Novo estudo descobre um fator que protege contra a demência

Pesquisadores indicam o fator que pode reduzir o risco de Alzheimer em 70%, apontando novas direções para tratamentos mais eficazes

Como uma variante genética pode proteger contra a demência?
Créditos: iStock/Henadzi Pechan
Como uma variante genética pode proteger contra a demência?

Pesquisadores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, descobriram uma nova variante genética associada a redução no risco de desenvolver Alzheimer, a forma mais comum de demência

Segundo os cientistas, a mutação pode reduzir o risco em até 70% para indivíduos geneticamente predispostos.

O que faz a variante genética?

A variante genética identificada pelos cientistas parece estar ligada a uma maior capacidade de eliminar formas tóxicas da proteína amiloide do cérebro por meio da barreira hematoencefálica. O acúmulo de proteína amiloide, que forma placas no cérebro, é uma das causas conhecidas do Alzheimer.

A barreira hematoencefálica é uma estrutura que regula o transporte de substâncias entre o sangue e o cérebro, evitando a entrada de agentes tóxicos.

Então, de acordo com os cientistas, a variante genética promove a eliminação dessas proteínas tóxicas, impedindo a formação das placas.

Como a descoberta pode impactar o desenvolvimento de novas terapias?

A identificação da variante genética no gene FN1, que produz a proteína fibronectina, pode abrir novos caminhos para o desenvolvimento de terapias que imitem a ação da mutação genética.

A fibronectina é encontrada em maiores quantidades na barreira hematoencefálica de pacientes com Alzheimer.

Os pesquisadores usaram peixes-zebra com um modelo da doença. Isso para confirmar que a redução da fibronectina na barreira aumentava a limpeza da amiloide no cérebro e reduzia outros danos biológicos associados à doença.

A partir dessa descoberta, novas terapias podem ser desenvolvidas para prevenir ou tratar o Alzheimer, atuando na redução dos níveis de fibronectina.

Então, quais são os próximos passos na pesquisa?

Os cientistas investigaram se havia alguma mutação genética em humanos que naturalmente impedisse o acúmulo de fibronectina e, consequentemente, das placas amiloides.

Eles analisaram sequenciamentos genéticos de centenas de americanos acima de 70 anos que carregavam a mutação APOEe4, conhecida por aumentar o risco de Alzheimer. Descobriram, então, que a variante no gene FN1 estava presente em indivíduos que carregavam o APOEe4, mas não desenvolviam a doença, sugerindo que a variante pode oferecer proteção contra o desenvolvimento da doença.

A análise envolveu 11 mil participantes e confirmou que a variante recém-descoberta reduzia o risco de Alzheimer em até 71% e adiava o diagnóstico em cerca de quatro anos para aqueles que desenvolvem a doença.

Os pesquisadores sugeriram que entre 1% e 3% dos indivíduos com APOEe4 possuem a mutação protetora, representando cerca de 200 mil a 620 mil americanos.

No entanto, a diferença nos níveis de fibronectina na barreira hematoencefálica também acabou sendo observada entre indivíduos cognitivamente saudáveis e aqueles com Alzheimer, independentemente do status APOEe4. Isso sugere que a proteção conferida pela variante pode não se limitar apenas aos portadores de APOEe4.

Quais são as implicações para o futuro dos tratamentos contra o Alzheimer?

As novas terapias podem oferecer uma alternativa mais segura, prevenindo o declínio cognitivo de maneira menos arriscada.

Pois reduzir o excesso de fibronectina pode proporcionar proteção significativa, e o desenvolvimento de um medicamento que faça isso pode representar um grande avanço.

Atualmente, os tratamentos mais avançados são anticorpos que eliminam as placas amiloides do cérebro, mas eles têm efeito clínico limitado e podem causar efeitos colaterais.