Estudo aponta que novo tratamento contra tumores pode salvar pacientes com câncer

Pesquisadores modificam células tumorais para que o corpo as reconheça e combata de maneira eficiente

Por Wallace Leray em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
22/02/2025 15:05

Uma pesquisa inovadora, publicada na revista científica Cells, apresenta um novo método para combater o câncer, incluindo casos metastáticos e terminais. A técnica, baseada em engenharia genética, modifica as células tumorais para que o sistema imunológico consiga identificá-las e eliminá-las com mais eficiência. Os testes mostraram resultados positivos tanto em experimentos com animais quanto em pacientes humanos.

Estudo aponta que novo tratamento contra tumores pode salvar pacientes com câncer
Estudo aponta que novo tratamento contra tumores pode salvar pacientes com câncer - iStock/Mohammed Haneefa Nizamudeen

Uma estratégia inspirada em xenotransplantes

O ponto de partida para essa abordagem veio de estudos sobre xenotransplantes, que envolvem a utilização de órgãos de porcos em humanos. Uma das principais dificuldades desses procedimentos é a forte resposta imunológica do organismo contra os tecidos transplantados, que são rapidamente atacados e rejeitados pelo corpo.

A partir dessa observação, os cientistas desenvolveram um vírus modificado capaz de induzir as células cancerígenas a produzir açúcares específicos encontrados em células de porcos. Esse processo faz com que o sistema imunológico reconheça os tumores como corpos estranhos e os ataque com mais intensidade.

Cientistas analisam células tumorais modificadas geneticamente para testar a nova abordagem terapêutica.
Cientistas analisam células tumorais modificadas geneticamente para testar a nova abordagem terapêutica. - iStock/koto_feja

Superando o desafio do reconhecimento imunológico

Uma das principais dificuldades no tratamento do câncer é que as células tumorais se originam do próprio organismo, dificultando sua identificação pelo sistema imunológico. Com a modificação genética proposta nesse estudo, essa barreira é superada, pois as células cancerosas passam a apresentar características que as diferenciam das saudáveis. Assim, o corpo passa a reagir de forma mais agressiva contra elas, aumentando as chances de eliminação do tumor.

Resultados promissores em macacos e humanos

Os primeiros testes foram realizados em macacos Fascicularis, uma espécie cuja fisiologia é bastante semelhante à humana. Os animais foram induzidos ao câncer de fígado e divididos em dois grupos: um recebeu o vírus modificado, enquanto o outro recebeu um placebo. O grupo controle sobreviveu, em média, por quatro meses, enquanto todos os macacos tratados com a nova terapia viveram por mais de seis meses.

Na fase de testes clínicos com humanos, 23 pacientes com câncer avançado e resistente a tratamentos convencionais participaram do estudo. Entre os tipos de câncer incluídos estavam fígado, pulmão, mama e ovário. Após três anos de acompanhamento, os resultados foram animadores:

  • 1 paciente teve remissão completa;
  • 8 apresentaram redução significativa dos tumores;
  • 12 mantiveram a doença estável, sem progressão;
  • Apenas 2 não responderam ao tratamento.

Próximos desafios e perspectivas

Apesar dos avanços significativos, os pesquisadores alertam que a técnica ainda precisa ser aperfeiçoada antes de sua aplicação em larga escala. Um dos principais desafios é evitar reações imunológicas excessivas, que poderiam levar o organismo a atacar tecidos saudáveis.

O virologista Masmudur Rahman, da Universidade do Arizona, destacou a importância de mais estudos: “Os resultados são encorajadores, mas precisamos compreender melhor quais pacientes se beneficiarão mais dessa abordagem e garantir sua segurança a longo prazo”.

A equipe liderada por Yongxiang Zhao já planeja avançar para as fases 2 e 3 dos testes clínicos, envolvendo um número maior de pacientes. O objetivo é confirmar a eficácia e segurança do tratamento em diferentes tipos de câncer, abrindo novas possibilidades para o combate à doença.

Macacos tratados com a técnica inovadora apresentaram aumento significativo na sobrevida em testes laboratoriais.
Macacos tratados com a técnica inovadora apresentaram aumento significativo na sobrevida em testes laboratoriais. - iStock/koto_feja

Cânceres silenciosos: a importância do diagnóstico precoce

Alguns tipos de câncer, como de ovário, fígado, pâncreas e rim, podem se desenvolver de forma silenciosa, alerta a Catraca Livre. Sintomas inespecíficos dificultam a detecção precoce, o que reforça a necessidade de exames regulares e atenção a sinais como perda de peso, cansaço extremo e alterações digestivas. O diagnóstico precoce é importante para aumentar as chances de tratamento. Veja mais aqui!