Estudo da USP revela que hipertensão prejudica sêmen ainda na fase jovem

Realizado pelo ICB-USP, o estudo mostrou que os prejuízos à fertilidade podem surgir ainda em fases iniciais da vida

28/05/2025 06:03

Fatores de risco para a fertilidade masculina podem se manifestar muito antes da idade avançada. Uma nova pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) revelou que a hipertensão arterial, mesmo na juventude, tem potencial de causar impactos profundos e duradouros na qualidade do sêmen.

Estudo da USP revela que hipertensão prejudica sêmen ainda na fase jovem
Estudo da USP revela que hipertensão prejudica sêmen ainda na fase jovem - iSTock

Realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), o estudo mostrou que os prejuízos à fertilidade podem surgir ainda em fases iniciais da vida e persistir por toda a vida adulta. Essas alterações ocorrem antes mesmo do envelhecimento e não são totalmente revertidas por medicamentos tradicionais.

Alterações precoces e persistentes no sêmen

O estudo foi liderado pelo professor Stephen Rodrigues, do ICB-USP, e publicado na revista científica Scientific Reports, com apoio da FAPESP. A equipe analisou ratos em diferentes faixas etárias, desde os mais jovens (equivalentes a 18 anos humanos) até os mais velhos (aproximadamente 50 anos humanos).

Foram observados efeitos preocupantes, como a redução na concentração de espermatozoides e danos ao acrossoma — estrutura fundamental para a penetração do óvulo. Essas alterações surgem cedo e se mantêm ao longo da vida reprodutiva.

Segundo o professor Rodrigues, “esses resultados mostram que a hipertensão arterial tem um impacto reprodutivo que começa muito cedo e persiste durante toda a fase adulta. Mesmo períodos relativamente curtos de exposição a níveis elevados de pressão arterial já são suficientes para causar danos irreversíveis”.

Estudo da USP revela que hipertensão prejudica sêmen ainda na fase jovem
Estudo da USP revela que hipertensão prejudica sêmen ainda na fase jovem - iStock/Nuttawan Jayawan

Medicamentos nem sempre recuperam a fertilidade

A equipe também avaliou o efeito de medicamentos anti-hipertensivos sobre a saúde reprodutiva. A losartana, um dos fármacos mais utilizados, foi eficaz na redução da pressão arterial, mas não conseguiu restaurar a qualidade do sêmen.

Por outro lado, a prazosina — um antagonista do receptor alfa-adrenérgico — mostrou resultados mais promissores, corrigindo parte das alterações observadas nos espermatozoides. “Esse achado sugere que apenas reduzir a pressão arterial não é suficiente para proteger a saúde reprodutiva. A combinação de agentes que reduzem a mortalidade com outros que preservem a função reprodutiva pode ser um caminho promissor”, disse Rodrigues.

Impactos ainda não totalmente compreendidos

Apesar dos avanços, muitos aspectos da relação entre hipertensão e fertilidade ainda não são completamente compreendidos. A equipe planeja investigar com mais profundidade o epidídimo — região responsável por armazenar os espermatozoides antes da ejaculação.

Além disso, será analisado o papel da atividade física na melhora da qualidade do sêmen e da microcirculação testicular. “Queremos entender se intervenções não farmacológicas, como o exercício, podem oferecer benefícios similares aos dos medicamentos, promovendo melhorias na saúde reprodutiva de forma natural”, contou o professor.

Hipertensão e fertilidade masculina: uma conexão global

O estudo também ressalta a importância de compreender o impacto sistêmico da hipertensão, uma condição crônica que afeta milhões de pessoas no mundo. A infertilidade masculina está crescendo, e entender seus gatilhos é essencial para prevenir riscos futuros.

Rodrigues ainda destaca que “um dado alarmante é que, nos últimos 50 anos, tem se observado uma redução de cerca de 50% de espermatozoides presentes no sêmen, em indivíduos hipertensos ou não. Ainda não se sabe ao certo as causas do fenômeno, ou se ele vai começar a comprometer a reprodução da espécie no futuro. Por isso, todo estudo é bem-vindo, seja para reverter ou impedir que essa redução aumente”.