Conheça a doença causada pelo vírus Hendra que preocupa a OMS

Organização Mundial da Saúde concentra esforços de pesquisas nessa infecção por conta de seu potencial de gerar uma nova epidemia

Em maio de 2018, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revisou sua lista de doenças prioritárias, que – por falta de vacina e remédios – podem gerar novas epidemias. Entre elas estava a infecção causada pelo vírus Hendra (HeV).

Nessa mesma lista também era citada uma doença X, provocada por um patógeno até então desconhecido, mas que representava uma ameaça iminente. Após o surgimento do novo coronavírus, muitos cientistas ligaram a tal doença à covid-19. O que ainda não foi comprovado.

Mas diante das ameças de novos surtos mundiais, é preciso ligar o alerta. Assim como o novo coronavírus, o vírus Hendra também é uma zoonose, ou seja, doença que pode ser transmitida a humanos a partir de animais.

Vírus Hendra causa uma infecção que pode ser fatal
Créditos: CSIRO
Vírus Hendra causa uma infecção que pode ser fatal

O vírus foi identificado em 1994, durante o primeiro surto registrado da doença no subúrbio de Hendra, na cidade de Brsibane, na Austrália. Dias após a morte de um cavalo, outros 17 foram diagnosticados com depressão, anorexia, febre, dispneia, taquicardia e corrimento nasal; 14 não resistiram ou foram sacrificados.

Já existe vacina contra o vírus Hendra para cavalos, porém ainda não há imunizante para humanos
Créditos: FatCamera/istock
Já existe vacina contra o vírus Hendra para cavalos, porém ainda não há imunizante para humanos

Duas pessoas que tiveram contato próximo com as secreções mucosas do primeiro cavalo doente apresentaram sintomas semelhantes à gripe. Uma delas se recuperou, mas a outra, um treinador de equinos, morreu.

Ele apresentou pneumonite, insuficiência respiratória, insuficiência renal e trombose arterial.

Registros oficiais, mostram que, desde então houve, morte de mais de 70 cavalos e quatro pessoas. No Brasil, o vírus não foi detectado ainda. Todos os casos ficaram concentrados na Austrália. Entretanto, henipavírus ou
anticorpos para esses vírus foram detectados em morcegos de vários continentes.

Além dos cavalos e dos humanos, outras espécies também podem ser suscetíveis ao vírus Hendra.

De acordo com um estudo do The Center for Food Security & Public Health (CFSPH), foram relatadas raras infecções sem sinais clínicos em cães que foram expostos a cavalos infectados.

Além disso, estudos experimentais mostraram que o vírus Hendra também tem o poder de infectar gatos, porcos, furões, porquinhos-da-índia e hamsters.

Tratamento

Hoje em dia, já existe uma vacina contra o vírus Hendra para cavalos. Porém, não há vacina registrada para prevenir, ou medicamento para tratar a infecção por HeV em humanos.

Para cavalos infectados, também não há terapêutica para essa infecção, apenas terapia de suporte. A política australiana atual é de eutanasiar os cavalos sobreviventes devido às incertezas sobre a persistência do vírus.

Natureza ameaçada impõe riscos maiores

Assim, como o novo coronavírus, os hospedeiros naturais do vírus Hendra são os morcegos. A espécie que funciona como reservatório do HeV é conhecida na Austrália como “raposa voadora”. A saliva e a urina deste animal seria a responsável por infectar o capim que é comido pelos cavalos, que acabam infectados.

Não há dúvidas de que a interferência do ser humano na natureza, particularmente em áreas com alta riqueza biológica, colabora para o aparecimento de doenças infecciosas, algo para o qual cientistas pedem cada vez mais atenção.

O perigo está está na possibilidade desse e outros patógenos pularem do morcego, para outros animais e sofrerem mutações que os deixam mais perigosos, causando doenças ainda desconhecidas.

Embora os morcegos sejam reservatórios de muitos vírus zoonóticos, associar os animais à proliferação dessas doenças é um desserviço segundo especialistas da Fiocruz Mata Atlântica, já que o extermínio das populações de morcegos pode levar à interrupção de importantes serviços ecossistêmicos prestados por esses animais.