Como tratar os sintomas da menopausa em mulheres com câncer de mama
Terapias hormonais não são indicadas para pacientes em acompanhamento oncológico
Manter a saúde íntima durante a menopausa representa um desafio ainda maior para mulheres em tratamento contra o câncer de mama. Isso porque a quimioterapia e os medicamentos que bloqueiam a produção de estrogênio podem antecipar a chegada da menopausa, intensificando sintomas como ressecamento vaginal, ardor e dor durante as relações sexuais.
Esses desconfortos estão relacionados à Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGM), condição que causa secura, inflamação e afinamento do tecido da vagina e do trato urinário inferior. Em pacientes oncológicas, o quadro tende a ser mais severo, já que o uso de terapias hormonais — normalmente indicadas para aliviar esses sintomas —é contraindicado nesse contexto.

“Durante muito tempo, cuidar da saúde íntima de mulheres que tiveram ou têm câncer de mama era um desafio. Agora, felizmente, vivemos um novo momento: a medicina evoluiu e oferece caminhos para que essas pacientes voltem a se sentir bem, confortáveis e confiantes com o próprio corpo”, explica Fernanda Seguro de Carvalho, ginecologista e obstetra do Brasil Private Check-up, núcleo que integra a AFIP.
Avanço promissor
Uma alternativa que já vem sendo adotada em alguns consultórios é o tratamento com laser vaginal. Essa técnica estimula a regeneração da mucosa, combate a atrofia e a flacidez, e promove o aumento da produção de colágeno. O resultado é uma região íntima mais firme, com melhor vascularização e alívio dos sintomas da Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGM), como ressecamento e dor.
“O procedimento é relativamente simples, envolvendo a inserção de um aparelho semelhante ao utilizado em exames de ultrassom transvaginal, que emite pulsos de laser. Por enquanto, esse tratamento está disponível apenas na rede particular”, explica a ginecologista.
Segundo a Sociedade Americana de Menopausa, o uso de dispositivos a laser pode ser uma alternativa valiosa, especialmente para mulheres com alto risco, como aquelas com histórico pessoal ou familiar de câncer de mama ou ovário. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) também confirma os benefícios do laser de CO². Em estudo recente, mulheres com câncer de mama em terapia endócrina apresentaram melhora significativa nos sintomas da SGM após o tratamento.
A pesquisa da Unifesp aponta que o laser pode se tornar uma opção complementar ou substituta à terapia hormonal tópica, especialmente para pacientes que não podem utilizar estrogênio ou preferem métodos não hormonais.
]Opção mais acessível
Os exercícios físicos são hoje considerados uma das estratégias não hormonais mais eficazes para aliviar e prevenir os sintomas da menopausa, inclusive em mulheres em tratamento contra o câncer de mama. Além de atuarem no bem-estar físico, também promovem benefícios emocionais, com respaldo de diversos estudos médicos. Um deles, realizado pela Unesp de Marília (SP) em parceria com instituições locais e a Oxford Brookes University (Inglaterra), avaliou os efeitos da atividade física em mulheres no período pós-menopausa.
Os resultados, publicados em agosto na revista científica Maturitas, vinculada à Sociedade Europeia de Menopausa e Andropausa (EMAS), mostraram melhorias significativas após 12 semanas de prática, três vezes por semana, com acompanhamento profissional.
“O cuidado com a saúde íntima na menopausa não precisa ser complicado. Com tratamentos não hormonais e a prática de exercícios é possível reduzir os sintomas, fortalecer o corpo e viver essa fase com mais conforto e segurança”, conclui médica Fernanda Seguro de Carvalho.