Autismo: inflamação em células nervosas pode ser uma das causas
Desde 2008, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) vêm estudando os mecanismos biológicos envolvidos no Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) por meio de dentes. Isso mesmo! Trata-se do Projeto Fada do Dente, que recentemente avançou em uma das pesquisas.
Utilizando dentes de leite doados por famílias de crianças autistas e não-autistas, os cientistas do projeto extraíram e reprogramaram células embrionárias para criar neurônios e astrócitos, que são células responsáveis por sustentar os neurônios e filtrar o que chega do sistema sanguíneo até eles.
Com o material, o grupo de pesquisa simulou uma série de combinações e percebeu uma inflamação nos astrócitos das crianças autistas, podendo esta ser uma das causas do autismo clássico.
“Todas as células do nosso organismo têm todos os genes de quando nós éramos um embrião. O que vai diferenciar essas células umas das outras são os genes que estão sendo expressos nelas naquele momento ou não. Alguns estão dormindo e outros estão acordados”, explicou à Galileu a principal autora do artigo publicado na Biological Psychiatry, Fabiele Russo.
A reprogramação faz com que as células expressem genes que as façam voltar à fase embrionária, caracterizada pela capacidade de formar qualquer célula do organismo humano. Assim, os pesquisadores conseguiram desenvolver neurônios e astrócitos para realizarem a pesquisa.
Ao combinarem neurônios e astrócitos de indivíduos autistas e não autistas, os pesquisadores observaram que, quando neurônios saudáveis eram combinados com astrócitos autistas, suas ramificações diminuíam. Por outro lado, quando o neurônio autista era combinado com um astrócito saudável, ele recuperava suas ramificações.
Ou seja, o papel do astrócito saudável é o de resgatar o fenótipo sadio de um neurônio. Por meio dos estudos, ficou confirmado que os astrócitos autistas tinham uma produção elevada da proteína interleucina 6, comprometendo as atividades do sistema nervoso.
Participaram da pesquisa, além de crianças não-autistas, apenas pacientes diagnosticados com autismo clássico. Por isso, ainda não é possível afirmar que todas a variantes do espectro autista apresentem a mesma inflamação.
Em todo caso, a descoberta do papel abre um novo caminho para que outros estudos sejam feitos. Com estes resultados, será possível testar novas medicações para melhorar a qualidade de vida de pessoas com autismo clássico.
- Fada do Dente
O projeto surgiu em 2008 para estudar os mecanismos biológicos envolvidos no transtorno do espectro do autismo (TEA). Foi idealizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que iniciaram a coleta de dentes de indivíduos com TEA em 2009. Em 2014, A Fada do Dente se tornou uma Organização Social (ONG) focada em pesquisa científica.
Os pesquisadores do projeto usam um tipo de estudo chamado “modelagem de doença”, onde produzem um modelo para estudar determinada patologia e ao mesmo tempo criam uma plataforma para testar medicamentos in vitro, com objetivo encontrar maneiras de melhorar os sintomas clínicos.
Para saber mais sobre o Fada do Dente, clique aqui.
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