A ciência revela por que cheiros mexem tanto com a memória
Um cheiro pode reorganizar lembranças e emoções rapidamente
O simples ato de sentir um cheiro aciona, em poucos milissegundos, uma sequência complexa de eventos no cérebro humano. Antes mesmo que a pessoa consiga identificar se o odor lembra café, chuva ou perfume, o sistema nervoso já está reagindo, ativando memórias, ajustando o estado emocional e preparando o corpo para uma resposta adequada ao ambiente, em um processo comandado pelo olfato e pela forte conexão com o sistema límbico.

Como o olfato detecta um cheiro em fração de segundos?
Na cavidade nasal encontra-se o epitélio olfatório, repleto de receptores especializados que captam moléculas de odor presentes no ar. Essas moléculas se dissolvem no muco, entram em contato com receptores específicos e geram um padrão único de ativação que o cérebro interpreta como determinado cheiro.
Os sinais seguem para o bulbo olfatório, na base do cérebro, que organiza e refina as informações antes de enviá-las a outras áreas. Diferente da visão e da audição, o caminho é curto e quase não passa pelo tálamo, tornando a resposta ao odor muito rápida e muitas vezes anterior à percepção consciente.
Como o sistema límbico reage ao cheiro antes da identificação consciente?
Assim que o sinal olfativo chega ao sistema límbico, a amígdala avalia rapidamente se o cheiro sugere segurança ou ameaça, com base em experiências anteriores. Em paralelo, o hipocampo relaciona o odor a lembranças específicas, como um almoço em família ou um ambiente hospitalar.
Nesse momento, a pessoa pode ainda não saber qual é o cheiro, mas o corpo já reage com mudanças na frequência cardíaca, na respiração ou no nível de atenção. Só depois dessa etapa emocional e mnêmica a informação alcança regiões corticais responsáveis pelo reconhecimento consciente e pela nomeação do aroma.

Por que um cheiro ativa tantas memórias e emoções?
A forte ligação entre olfato e memória decorre da proximidade anatômica e funcional entre bulbo olfatório, hipocampo e amígdala. Quando um cheiro é sentido em uma situação marcante, o cérebro registra o odor junto com o contexto, o estado emocional e as pessoas presentes, formando memórias episódicas duradouras.
Mais tarde, ao reencontrar o mesmo cheiro, o sistema límbico reativa esse registro e pode trazer à tona imagens, sons e até sensações corporais associadas. Por isso o olfato é visto como um “atalho” para lembranças antigas e vem sendo explorado em pesquisas sobre reabilitação cognitiva e suporte a pessoas com alterações de memória.
- Amígdala: faz a avaliação emocional rápida do cheiro.
- Hipocampo: vincula o odor a lembranças específicas.
- Córtex orbitofrontal: participa do julgamento consciente e da identificação do aroma.
- Hipotálamo: ajusta respostas fisiológicas, como fome, náusea ou alerta.
Confira abaixo um vídeo do canal no Youtube Helen Augusto que fala sobre por que o olfato desperta emoções tão intensas:
Quais funções o olfato exerce no dia a dia?
No cotidiano, o olfato atua na alimentação ao avaliar a qualidade dos alimentos, colaborando com o paladar para diferenciar sabores e detectar riscos. Em casa ou no trabalho, ajuda a perceber fumaça, gás ou produtos químicos, contribuindo para a segurança e para respostas rápidas a possíveis ameaças.
No campo social, odores corporais e ambientais podem influenciar a percepção entre pessoas e o bem-estar geral, muitas vezes de forma inconsciente. Compreender essa interação entre olfato e sistema límbico esclarece como um simples cheiro pode reorganizar lembranças, modular emoções e orientar decisões em poucos segundos.