Pesquisadores da USP estudam controle contra a febre maculosa
Estudo realizado na USP aponta progresso na identificação de um alvo contra a febre maculosa
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão avançando no estudo para o desenvolvimento de uma “vacina” contra a febre maculosa, conforme um estudo publicado na revista Parasites & Vectors. A doença ganhou destaque recentemente após a confirmação de quatro mortes causadas pela infecção no estado de São Paulo.
As vítimas estiveram presentes em um evento realizado na região de Campinas, interior do estado. No Brasil, a febre maculosa é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida principalmente pelo carrapato-estrela, comumente encontrado no Cerrado e em áreas degradadas da Mata Atlântica.
No ano passado, foram registrados 62 casos de pessoas com febre maculosa no estado de São Paulo, dos quais 47 resultaram em óbito. O alto índice de letalidade de 75% evidencia a periculosidade dessa doença.
Pesquisas anteriores realizadas pela USP, no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), já haviam demonstrado que, ao infectar o carrapato-estrela, a Rickettsia rickettsii é capaz de inibir um processo chamado apoptose, que é a morte programada das células do aracnídeo, favorecendo seu crescimento.
No estudo mais recente, apoiado pela Fapesp através de três projetos, a mesma equipe buscou silenciar a expressão do gene da principal proteína inibidora da apoptose, conhecida como IAP (inhibitor of apoptosis protein). O objetivo foi reduzir o crescimento da bactéria e tornar o carrapato-estrela mais resistente à infecção.
“Observamos que, independentemente da infecção, os carrapatos morriam ao se alimentar, destacando a importância da IAP para sua sobrevivência”, disse Andréa Cristina Fogaça, professora do Departamento de Parasitologia do ICB-USP e coordenadora do estudo, em declaração divulgada pelo Governo do Estado de São Paulo.
“Essa informação sugere algo ainda mais interessante do que apenas bloquear a infecção: é possível conter e diminuir a densidade populacional do hospedeiro.”
Os resultados mostraram taxas de mortalidade dos carrapatos-estrela acima de 92% durante o experimento. Esses resultados sugerem que a alimentação do carrapato, independentemente de estar infectado, produz radicais livres que ativam a apoptose. Com a IAP silenciada, os carrapatos não conseguem sobreviver.
Os próximos passos da pesquisa envolvem a confirmação de que a alimentação sanguínea é realmente o fator que promove a apoptose, por meio da produção de espécies reativas de oxigênio. Além disso, os pesquisadores pretendem expandir os experimentos para outras espécies de carrapato.
Febre maculosa
De acordo com dados do Ministério da Saúde, nos últimos três anos, foram registrados em média 160 casos da doença por ano, com uma taxa de letalidade de cerca de 28%.
Os principais sintomas da febre maculosa incluem febre alta e súbita, dor de cabeça, abdominal e muscular, além de possíveis erupções no local da picada do carrapato. O tratamento imediato com antibióticos é recomendado para evitar o agravamento do quadro.
Além do impacto médico, com a diminuição da transmissão da bactéria para os seres humanos, a pesquisa destaca o impacto econômico que uma vacina capaz de reduzir a densidade populacional do carrapato-estrela teria na pecuária. Esses aracnídeos, que não têm preferência alimentar específica, afetam outros animais disponíveis, como o gado, causando anemia e danos ao couro.
Embora ainda não haja estimativa dos prejuízos financeiros dessa infestação para a atividade pecuária, já há relatos de aumento do problema.