Brasileiro acha sexo essencial, mas pratica menos do que gostaria

05/09/2017 14:08 / Atualizado em 05/05/2020 16:59

Os brasileiros só pensam ‘naquilo’?

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) buscou entender a relação do que brasileiros pensam e quanto realmente praticam.

Para traçar o perfil sexual do brasileiro, foram ouvidas 3 mil pessoas
Para traçar o perfil sexual do brasileiro, foram ouvidas 3 mil pessoas - Getty Images/iStockphoto

O estudo ‘Mosaico 2.0’, foi coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do IPq e publicado no Jornal da USP.

Para traçar o perfil sexual do brasileiro, foram ouvidas 3 mil pessoas, com idade entre 18 e 70 anos, divididos em cinco faixas etárias.

Participaram da pesquisa moradores de sete regiões metropolitanas: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal. Os questionários foram enviados por e-mail, com tecnologias que garantiram o sigilo do usuário no envio das respostas.

A ‘Mosaico 2.0’ é uma atualização do estudo Mosaico Brasil, feito pelo ProSex em 2008, o primeiro e maior levantamento sobre sexualidade realizado em território nacional. A primeira pesquisa trabalhou com questionários impressos, não identificados, entregues aleatoriamente aos participantes.

Ambos os gêneros considerarem o sexo como algo essencial. Para 95,3% dos entrevistados, o sexo é importante ou muito importante para harmonia do casal; desses, 96,2% eram homens e 94,5%, mulheres.

A primeira diferença significativa encontrada foi em relação à expectativa quanto à frequência ideal de relações sexuais por semana, a resposta mais escolhida pelas mulheres foi “três vezes”, enquanto que os homens escolheram a opção “oito vezes”.

Mas a expectativa [de fazer mais sexo] nem sempre coincide com a realidade. Segundo o estudo, a rotina atribulada, a correria do dia a dia e o cansaço afetam o desejo sexual do brasileiro. Os homens relataram ter relação sexual “três vezes por semana”, menos da metade do que gostariam. Já as mulheres ficaram mais próximas de sua expectativa e apontaram que fazem sexo “duas vezes” no mesmo período.

No Rio de Janeiro e em Salvador, diferente das outras capitais, a resposta predominante foi “duas vezes”, para ambos os sexos.

Participaram da pesquisa moradores de sete regiões metropolitanas
Participaram da pesquisa moradores de sete regiões metropolitanas

Preocupações relacionadas ao sexo

O estudo também quis saber quais as maiores preocupações do brasileiro quando se trata de sexo.

A possibilidade de contrair doenças foi o maior medo relatado por elas. Já entre eles, o temor de não satisfazer a outra pessoa foi a opção mais assinalada.

Os jovens entre 18 e 25 anos também consideraram a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) um fator preocupante. Segundo Carmita, este grupo é que mais se previne durante as relações sexuais, com índice de 36%.

A publicação ressalta que o prolongamento da vida sexual, somado às práticas inseguras, tem refletido no aumento de ocorrências das DSTs entre os idosos.

De acordo com o levantado, entre as pessoas com mais de 60 anos, somente 10% disse se proteger durante as relações sexuais. A psiquiatra relaciona o mau hábito à tendência de crescimento no número de idosos contaminados pelas DSTs nos últimos anos.

O documento aponta que estudos norte-americanos mostram que os casos de DSTs entre idosos dobraram na última década. No Brasil, o Ministério da Saúde não tem dados computados sobre o assunto porque a notificação não é obrigatória.

Apenas para casos de Aids, onde há registro epidemiológico estimado, houve um aumento de casos em 103% – entre os anos de 2000 e 2010- para o grupo de pessoas acima dos 60 anos.

Fomento de pesquisas e políticas públicas de saúde

Os dados da pesquisa estão disponíveis no intuito de fomentar mais pesquisas sobre o tema e auxiliar na criação ou aperfeiçoamento de políticas públicas voltadas à área da saúde.

A coordenadora do estudo recomenda a criação de campanhas direcionadas de incentivo ao uso do preservativo, segmentadas por faixa etária e grupo específico de pessoas. “Como elas acontecem hoje, de forma genérica e somente durante o carnaval, não têm eficácia alguma”, afirma Abdo.

Carmita também defende a inclusão do tema sexualidade no currículo escolar do ensino superior nas áreas pedagógicas e de saúde. Apontando que, a falta de formação pode levar ao despreparo desses profissionais na hora de lidar com as angústias dos pacientes e dos alunos que chegam ao consultório e à sala de aula, respectivamente.