Alzheimer pode começar a moldar o cérebro a partir dos 20 anos, descobre estudo

As descobertas sugerem que as estratégias de prevenção devem começar muito mais cedo na vida

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
25/04/2025 07:22

A maioria das pessoas associa a doença de Alzheimer à terceira idade. No entanto, uma nova pesquisa da Universidade de Columbia revela que os primeiros sinais de risco podem surgir já na casa dos 20 anos. O estudo, publicado na revista The Lancet Regional Health – Americas, mostra que fatores de risco para demência, geralmente observados em idosos, também afetam a função cerebral em adultos jovens.

Essa descoberta redefine a compreensão sobre quando o Alzheimer começa a se desenvolver. Em vez de esperar pelos primeiros sintomas aos 60 ou 70 anos, os pesquisadores agora sugerem que os processos biológicos da doença podem estar ativos desde a juventude.

Alzheimer: um processo que pode começar décadas antes dos sintomas

O estudo acompanhou milhares de pessoas desde os anos 1990, observando suas condições de saúde entre os 24 e 44 anos.

A pontuação CAIDE — ferramenta que avalia o risco de demência com base em idade, pressão arterial, colesterol, nível de atividade física e outros fatores — foi aplicada aos participantes. Surpreendentemente, aqueles com pontuações mais altas já apresentavam desempenho cognitivo inferior, mesmo aos 25 anos.

Os fatores de risco para a doença de Alzheimer estão ligados à função cognitiva já entre os 24 e os 34 anos, décadas antes dos sintomas normalmente aparecerem
Os fatores de risco para a doença de Alzheimer estão ligados à função cognitiva já entre os 24 e os 34 anos, décadas antes dos sintomas normalmente aparecerem - Vladislav Stepanov/istock

Essas diferenças podem ser sutis no dia a dia, mas são estatisticamente significativas. Jovens com maior risco cardiovascular apresentaram pior memória de curto prazo e menor capacidade de processar informações. Ou seja, o cérebro já começa a dar sinais de alerta décadas antes da possível manifestação da demência.

Inflamação e proteínas cerebrais também indicam risco precoce

Além dos fatores de risco tradicionais, os cientistas analisaram proteínas e marcadores inflamatórios no sangue dos participantes. A presença da proteína tau total, frequentemente associada ao Alzheimer, foi relacionada a uma menor capacidade de memorização imediata em pessoas de 34 a 44 anos.

Outros marcadores inflamatórios, ligados ao sistema imunológico, também mostraram associação com desempenho cognitivo inferior. Essas relações se intensificaram conforme os participantes envelheceram, indicando que o impacto dessas alterações é progressivo.

Curiosamente, a principal predisposição genética para o Alzheimer, o gene APOE ε4, não demonstrou influência significativa na cognição dos jovens adultos analisados. Isso reforça a importância do estilo de vida e da saúde cardiovascular como fatores decisivos para a saúde cerebral, mesmo entre pessoas geneticamente suscetíveis.

Prevenção precoce pode ser a chave para combater o Alzheimer

Este estudo oferece uma nova perspectiva: é possível agir muito antes que os sintomas de Alzheimer apareçam.

Manter a pressão arterial sob controle, ter um peso saudável, praticar atividades físicas regularmente e investir na educação contínua são medidas que protegem não apenas o coração, mas também o cérebro — inclusive desde os 20 anos.

Segundo os pesquisadores, os mecanismos do Alzheimer podem estar silenciosamente em curso por até 50 anos antes dos sintomas se manifestarem. Portanto, cada década importa. E a juventude pode ser o momento ideal para proteger o cérebro e garantir uma velhice com mais qualidade de vida.