Brasileiro acha sexo essencial, mas pratica menos do que gostaria
Os brasileiros só pensam ‘naquilo’?
Uma pesquisa feita pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) buscou entender a relação do que brasileiros pensam e quanto realmente praticam.
O estudo ‘Mosaico 2.0’, foi coordenado pela psiquiatra Carmita Abdo, do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do IPq e publicado no Jornal da USP.
Para traçar o perfil sexual do brasileiro, foram ouvidas 3 mil pessoas, com idade entre 18 e 70 anos, divididos em cinco faixas etárias.
Participaram da pesquisa moradores de sete regiões metropolitanas: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e Distrito Federal. Os questionários foram enviados por e-mail, com tecnologias que garantiram o sigilo do usuário no envio das respostas.
A ‘Mosaico 2.0’ é uma atualização do estudo Mosaico Brasil, feito pelo ProSex em 2008, o primeiro e maior levantamento sobre sexualidade realizado em território nacional. A primeira pesquisa trabalhou com questionários impressos, não identificados, entregues aleatoriamente aos participantes.
Ambos os gêneros considerarem o sexo como algo essencial. Para 95,3% dos entrevistados, o sexo é importante ou muito importante para harmonia do casal; desses, 96,2% eram homens e 94,5%, mulheres.
A primeira diferença significativa encontrada foi em relação à expectativa quanto à frequência ideal de relações sexuais por semana, a resposta mais escolhida pelas mulheres foi “três vezes”, enquanto que os homens escolheram a opção “oito vezes”.
Mas a expectativa [de fazer mais sexo] nem sempre coincide com a realidade. Segundo o estudo, a rotina atribulada, a correria do dia a dia e o cansaço afetam o desejo sexual do brasileiro. Os homens relataram ter relação sexual “três vezes por semana”, menos da metade do que gostariam. Já as mulheres ficaram mais próximas de sua expectativa e apontaram que fazem sexo “duas vezes” no mesmo período.
No Rio de Janeiro e em Salvador, diferente das outras capitais, a resposta predominante foi “duas vezes”, para ambos os sexos.
Preocupações relacionadas ao sexo
O estudo também quis saber quais as maiores preocupações do brasileiro quando se trata de sexo.
A possibilidade de contrair doenças foi o maior medo relatado por elas. Já entre eles, o temor de não satisfazer a outra pessoa foi a opção mais assinalada.
Os jovens entre 18 e 25 anos também consideraram a contaminação por doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) um fator preocupante. Segundo Carmita, este grupo é que mais se previne durante as relações sexuais, com índice de 36%.
A publicação ressalta que o prolongamento da vida sexual, somado às práticas inseguras, tem refletido no aumento de ocorrências das DSTs entre os idosos.
De acordo com o levantado, entre as pessoas com mais de 60 anos, somente 10% disse se proteger durante as relações sexuais. A psiquiatra relaciona o mau hábito à tendência de crescimento no número de idosos contaminados pelas DSTs nos últimos anos.
O documento aponta que estudos norte-americanos mostram que os casos de DSTs entre idosos dobraram na última década. No Brasil, o Ministério da Saúde não tem dados computados sobre o assunto porque a notificação não é obrigatória.
Apenas para casos de Aids, onde há registro epidemiológico estimado, houve um aumento de casos em 103% – entre os anos de 2000 e 2010- para o grupo de pessoas acima dos 60 anos.
Fomento de pesquisas e políticas públicas de saúde
Os dados da pesquisa estão disponíveis no intuito de fomentar mais pesquisas sobre o tema e auxiliar na criação ou aperfeiçoamento de políticas públicas voltadas à área da saúde.
A coordenadora do estudo recomenda a criação de campanhas direcionadas de incentivo ao uso do preservativo, segmentadas por faixa etária e grupo específico de pessoas. “Como elas acontecem hoje, de forma genérica e somente durante o carnaval, não têm eficácia alguma”, afirma Abdo.
Carmita também defende a inclusão do tema sexualidade no currículo escolar do ensino superior nas áreas pedagógicas e de saúde. Apontando que, a falta de formação pode levar ao despreparo desses profissionais na hora de lidar com as angústias dos pacientes e dos alunos que chegam ao consultório e à sala de aula, respectivamente.