Pesquisadores do Butantan criam molécula para tratar dor crônica

Novo estudo revela peptídeo desenvolvido pelo Butantan e Stanford que alivia a dor crônica em modelos animais, sem efeitos colaterais prejudiciais

11/06/2023 12:27

Pesquisadores do Instituto Butantan, em colaboração com a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, desenvolveram uma molécula promissora no tratamento da dor crônica. De acordo com estudo publicado no Journal of Clinical Investigation, o peptídeo sintetizado a partir de uma mutação no receptor TRPV1 mostrou-se eficaz na redução da dor neuropática.

Fachada do centro de pesquisa biológica Instituto Butantan, no bairro do Butantã, zona oeste da capital.
Fachada do centro de pesquisa biológica Instituto Butantan, no bairro do Butantã, zona oeste da capital. - Rovena Rosa/Agência Brasil

Segundo divulgado pelo Governo do Estado de São Paulo, a dor crônica afeta uma em cada cinco pessoas no mundo, e muitas delas não respondem aos tratamentos atualmente disponíveis. Buscando uma solução inovadora para o problema, os cientistas se basearam em uma mutação no receptor TRPV1, responsável por detectar estímulos nocivos de calor e a sensação de ardência causada pela pimenta. Essa mutação aumenta a resistência à dor sem comprometer a função protetora do receptor.

A pesquisa

O peptídeo desenvolvido pelos pesquisadores se liga ao mesmo local do receptor onde ocorre a mutação, produzindo o mesmo efeito benéfico. Como o receptor TRPV1 desempenha um papel fundamental na regulação da dor, ele tem sido amplamente estudado nesse campo.

Para realizar o estudo, a equipe analisou centenas de mutações desse gene em humanos e em aves, que são conhecidas por sua resistência à capsaicina, um composto presente na pimenta. A mutação denominada K710 mostrou-se especialmente promissora nos testes in vitro.

No entanto, era necessário garantir que a mutação não prejudicasse as funções fisiológicas de proteção do receptor, como controle da temperatura corporal, detecção de calor nocivo e proteção dos sistemas cardiovascular e nervoso.

Uma vez demonstrado o efeito positivo da mutação K710, os pesquisadores buscaram uma forma de alterar a função do receptor de maneira farmacológica, evitando a necessidade de editar geneticamente o DNA. Assim como a mutação, o tratamento com o peptídeo mostrou-se eficiente na redução da dor nos animais testados.

No entanto, o desenvolvimento dessa molécula em laboratório é apenas o começo de uma jornada em direção a um possível novo tratamento para dor crônica. As próximas etapas da pesquisa envolverão testes de toxicidade e a avaliação do peptídeo em outros modelos experimentais.

Novo estudo revela peptídeo desenvolvido pelo Butantan e Stanford que alivia a dor crônica em modelos animais, sem efeitos colaterais prejudiciais
Novo estudo revela peptídeo desenvolvido pelo Butantan e Stanford que alivia a dor crônica em modelos animais, sem efeitos colaterais prejudiciais - Divulgação/Josué Damacena (IOC/Fiocruz)

Os cientistas buscarão maneiras de melhorar a estabilidade, a duração do efeito e a forma de administração da droga, tornando-a mais viável para uso humano, como via oral ou injetável.