Doença obriga rapaz a comer apenas 3 alimentos por 20 anos

Imagine passar a maior parte da vida sem saber o gosto de quase nenhum alimento. Essa é a realidade de Ben Sutter, um norte-americano que só começou a experimentar sabores aos 24 anos. Por conta de uma condição rara chamada gastroenterite eosinofílica (GEE), seu corpo reagia negativamente à maioria das comidas, como se fossem ameaças.

Durante quase toda a vida, Ben viveu com uma dieta extremamente restrita: apenas batata, arroz e milho — e mesmo assim, em formas específicas, como chips, que eram mais bem tolerados. Dos 3 aos 16 anos, sua alimentação era feita por sonda. Depois, passou a consumir exclusivamente sucos formulados nutricionalmente, carregando caixinhas por onde fosse.

Apesar das limitações, Ben cresceu rodeado pela família. Participava das refeições com todos, mesmo sem comer. Em festas, a criatividade da mãe ajudava a incluir o filho nas celebrações: certa vez, ela transformou algodão-doce — uma das poucas coisas que ele podia consumir — em um “bolo” de aniversário.

A virada com um novo tratamento

Aos 20 anos, Ben iniciou o uso de um medicamento que ajuda a controlar a inflamação causada pela GEE. O efeito foi transformador: em pouco tempo, exames mostraram melhora significativa, e ele foi autorizado a testar novos alimentos com mais segurança.

O primeiro contato com comida de verdade foi acompanhado de tensão. “Lembro de suar só de olhar para uma cenoura e um pedaço de aipo”, contou. A torrada foi uma das primeiras descobertas positivas. Já a maçã, apesar de promissora, o decepcionou pela textura pegajosa.

Desde então, ele compartilha suas experiências no TikTok, onde viraliza com vídeos reagindo a sabores que para muitos são banais, mas que para ele são completamente novos.

Viver com GEE: desafios e descobertas

A GEE é uma doença inflamatória do trato gastrointestinal causada por uma reação exagerada do sistema imunológico a certos alimentos. Em muitos casos, o tratamento exige dietas restritivas e longos processos de teste. Antes do novo remédio, Ben precisava consumir o mesmo alimento por meses e, ao fim, realizar uma endoscopia para avaliar se poderia mantê-lo na dieta.

Por ter passado tantos anos sem ingerir grandes volumes de comida, seu estômago permanece pequeno. Uma refeição simples, como um sanduíche leve, já é suficiente para saciá-lo — e pode levar até meia hora para ser consumida.

Hoje, Ben está reaprendendo tudo sobre alimentação: desde o hábito de sentar para comer até noções básicas de culinária. Apesar disso, ele reforça que sempre teve uma vida rica: estudou, viajou, se casou e foi muito apoiado pela família. Para ele, a vida vai além da comida — mas cada nova mordida agora carrega um sabor especial de conquista.