Creatina pode ajudar no tratamento da depressão, diz estudo

Substância conhecida pelo uso esportivo pode ter efeitos positivos no tratamento da depressão

Por Wallace Leray em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
21/02/2025 14:02 / Atualizado em 25/02/2025 11:45

A creatina monohidratada é amplamente conhecida por seu uso no meio esportivo, especialmente entre fisiculturistas e atletas de alto desempenho. No entanto, um estudo recente publicado no Science Direct sugere que essa substância pode ter um novo e promissor papel na saúde mental.

De acordo com os pesquisadores, a suplementação diária de creatina, quando aliada à Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), pode contribuir significativamente para a redução dos sintomas da depressão, com efeitos colaterais mínimos.

Creatina pode ajudar no tratamento da depressão, diz estudo
Creatina pode ajudar no tratamento da depressão, diz estudo - iStock/LeoPatrizi

O que é a creatina e como ela age no cérebro?

A creatina é um composto naturalmente produzido pelo corpo e encontrado em alimentos ricos em proteínas, como carne vermelha e peixes. Sua principal função é fornecer energia para as células, sendo essencial para músculos e também para o cérebro, um dos órgãos que mais consome energia no organismo.

Estudos recentes indicam que a creatina pode desempenhar um papel importante na regulação do humor e na resposta ao estresse. Como o cérebro depende de altos níveis de energia para funcionar corretamente, a suplementação desse composto pode melhorar sua atividade metabólica, favorecendo o tratamento de transtornos psicológicos, como a depressão.

Estudo revela impacto positivo no tratamento da depressão

O estudo analisou 100 pacientes com idades entre 18 e 60 anos, todos diagnosticados com depressão. Eles foram divididos em dois grupos:

  • O primeiro grupo recebeu uma dose diária de 5 g de creatina monohidratada e participou de sessões de TCC quinzenais.
  • O segundo grupo recebeu um placebo e também passou pelas sessões de TCC.

Após 8 semanas de tratamento, ambos os grupos apresentaram melhora nos sintomas depressivos. No entanto, os pacientes que receberam creatina combinada com a TCC tiveram uma redução mais expressiva na gravidade da depressão. Além disso, 24% dos participantes que tomaram creatina atingiram remissão completa dos sintomas, em comparação com apenas 10% do grupo placebo.

Este estudo se diferencia dos anteriores porque, ao invés de avaliar a creatina como um complemento a medicamentos antidepressivos, ele analisou seu efeito quando combinada com uma intervenção psicológica, a TCC.

A creatina, além de auxiliar no desempenho físico, pode ter benefícios para a saúde mental.
A creatina, além de auxiliar no desempenho físico, pode ter benefícios para a saúde mental. - iStock/Thiago Santos

Como a creatina pode potencializar a TCC?

Os pesquisadores sugerem que a relação entre a creatina e a TCC pode estar ligada ao funcionamento do córtex pré-frontal, região do cérebro essencial para os processos cognitivos e emocionais. Estudos anteriores apontam que baixos níveis de creatina nessa área podem estar associados a sintomas depressivos. Dessa forma, a suplementação poderia restaurar esses níveis, tornando a terapia psicológica mais eficaz.

Estudo mostra que a suplementação com creatina pode contribuir para o tratamento da depressão.
Estudo mostra que a suplementação com creatina pode contribuir para o tratamento da depressão. - iStock/Djavan Rodriguez

Efeitos colaterais e segurança

A creatina já é amplamente estudada e tem um perfil de segurança bem estabelecido. No estudo, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos em relação a eventos adversos. Os efeitos colaterais mais comuns foram desconforto gastrointestinal e dores musculares, que diminuíram com o tempo conforme os pacientes se adaptaram à suplementação.

Os pesquisadores ressaltam que mais estudos são necessários para entender se a creatina pode beneficiar outros tipos de tratamentos psicológicos. No entanto, os resultados obtidos até agora indicam que essa substância pode representar um novo caminho para tornar a psicoterapia ainda mais eficiente no combate à depressão.

Anedonia: o sintoma ignorado da depressão que afeta 75% dos pacientes

A anedonia, caracterizada pela perda de interesse ou prazer em atividades antes apreciadas, é um sintoma frequentemente negligenciado da depressão. De acordo com a matéria da Catraca Livre, cerca de 75% dos adultos e jovens com depressão experimentam essa condição, que impacta significativamente a qualidade de vida. Saiba mais aqui!