‘Existem fadas autistas?’, pergunta Cadence, de 8 anos, em carta

Por: Renata Penzani

“A cada vez que uma criança diz ‘Eu não acredito em fadas’, em algum lugar, uma pequena fada cai morta”.  O trecho célebre do clássico infantil “Peter Pan”, que se tornou uma ode à imaginação das crianças, ajuda a ilustrar uma história que tomou conta da internet na última semana.

A pequena Cadence, da Austália, tem apenas oito anos e já entende melhor do que muitos adultos o que é identidade. Diagnosticada com autismo, Cadence criou o blog “I Am Cadence” para falar sobre sua condição e mostrar o quão nocivos são os rótulos em relação à verdadeira identidade de uma pessoa. “Meu rótulo é Cadence. Um dos meus ingredientes é o autismo”, diz a menina.

Recentemente, ela resolveu escrever uma carta para a rainha das fadas madrinhas, questionando se, entre as fadas, havia alguma com uma condição parecida com a sua. Intitulada “Existem fadas autistas?”, a carta faz perguntas como: “Queridas fadas, eu quero muito saber se há uma fada autista. Como é o trabalho dela no mundo das fadas? Ela pode me visitar? Eu também sou autista”, escreveu a pequena.

Em um dos trechos mais singelos e metafóricos, Cadence deixa um recado emocionante para as fadas e aponta para o potencial da imaginação na construção da identidade infantil: “Ps: Algumas pessoas dizem que as fadas não são reais, mas eu sei que são”.

Infância com representação

A partir desse gesto simples, Cadence levanta a questão da representatividade na infância. Afinal, o que Cadence nos ensina quando pede uma fada madrinha que se pareça com ela? Da mesma forma que as crianças desenvolvem o seu senso de empatia por meio do contato com o outro, a elaboração de sua identidade acontece quando reconhecem no outro traços e características similares, que podem identificar como representatividade.

 
Créditos: User
 

“Meu rótulo é Cadence. Um dos meus ingredientes é o autismo”, defende a menina.

Reconhecendo o poder da imaginação, Angela, mãe de Cadence, defende a importância de proporcionar às crianças posturas reais em relação à diferença, e criou uma carta-resposta da Rainha das Fadas para dizer que a diferença se dilui onde existe respeito, bondade e compaixão. Confia alguns trechos:

“Não há uma fada especial autista. Mas compaixão, bondade, trabalho em grupo, coragem e esperança – coisas que não podem ser tocadas ou vistas, mas que podemos escolher aprender, acreditar e dar aos outros –  isso sim é realmente especial”, afirma ainda a carta da rainha das fadas.

“No mundo das fadas, onde seu mundo termina e a nossa mágica começa, diferenças físicas e cerebrais não são coisas que pensamos muito, afinal, elas são apenas uma parte única de cada fada, coisas que fazem parte do jeito delas de ser e agir”.

Aprendizado por meio da ficção

Por muito tempo, tanto pais como pesquisadores supuseram que os “voos de fantasia” de uma criança eram, na melhor das hipóteses, inofensivos episódios de diversão – talvez necessários para a descontração de quando em quando, mas sem qualquer propósito real. Na pior das hipóteses, alguns defendiam que tais momentos eram distrações perigosas da importante tarefa de entender o mundo real, ou manifestações de uma confusão pouco saudável sobre a barreira entre realidade e ficção.

Mas agora, novos trabalhos no campo da ciência do desenvolvimento mostram que não apenas as crianças são plenamente capazes de separar realidade e ficção, mas também que a atração por situações fantásticas pode, na verdade, ser bastante útil para o aprendizado. Leia aqui a matéria completa que o Catraquinha publicou sobre o assunto.