Cresce o número de casos de HIV no Brasil
O preconceito ainda é uma das causas
Um dos primeiros países entre os de baixa e média renda a oferecer o tratamento antirretroviral para pessoas que viviam com o vírus do HIV, o Brasil vem enfrentando um dilema quanto aos números exponenciais de novos infectados desde 2007.
De acordo com o Boletim Epidemiológico mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde, em torno de 798 mil casos foram detectados no país, considerado um dos pioneiros na luta contra a doença, desde o início da epidemia a junho de 2015. Um aumento de mais de 90 mil casos em dois anos. A média entre 2007 e 2013 era de até 39 mil casos por ano.
De modo geral, até junho de 2014, era estimado que no Brasil a porcentagem de pessoas que vivem com HIV é de 0,4% e 0,7%. Porém, algumas populações específicas são mais afetadas que outras. Entre os chamados homens que fazem sexo com homens (HSH) e homossexuais do sexo masculino, essa proporção chega a 10,5%, segundo estatísticas da Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS). Já as profissionais do sexo ficam com 4,9% do total de infectados no Brasil.
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Mesmo que esteja claro atualmente que a resposta de que a Aids não é uma “peste gay”, os números indicam que os LGBTTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis) formam o grupo de maior risco. No entanto, é importante frisar que o risco é para todos, independentemente da orientação sexual.
De que forma o preconceito atrapalha essa luta?
Durante o 10º Congresso de HIV/AIDS, que aconteceu em João Pessoa (PB), de 17 a 20 de novembro, o centro dos debates abordaram o preconceito como estigma da prevenção: é preciso acabar com a discriminação da doença para chegar à meta 90-90-90, proposta pela Unaids. Essa meta pretende chegar no ano de 2020 com 90% das pessoas vivendo com HIV corretamente diagnosticadas; destas, que 90% estejam em tratamento; e que, das pessoas em tratamento, 90% apresentem carga viral indetectável.
Um dos exemplos para acabar com a discriminação é a criação de projetos de apoio aos grupos vulneráveis, como por exemplo, a aprovação do uso do nome social no sistema público de saúde para que transexuais e travestis não se sintam violadas ao serem chamadas pelo nome de registro e com isso interrompam suas consultas, exames e até mesmo tratamentos.
A exemplo de outros países da América Latina, é necessário também que o Brasil comece a mensurar os níveis de discriminação que ocorrem por aqui. Em nota sobre o congresso na Paraíba divulgada no site da UNAIDS, a Diretora do Programa no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, comentou sobre essa necessidade. “O Índice de Estigma sobre HIV/AIDS é um instrumento importante para a construção de políticas públicas nesta área, já que nos mostra muitos dos principais obstáculos a superar e nos indica também os caminhos possíveis para isso.”
Boas notícias
Entretanto, não são apenas números ruins que o Brasil tem a mostrar quanto ao HIV e a AIDS. Comparado à meta 90-90-90, o país se mostra empenhado em alcançá-la: com base no último boletim epidemiológico, com dados de 2014, nota-se que do total de pessoas vivendo com HIV, 83% já foram diagnosticadas. Deste número, 62% estão em tratamento; e dessas, cerca de 88% apresentam carga viral indetectável.
É um caminho árduo, mas que o Brasil enfrenta com bom desempenho. No país hoje existe uma das maiores coberturas de tratamento antirretroviral (TARV) do mundo. Enquanto a média global é de 41%, mais da metade das pessoas vivendo com HIV aqui recebem o coquetel de medicamentos gratuitamente. Basta agora o empurrãozinho para quebrar os preconceitos enraizados em nossa sociedade e chegarmos a 2020 com todas as metas alcançadas e a epidemia da AIDS controlada.