Além da autolesão: jovens revelam em cartilha digital o que realmente alivia a dor

Pesquisa da UFSCar reúne relatos de jovens que mostram alternativas à autolesão para aliviar a dor emocional

Por Caroline Vale em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
22/05/2025 15:00 / Atualizado em 24/05/2025 16:21

Um trabalho da psicóloga Luiza Cesar Riani Costa, conduzido na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), investigou como adolescentes que praticam autolesão não suicida interpretam essa prática e quais estratégias utilizam para aliviar o sofrimento mental.

Autolesão e estratégias de alívio.
Autolesão e estratégias de alívio. - pocketlight/istock

Realizada entre 2018 e 2021, a pesquisa resultou na criação de uma cartilha digital que reúne fotografias e relatos de jovens, com o intuito de oferecer um recurso acessível a escolas, profissionais de saúde e educadores que atuam na saúde mental adolescente.

O que é a autolesão?

A autolesão, que consiste em ferir a si mesmo sem intenção suicida, impacta diretamente a autoestima, as relações sociais e o desempenho escolar, além de aumentar o risco de suicídio.

Estima-se que cerca de 14% dos adolescentes já tenham se autolesionado ao menos uma vez, frequentemente como uma forma de lidar com emoções intensas como depressão, ansiedade e traumas.

O cenário se agravou durante a pandemia de covid-19, quando os casos de sofrimento mental entre jovens tiveram aumento expressivo.

Que método foi usado para entender essas experiências?

A pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa com a metodologia Photovoice, que incentiva os participantes a expressarem suas vivências por meio de fotografias, facilitando o diálogo sobre temas delicados.

Nove adolescentes do sexo feminino, com idades entre 12 e 17 anos, que tinham histórico de autolesão, participaram voluntariamente do estudo.

Elas foram convidadas a registrar imagens que representassem o que ajudava a aliviar sua dor emocional, excluindo a autolesão.

As fotografias capturaram cenas variadas, como contato com a natureza, animais de estimação, atividades físicas, culinária, artes, relações afetivas e espiritualidade.

A análise revelou elementos comuns entre as experiências, evidenciando a importância de ambientes acolhedores e práticas que promovem o bem-estar emocional.

Como a cartilha pode ajudar adolescentes e profissionais?

A partir desses resultados, foi elaborada a cartilha “O que alivia a minha dor: fotos e experiências de adolescentes”, que reúne as imagens e os significados atribuídos pelas adolescentes.

O material, disponível digitalmente em português e inglês, tem potencial para ser uma ferramenta educativa e terapêutica de baixo custo, com linguagem acessível e próxima do universo jovem. 

Já apresentado em eventos internacionais e publicado em periódicos especializados, o recurso pode contribuir para ampliar o suporte a adolescentes em sofrimento e estimular alternativas saudáveis à autolesão. Com ele, o adolescente pensará em outras possibilidades de alívio da dor.

Os pesquisadores destacam que compreender as estratégias alternativas ao ato de se ferir ajuda a construir ambientes mais acolhedores e a prevenir consequências graves associadas à autolesão na adolescência.