Estudo da USP revela que hipertensão prejudica sêmen ainda na fase jovem
Realizado pelo ICB-USP, o estudo mostrou que os prejuízos à fertilidade podem surgir ainda em fases iniciais da vida
Fatores de risco para a fertilidade masculina podem se manifestar muito antes da idade avançada. Uma nova pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) revelou que a hipertensão arterial, mesmo na juventude, tem potencial de causar impactos profundos e duradouros na qualidade do sêmen.

Realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), o estudo mostrou que os prejuízos à fertilidade podem surgir ainda em fases iniciais da vida e persistir por toda a vida adulta. Essas alterações ocorrem antes mesmo do envelhecimento e não são totalmente revertidas por medicamentos tradicionais.
Alterações precoces e persistentes no sêmen
O estudo foi liderado pelo professor Stephen Rodrigues, do ICB-USP, e publicado na revista científica Scientific Reports, com apoio da FAPESP. A equipe analisou ratos em diferentes faixas etárias, desde os mais jovens (equivalentes a 18 anos humanos) até os mais velhos (aproximadamente 50 anos humanos).
Foram observados efeitos preocupantes, como a redução na concentração de espermatozoides e danos ao acrossoma — estrutura fundamental para a penetração do óvulo. Essas alterações surgem cedo e se mantêm ao longo da vida reprodutiva.
Segundo o professor Rodrigues, “esses resultados mostram que a hipertensão arterial tem um impacto reprodutivo que começa muito cedo e persiste durante toda a fase adulta. Mesmo períodos relativamente curtos de exposição a níveis elevados de pressão arterial já são suficientes para causar danos irreversíveis”.

Medicamentos nem sempre recuperam a fertilidade
A equipe também avaliou o efeito de medicamentos anti-hipertensivos sobre a saúde reprodutiva. A losartana, um dos fármacos mais utilizados, foi eficaz na redução da pressão arterial, mas não conseguiu restaurar a qualidade do sêmen.
Por outro lado, a prazosina — um antagonista do receptor alfa-adrenérgico — mostrou resultados mais promissores, corrigindo parte das alterações observadas nos espermatozoides. “Esse achado sugere que apenas reduzir a pressão arterial não é suficiente para proteger a saúde reprodutiva. A combinação de agentes que reduzem a mortalidade com outros que preservem a função reprodutiva pode ser um caminho promissor”, disse Rodrigues.
Impactos ainda não totalmente compreendidos
Apesar dos avanços, muitos aspectos da relação entre hipertensão e fertilidade ainda não são completamente compreendidos. A equipe planeja investigar com mais profundidade o epidídimo — região responsável por armazenar os espermatozoides antes da ejaculação.
Além disso, será analisado o papel da atividade física na melhora da qualidade do sêmen e da microcirculação testicular. “Queremos entender se intervenções não farmacológicas, como o exercício, podem oferecer benefícios similares aos dos medicamentos, promovendo melhorias na saúde reprodutiva de forma natural”, contou o professor.
Hipertensão e fertilidade masculina: uma conexão global
O estudo também ressalta a importância de compreender o impacto sistêmico da hipertensão, uma condição crônica que afeta milhões de pessoas no mundo. A infertilidade masculina está crescendo, e entender seus gatilhos é essencial para prevenir riscos futuros.
Rodrigues ainda destaca que “um dado alarmante é que, nos últimos 50 anos, tem se observado uma redução de cerca de 50% de espermatozoides presentes no sêmen, em indivíduos hipertensos ou não. Ainda não se sabe ao certo as causas do fenômeno, ou se ele vai começar a comprometer a reprodução da espécie no futuro. Por isso, todo estudo é bem-vindo, seja para reverter ou impedir que essa redução aumente”.