Diagnosticada com linfoma não Hodgkin aos 38 anos, analista de RH precisou de 15 bolsas de sangue para continuar viva
Após vencer um câncer, Carolina compartilha sua história para incentivar a doação de sangue
Durante quatro meses, a rotina da analista de Recursos Humanos Carolina Temponi, de 42 anos, girou em torno de um tratamento oncológico intenso. Diagnosticada com linfoma não Hodgkin aos 38 anos, ela precisou receber 15 bolsas de sangue e plaquetas para seguir viva. Moradora de Belo Horizonte, Minas Gerais, ela conta como a transfusão de sangue foi muito importante em sua recuperação — e como essa experiência mudou sua relação com o tema da doação.

O susto no início do tratamento
Logo no início do tratamento, Carolina foi informada de que poderia precisar de transfusões sanguíneas. Mesmo assim, o momento em que precisou, de fato, receber sangue, foi marcado pelo medo.
“Eu senti medo. Estava no primeiro ciclo de quimioterapia e, apesar de saber que eu poderia precisar de transfusão, achei que já tinha começado mal o meu tratamento”, relembra, em entrevista à Catraca Livre, para o especial de Junho Vermelho, campanha em conscientização de doação de sangue.
O processo se repetiu várias vezes. Durante os quatro meses de quimioterapia, Carolina fez diversas transfusões, tanto de sangue quanto de plaquetas. “Não realizar as transfusões trazia riscos para mim, pois eu estava bem debilitada”, afirma. Além do tratamento contra o câncer, ela também contraiu COVID-19, o que demandou mais uma transfusão durante sua internação.
Sintomas e tratamento do linfoma não Hodgkin
O linfoma não Hodgkin é um tipo de câncer que se origina nos linfócitos, células de defesa do sistema imunológico, e pode se manifestar em qualquer parte do corpo onde há tecido linfático. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), os sintomas incluem aumento indolor dos linfonodos (ínguas), febre persistente, perda de peso não intencional, suores noturnos intensos, cansaço e coceira na pele. A manifestação pode variar bastante dependendo do subtipo da doença.
O tratamento envolve, principalmente, quimioterapia, mas pode incluir imunoterapia, radioterapia e, em alguns casos, transplante de medula óssea. O prognóstico depende do tipo específico de linfoma, da idade do paciente e do estágio da doença. Segundo o INCA, embora existam formas agressivas, os avanços nos tratamentos têm aumentado as chances de controle e cura, principalmente quando o diagnóstico é feito precocemente.

O impacto direto da doação na vida de pacientes
A cada nova transfusão, Carolina sentia uma melhora imediata em seu estado de saúde. “Após a transfusão, eu já me sentia melhor. E o medo que senti da primeira vez deu espaço para o alívio em saber que faria outras transfusões quando tivesse necessidade”, conta.
Segundo o Ministério da Saúde, uma única doação pode salvar até quatro vidas. Dados da pasta mostram que cerca de 1,6% da população brasileira doa sangue regularmente — número considerado dentro dos parâmetros recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que sugere que entre 1% e 3% da população de um país seja doadora para garantir o abastecimento adequado dos bancos de sangue.
No entanto, sazonalmente, os estoques ficam em níveis críticos. Em datas como feriados prolongados e períodos de inverno, por exemplo, os bancos de sangue sofrem com quedas no número de doações.
A mudança de perspectiva
Carolina afirma que sempre soube da importância da doação de sangue. No entanto, estar do outro lado, como paciente, foi transformador. “Estar na posição de quem está precisando do sangue de um doador fez mudar a minha relação com o tema”, diz. Por conta do seu histórico clínico, ela não poderá se tornar doadora, mas faz questão de incentivar quem pode: “Incentivo todos que conheço a tornarem-se doadores”.
A analista acredita que muitas vidas só continuam graças à solidariedade de pessoas anônimas que se dispõem a doar. “Muitas pessoas só estão vivas hoje porque receberam sangue de um doador”, reforça.
Campanha e rede de apoio
Durante sua internação, Carolina lançou uma campanha para arrecadar doações de sangue. A resposta foi maior do que o esperado. “Fiquei surpresa com a quantidade de doadores que conseguimos. Muitos amigos doaram, mas o que realmente me surpreendeu foi receber contato de pessoas que eu não conhecia informando que doariam sangue para mim.”
Uma das histórias que mais a emocionaram foi a de uma jovem estagiária do hospital onde ela estava internada. “Ela me procurou para dizer que faria uma doação especialmente para mim”, relembra.
O marido de Carolina também foi impactado. Ele doou sangue pela primeira vez por causa da esposa e, desde então, se tornou doador regular.

Um agradecimento que salva vidas
Se pudesse encontrar todas as pessoas que contribuíram diretamente para sua recuperação, Carolina saberia exatamente o que dizer: “Obrigada por salvar a minha vida e de tantas outras pessoas! Que você receba em dobro todo o bem que faz! Hoje eu estou saudável, feliz e já realizei muitos sonhos depois que você me ajudou”.
Como doar sangue
Para doar sangue no Brasil, é necessário:
- Ter entre 16 e 69 anos (menores de 18 precisam de autorização por escrito dos responsáveis);
- Pesar mais de 50 kg;
- Estar em boas condições de saúde no dia da doação;
- Estar descansado, alimentado e apresentar documento oficial com foto.
- Homens podem doar a cada dois meses (até 4 vezes por ano) e mulheres, a cada três meses (até 3 vezes por ano). O processo leva cerca de 40 minutos.
Os interessados podem procurar o hemocentro mais próximo consultando o site do Ministério da Saúde (gov.br/saude) ou diretamente no site da Hemorrede Nacional de Sangue, que reúne contatos e endereços dos principais bancos de sangue do país. Aplicativos de serviços públicos, como o Conecte SUS, também oferecem localizações de hemocentros com agendamento disponível em algumas cidades.