É mito ou verdade? 10 coisas que você precisa saber sobre HIV
Só gay pega? HIV e Aids têm diferença? É possível viver com a doença?
Dezembro Vermelho vem aí, mês que busca conscientizar o mundo todo sobre prevenção e combate ao vírus do HIV e à Aids. Tratado como tabu, muitas dúvidas rodeiam esse tema tão importante, e a maioria das respostas que circulam no boca a boca, pode apostar, estão erradas ou equivocadas.
Para esclarecer seus questionamentos, caro leitor, o Catraca Livre foi atrás dessas respostas com quem realmente sabe do assunto e vive isso na pele – ou melhor, no sangue! Conversamos com Gabriel Estrëla, soropositivo e coordenador do Projeto Boa Sorte, que difunde informações sobre a doença. Se liga:
- HIV e Aids são a mesma coisa
Mito. “O HIV é um vírus que causa uma infecção. A infecção por HIV, se não for controlada, leva à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) que é um quadro em que o CD4 (um tipo de células de defesa do organismo) está em níveis baixos e, por isso, surgem co-infecções, chamadas de doenças oportunistas. Todo mundo que está com Aids tem o vírus, mas nem todo mundo que vive com HIV vai desenvolver Aids. Hoje em dia, o tratamento consegue, na maioria dos casos, promover saúde com conforto e dignidade para os pacientes nunca desenvolverem o quadro e, mesmo que desenvolvam, há alternativas para reverter o caso de Aids.”
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- Quem tem Aids é magrelo e cheio de manchas
Mito. “As duas principais características físicas dos casos de Aids das décadas de 1980 e 1990 eram manchas no corpo, causadas por um câncer raro de pele chamado sarcoma de Kaposi, e a lipodistrofia, um acúmulo incomum da gordura do corpo e face causado por um remédio. Hoje em dia, com o tratamento, o câncer voltou a ser raro, enquanto os medicamentos evoluíram e não causam mais a lipodistrofia.”
- Aids é doença de “viado”
Mito dos mitos. “Qualquer pessoa que faça sexo [pode adquirir o vírus]. Homens e mulheres, heterossexuais, homossexuais e bissexuais – realmente não importa o que (ou quem, ou como) você faz na cama, se for sem proteção, há o risco de transmissão.”
- Só pega Aids se houver penetração
Mito. “Quando falamos de HIV não podemos ser hipócritas quanto às nossas práticas sexuais. Nunca ouvi falar, durante este tempo de ativismo e oficinas em escolas, de pessoas que façam sexo oral com camisinha. O que sempre ressalto é que, no sexo oral, a chance de pegar HIV é pequena, mas há outras doenças, como a sífilis, que são preocupantes e transmitem por essa via com mais facilidade. Não podemos basear nossa prevenção só no HIV ou na possibilidade de engravidar. Usar a camisinha é uma escolha – mas ela tem de ser consciente de todos os riscos envolvidos.”
- É melhor ter HIV para poder transar sem camisinha sempre
Really? MITO. “Ter HIV não isenta automaticamente a necessidade de usar camisinha. Primeiro, você pode se infectar com outras DSTs e isso pode comprometer muito o tratamento. Segundo, você pode infectar outras pessoas. Por mais que eu viva bem com o vírus, não desejo a ninguém passar pelo processo que eu passei. Contrair HIV não é só se infectar com um vírus – é também vestir na pele os estigmas de três décadas de epidemia. Não deve ser tomado de forma leviana.”
- Pode beijar, abraçar e amar o coleguinha soropositivo
Verdade. “É assustador que ainda hoje as pessoas tenham essa dúvida – mas elas têm mesmo, e nunca devemos culpá-las por não ter informação. Não é NEM UM POUCO arriscado beijar, abraçar, tocar, compartilhar copos e talheres, roupas de cama e toalhas com uma pessoa vivendo com HIV.”
- Se o exame de sangue deu negativo, posso ficar de boa
Mito. “O teste de HIV não é imunizante. Ainda não existe vacina. E o vírus não é a única infecção que a atividade sexual de risco pode transmitir. Não dá pra ficar “sossegado”, porque sempre existiu e vão existir sífilis, gonorreia, HPV, herpes, clamídia… Sem falar no coração da gente – sexo [sem proteção] nunca vai ser 100% seguro!”
- Os remédios são gratuitos
Verdade. “Os antirretrovirais para tratamento do HIV são gratuitos. A PEP é gratuita, e a PrEP (tratamento contínuo para evitar a infecção por HIV, de forma similar à pílula anticoncepcional) quando chegar ao mercado brasileiro também será gratuita.”
- Transei sem camisinha. Agora tenho HIV!
Não é verdade, mas fique de olho! “Transar sem camisinha pode sim expor ao HIV, ou seja, colocar você em contato com o vírus. A infecção vai depender da quantidade de vírus a que você foi exposto, o tipo de vírus e o seu próprio organismo. Na dúvida, as pessoas podem procurar a PEP (tratamento de 28 dias que não deve ser usado de forma contínua, e se mostrou eficiente em evitar a infecção por HIV) em até 72 horas após uma relação sexual de risco.”
- É impossível viver bem com a doença
Bullshit! “O que não dá é pra viver com o preconceito. Os medicamentos evoluíram muito, e temos no Brasil várias opções. O problema é o preconceito, que cria barreiras ao tratamento. Inclusive, quando o gay é tachado de ‘grupo de risco’, o heterossexual sofre também, uma vez que o hétero deixa de fazer teste porque não entende que está vulnerável – ele esconde sua sorologia porque não quer ser tachado de gay. O machismo e a homofobia fazem vítimas em todos nós, mesmo os que praticam, mesmo os que não entendem o quanto nossa sociedade está ferida por esses atrasos.”