indivíduos quanto a empresa como um todo.