Estudo mostra que casamento está ligado ao aumento do risco de Alzheimer

Mais do que o estado civil, o que parece pesar mesmo é a qualidade das relações afetivas

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
23/04/2025 18:22 / Atualizado em 25/04/2025 08:30

Durante muito tempo, acreditou-se que o casamento era benéfico para a saúde cerebral. Mas uma nova pesquisa publicada na revista Alzheimer’s & Dementia está desafiando essa ideia. O estudo, conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Flórida, sugere que pessoas solteiras ou divorciadas podem ter menor risco de desenvolver demência, incluindo Alzheimer, em comparação com indivíduos casados.

Os pesquisadores analisaram dados de mais de 24 mil adultos americanos sem sinais iniciais de demência. Os participantes foram acompanhados por até 18 anos, o que permitiu uma avaliação aprofundada da relação entre estado civil e saúde cognitiva ao longo do tempo.

Casamento: proteção ou risco?

Ao contrário do que se imaginava, os dados mostraram que solteiros e divorciados apresentaram menor risco de desenvolver demência em comparação com casados. No caso de viúvos, também foi observada uma tendência semelhante.

Os pesquisadores também notaram que solteiros têm menos chances de evoluir de um quadro de comprometimento cognitivo leve para demência.

Estudo sugere que pessoas casadas pode ter um risco aumentado de Alzheimer
Estudo sugere que pessoas casadas pode ter um risco aumentado de Alzheimer - PeopleImages/istock

Uma explicação possível para esse resultado curioso é o chamado viés de apuração: cônjuges tendem a perceber com mais rapidez os primeiros sinais de esquecimento e buscar ajuda médica, o que pode levar a diagnósticos precoces entre casados — e dar a impressão errada de que o risco é maior nesse grupo.

No entanto, todos os participantes do estudo faziam consultas médicas anuais, o que teoricamente igualaria as chances de detecção em todos os grupos.

Nem tudo é tão simples

Os próprios autores destacam que a amostra utilizada, do Centro Nacional de Coordenação de Alzheimer (NACC), não reflete totalmente a população geral. A maioria dos participantes era branca, de maior renda e quase 64% estavam casados. Isso pode limitar a generalização dos resultados. Mesmo assim, o estudo é um dos maiores já feitos sobre o tema.

Mais do que o estado civil, o que parece pesar mesmo é a qualidade das relações afetivas. A ideia de que o casamento é sempre positivo para a saúde mental é simplista. Fatores como estresse conjugal, baixa satisfação no relacionamento ou isolamento dentro da própria relação podem anular possíveis benefícios. Por outro lado, solteiros ou divorciados com uma vida social ativa e laços afetivos saudáveis podem estar tão ou mais protegidos do declínio cognitivo.

Conexão emocional é o que importa

O estudo reforça a ideia de que apoio emocional, sensação de pertencimento e satisfação nas relações interpessoais podem ser mais determinantes para a saúde cerebral do que o simples fato de estar ou não casado.

Em outras palavras, o que realmente importa não é o status no papel, mas a qualidade dos vínculos que cultivamos ao longo da vida.