Conheça o distúrbio silencioso que pode matar em minutos
A disfagia afeta a capacidade de engolir e pode causar morte por engasgo em segundos — especialmente entre idosos e crianças pequenas.
Uma simples refeição pode se transformar em uma emergência —especialmente para idosos e crianças pequenas. Segundo dados oficiais, pelo menos cinco pessoas morrem por dia no Brasil vítimas de engasgo. Muitas dessas mortes estão associadas à disfagia, um distúrbio ainda pouco conhecido, mas extremamente perigoso, que compromete a capacidade de engolir corretamente.
Em 2023, mais de 2 mil brasileiros perderam a vida após episódios de engasgo. Mais da metade das vítimas tinha mais de 65 anos. No mesmo período, 319 crianças entre 0 e 4 anos também morreram pelo mesmo motivo. Os dados do Ministério da Saúde revelam um cenário alarmante: muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas com diagnóstico precoce e medidas de prevenção.

“A disfagia é frequentemente subdiagnosticada, mas pode ter consequências gravíssimas”, alerta a médica Luciana Costa, especialista em disfagia do Hospital Paulista. “Ela aumenta significativamente o risco de engasgo, algo que, entre idosos e crianças pequenas, pode ser fatal em poucos minutos.”
Engolir é mais complexo do que parece
O ato de engolir envolve mais de 50 músculos, nervos e mecanismos que precisam funcionar em perfeita sincronia. Quando algo falha nesse processo, partículas de comida ou líquido podem seguir para as vias respiratórias, provocando tosse, engasgos e, em casos extremos, obstrução total e morte por asfixia.
“É um risco que muitas vezes passa despercebido no cotidiano”, explica Luciana. “Principalmente em ambientes familiares, onde há menos atenção aos sinais de alerta.”
A disfagia pode surgir com o envelhecimento, mas também é comum após AVCs, doenças neurológicas como Parkinson e Alzheimer, câncer de cabeça e pescoço, e até como sequela de intubação —algo que se tornou mais frequente após a pandemia. Crianças pequenas também estão vulneráveis, pois ainda não desenvolveram completamente o reflexo da deglutição.
Prevenção começa no prato
A boa notícia é que muitos casos podem ser evitados com cuidados simples. “Alterar a consistência dos alimentos, respeitar o ritmo da alimentação e manter supervisão constante são medidas fundamentais para reduzir os riscos”, orienta a médica do Hospital Paulista
A especialista ainda alerta para sinais importantes que indicam possível disfagia: tosse frequente durante as refeições, sensação de alimento parado na garganta, perda de peso sem causa aparente, voz “molhada” após beber líquidos, e pneumonias de repetição.
Dicas para reduzir o risco:
- Sirva alimentos com a consistência adequada, especialmente para idosos e crianças;
- Supervisione todas as refeições de pessoas em risco;
- Evite que a pessoa fale ou ria durante a alimentação;
- Mantenha a postura ereta durante e após as refeições;
- Evite oferecer alimentos sólidos ou duros a crianças pequenas sem supervisão.
Sinais de alerta da disfagia:
- Tosse ou engasgo ao comer ou beber
- Mudança na voz após a alimentação
- Sensação de alimento preso na garganta
- Pneumonias recorrentes
- Perda de peso inexplicada
E se o pior acontecer?
Saber agir é essencial. “Todo adulto deveria conhecer a manobra de Heimlich. Pode salvar vidas até a chegada do SAMU”, afirma a especialista.