Estudo mostra que mudar frequentemente de casa pode causar depressão

Além da depressão, mudanças constantes na infância podem aumentar os riscos de tentativas de suicídio, crimes e abuso de substâncias

Por Wallace Leray em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
24/02/2025 16:33

Uma pesquisa recente realizada na Dinamarca trouxe à tona dados preocupantes sobre os efeitos das mudanças frequentes de residência na infância. O estudo, publicado na revista científica Jama Psychiatry, acompanhou quase 1,1 milhão de indivíduos nascidos entre 1981 e 2001. Os resultados apontaram que crianças que se mudam várias vezes antes dos 15 anos têm um risco 40% maior de desenvolver depressão na vida adulta.

Ao longo da pesquisa, os cientistas analisaram os registros desses indivíduos até a fase adulta e constataram que pelo menos 35 mil participantes receberam diagnóstico de depressão. Essa é uma das primeiras evidências científicas que indicam uma ligação direta entre instabilidade residencial e problemas de saúde mental ao longo da vida.

Estudo mostra que mudar frequentemente de casa pode causar depressão
Estudo mostra que mudar frequentemente de casa pode causar depressão - iStock/champpixs

A relação entre mudanças frequentes e transtornos mentais

O levantamento revelou que o impacto das mudanças no desenvolvimento emocional das crianças independe da classe social do bairro onde vivem. Os dados sugerem que a frequência das mudanças influencia diretamente o risco de transtornos mentais. Por exemplo, crianças que se mudaram uma única vez entre os 10 e 15 anos apresentaram um aumento de 41% na probabilidade de desenvolver depressão. Já aquelas que passaram por múltiplas mudanças nesse período tiveram um risco ainda maior, chegando a 61%.

Além da depressão, a pesquisa destacou que a instabilidade no ambiente doméstico pode aumentar a vulnerabilidade das crianças a outros problemas, como tentativas de suicídio, envolvimento em atividades criminosas e abuso de substâncias. Esses riscos crescem à medida que as mudanças dificultam a criação de laços sociais duradouros, essenciais para o bem-estar emocional e psicológico.

Mudanças constantes na infância podem dificultar a criação de vínculos sociais e afetivos, afetando o bem-estar emocional. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional)
Mudanças constantes na infância podem dificultar a criação de vínculos sociais e afetivos, afetando o bem-estar emocional. (Foto usada apenas para fins ilustrativos. Posada por profissional) - iStock/fizkes

A importância da estabilidade no desenvolvimento infantil

De acordo com o professor Clive Sabel, da Universidade de Plymouth e um dos responsáveis pelo estudo, essa é a primeira pesquisa a demonstrar com clareza como mudanças frequentes de residência podem ser um fator de risco para transtornos mentais. Ele ainda alerta que os dados levantados podem ser apenas uma fração do impacto total que essa instabilidade provoca na saúde mental das crianças.

Especialistas ressaltam que um ambiente doméstico estável é fundamental para um desenvolvimento saudável. Mudanças constantes podem gerar insegurança, ansiedade e dificuldades na adaptação a novos contextos sociais, prejudicando a formação de vínculos afetivos e o senso de pertencimento.

Crianças expostas a instabilidade residencial correm maior risco de desenvolver depressão na fase adulta, aponta estudo dinamarquês.
Crianças expostas a instabilidade residencial correm maior risco de desenvolver depressão na fase adulta, aponta estudo dinamarquês. - iStock/Julia Gomina

Identificando os sinais da depressão na infância e adolescência

Embora o estudo tenha sido realizado na Dinamarca, seus achados podem se aplicar a outros países, considerando que mudanças de residência são comuns em diversas partes do mundo. Por isso, é essencial que pais, responsáveis e educadores fiquem atentos aos sinais precoces da depressão, que podem incluir tristeza persistente, falta de interesse por atividades antes prazerosas, cansaço excessivo e mudanças no apetite.

Caso uma criança ou adolescente apresente esses sintomas por um período prolongado, buscar ajuda profissional é fundamental. A detecção precoce e o suporte adequado podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida e no desenvolvimento emocional dessas crianças ao longo da vida.

Depressão infantil pode esconder outros problemas de saúde

Além do impacto das mudanças frequentes na infância, um alerta importante foi levantado pela Catraca Livre: sintomas de depressão podem, na verdade, indicar outras condições, como hipotireoidismo e deficiência de vitaminas. O diagnóstico precoce é essencial para diferenciar os transtornos e garantir o tratamento adequado. Veja mais aqui!