Câncer de intestino: conheça os fatores dietéticos que podem influenciar a doença

Conheça as causas, sintomas e estratégias para evitar um dos tipos de câncer mais comuns no mundo

Por Maíra Campos em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
20/06/2025 06:02

O câncer de intestino, também chamado de câncer colorretal, é um dos tipos mais comuns e letais no mundo. Segundo dados da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), ocupa a terceira posição entre os tipos de câncer mais frequentes e é a segunda maior causa de mortes relacionadas à doença em escala global.

Esse tipo de câncer afeta principalmente o cólon e o reto, sendo resultado do crescimento anormal de células nessas regiões. Embora existam fatores genéticos envolvidos, o desenvolvimento da doença também está fortemente associado a aspectos do estilo de vida, especialmente os hábitos alimentares. Entender esses fatores é fundamental tanto para a prevenção quanto para a conscientização da população.

Estes são os fatores dietéticos que podem influenciar o risco de câncer de intestino
Estes são os fatores dietéticos que podem influenciar o risco de câncer de intestino - iStock/kirisa99

Principais fatores de risco

A idade é um dos principais elementos que aumentam o risco para o câncer de intestino. A maior parte dos casos ocorre em pessoas com mais de 50 anos. Além disso, indivíduos com histórico familiar da doença ou que possuem síndromes genéticas, como a síndrome de Lynch e a polipose adenomatosa familiar, têm risco significativamente maior.

Doenças inflamatórias intestinais, como colite ulcerativa e Doença de Crohn, também são fatores de risco bem documentados. Ambas fazem parte do grupo conhecido como Doença Inflamatória Intestinal (DII), que, quando crônica, pode gerar alterações nas células do intestino, favorecendo o desenvolvimento de tumores.

Não são apenas os fatores genéticos e hereditários que contribuem para o surgimento do câncer colorretal. Elementos comportamentais e dietéticos exercem um papel fundamental, e podem ser modificados para reduzir o risco.

A relação direta com a alimentação

Entre os fatores externos, a alimentação se destaca como um dos mais relevantes. Há ampla evidência científica de que certos padrões alimentares podem aumentar ou diminuir o risco de câncer de intestino.

Carnes processadas e o consumo excessivo de gordura saturada são fatores que aumentam o risco de câncer de intestino.
Carnes processadas e o consumo excessivo de gordura saturada são fatores que aumentam o risco de câncer de intestino. - iStock/peakSTOCK

Consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas

Estudos internacionais apontam que uma dieta rica em carnes processadas e carnes vermelhas está associada a um risco elevado de desenvolver câncer colorretal. Carnes processadas — como bacon, presunto, salsicha e linguiça — contêm aditivos como nitratos e nitritos, que durante a digestão podem se transformar em nitrosaminas, compostos reconhecidamente cancerígenos.

Os métodos de preparo, especialmente grelhados e churrascos, liberam substâncias cancerígenas, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e aminas heterocíclicas, capazes de provocar alterações no DNA.

De acordo com o Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer, a eliminação do consumo de carnes processadas poderia evitar milhares de casos da doença por ano — cerca de 6.000 entre homens e 2.500 entre mulheres.

Dietas ricas em gorduras saturadas e trans

O excesso de gorduras, especialmente as saturadas e trans, também tem ligação direta com o aumento do risco. Esse tipo de alimentação favorece o desenvolvimento da obesidade, outro fator de risco reconhecido para o câncer de intestino.

Dietas muito gordurosas estimulam a produção de ácidos biliares no intestino. Quando transformados em ácidos biliares secundários, eles podem atuar diretamente na mucosa intestinal, contribuindo para processos inflamatórios e cancerígenos.

Dietas ricas em fibras auxiliam no bom funcionamento do intestino e podem reduzir significativamente o risco de câncer colorretal.
Dietas ricas em fibras auxiliam no bom funcionamento do intestino e podem reduzir significativamente o risco de câncer colorretal. - iStock/seb_ra

Falta de fibras na dieta

Por outro lado, uma dieta pobre em fibras representa um risco adicional. As fibras, presentes em alimentos como grãos integrais, frutas e vegetais, são essenciais para o bom funcionamento do intestino. Elas promovem o trânsito intestinal adequado, reduzindo o tempo de exposição da mucosa a possíveis agentes cancerígenos.

Fibras insolúveis ajudam no aumento do volume fecal e favorecem a regularidade intestinal. Fibras solúveis colaboram na manutenção de uma microbiota intestinal saudável, o que também é fator protetor contra o câncer.

Álcool: um vilão silencioso

O consumo de bebidas alcoólicas também está na lista dos comportamentos que aumentam o risco de câncer de intestino. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe uma quantidade segura de álcool quando se fala em prevenção de câncer.

Durante o metabolismo do álcool, o organismo produz acetaldeído, uma substância tóxica e cancerígena que pode danificar o DNA e irritar o revestimento intestinal. O álcool também prejudica a absorção de nutrientes protetores, como o folato, essencial na prevenção de alterações celulares.

As diretrizes de saúde recomendam que, caso haja consumo, ele seja limitado a no máximo uma dose diária para mulheres e duas para homens.

Açúcares em excesso também preocupam

Outro ponto relevante é a ingestão excessiva de açúcares simples, muito presentes em refrigerantes, doces, bolos e sobremesas industrializadas. Pesquisas apontam que dietas com alta carga glicêmica estão associadas ao aumento do risco de câncer colorretal, especialmente entre adultos mais jovens.

Um estudo com mais de 190 mil pessoas nos EUA, publicado no *The Journal of Nutrition*, acompanhou os participantes por quase duas décadas. Os resultados mostraram que a alta ingestão de açúcares elevou significativamente o risco de câncer de cólon, especialmente entre indivíduos na faixa dos 45 a 54 anos e na população latina.