Ciência aponta relação entre covid-19 e regressão do câncer; entenda

Estudo sugere que a covid-19 pode ativar células imunes com propriedades anticâncer, abrindo novas possibilidades para tratar tumores resistentes

27/11/2024 14:15

Um novo estudo, publicado no The Journal of Clinical Investigation, sugeriu que a infecção pelo vírus Sars-CoV-2, causador da covid-19, pode desencadear mecanismos no sistema imunológico capazes de levar à regressão do câncer.

Relação entre covid-19 e regressão do câncer
Relação entre covid-19 e regressão do câncer - koto_feja/istock

Os pesquisadores da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos, identificaram um tipo de célula imune com propriedades anticâncer que poderiam ser aproveitadas para tratar câncer resistentes às terapias tradicionais. 

O que os cientistas descobriram?

Durante a covid-19, o RNA do vírus ativa sinais no sistema imunológico, promovendo a transformação de monócitos comuns — um tipo de glóbulo branco — em células imunológicas chamadas “monócitos não clássicos induzíveis” (I-NCMs).

Essas células têm habilidades especiais que as diferenciam de outras do sistema imune: elas conseguem alcançar os tecidos onde os tumores crescem e atuar diretamente contra as células cancerígenas.

Ao penetrar nos tecidos tumorais, os I-NCMs liberam substâncias químicas que atraem células assassinas naturais (NK cells). Essas células invadem os tumores e atacam as células malignas, o que pode levar à regressão do câncer.

O estudo, realizado em modelos animais e tecidos humanos, observou, ainda, que pequenas moléculas farmacológicas podem desencadear o mesmo processo imunológico visto em casos graves de covid-19.

“Descobrimos que as mesmas células ativadas pela covid-19 grave poderiam ser induzidas com um medicamento para combater o câncer, e vimos especificamente uma resposta com melanoma, câncer de pulmão, mama e cólon no estudo. Embora isso ainda esteja nos estágios iniciais e a eficácia tenha sido estudada apenas em modelos animais pré-clínicos, isso oferece esperança de que possamos usar essa abordagem para beneficiar pacientes com cânceres avançados que não responderam a outros tratamentos”, explicou Ankit Bharat, um dos autores do estudo, em comunicado divulgado pela universidade.

Quando essa descoberta pode virar tratamento?

Apesar do potencial inovador, os cientistas ressaltam que a pesquisa ainda está em estágio inicial e foi realizada em condições laboratoriais. Ensaios clínicos serão necessários para testar a segurança e eficácia da técnica em humanos.

Segundo Bharat, o objetivo é avançar para estudos clínicos, mas isso deve levar tempo até que a abordagem seja aplicada em ambientes clínicos.

“Estamos nos estágios iniciais, mas o potencial para transformar o tratamento do câncer está lá. Nossos próximos passos envolverão ensaios clínicos para ver se podemos usar essas descobertas de forma segura e eficaz para ajudar pacientes com câncer”, defendeu.