Fungo raro causa a primeira morte no Brasil; entenda

A vítima é uma jovem de 14 anos moradora do Rio de Janeiro; médicos não sabem como ela foi infectada

A Fiocruz confirmou no final de dezembro a primeira morte no Brasil por meningoencefalite —infecção que causa inflamação no cérebro e meninges–, causada por um fungo raro chamado Penicillium chrysogenum.

A vítima é uma adolescente de 14 anos que morava no Rio de Janeiro e deu entrada Hospital Naval Marcílio Dias, na zona norte da capital fluminense, em setembro de 2021, com dores de cabeça, fotofobia e vômito. Segundo a Fiocruz, o microrganismo provocou infecção grave no cérebro e meningite na paciente, levando-a a óbito.

Brasil registra primeira morte causada por fungo raro chamado Penicillium chrysogenum
Créditos: Reprodução/Fiocruz
Brasil registra primeira morte causada por fungo raro chamado Penicillium chrysogenum

De acordo com a Fiocruz, a jovem não apresentava comorbidades. A presença do fungo raro foi observada em análises do líquido cefalorraquidiano –-substância que envolve o cérebro e a medula espinhal.

“Foi um espanto identificar que este caso estava relacionado ao Penicillium, e de uma espécie que ainda não tinha sido descrita no país como causadora dessa doença”, diz Manoel Marques Evangelista de Oliveira, pesquisador do Laboratório do do Instituto Oswaldo Cruz e coordenador do artigo publicado no periódico científico International Journal of Infectious Diseases.

Com a confirmação, os médicos iniciaram um tratamento com dois medicamentos antifúngicos, no entanto, a paciente não resistiu e morreu de choque séptico e neurogênico.

Os pesquisadores demonstraram preocupação com o achado pela possibilidade de o fungo Penicillium chrysogenum ter um perfil de escape da resposta imunológica, pois não havia indícios de que o organismo da jovem não era capaz de agir contra a infecção – algo que poderia ocorrer em um paciente “imunocomprometido, como pacientes oncológicos, pessoas que vivem com o HIV ou em tratamento da covid-19”.

Ainda não está claro como a paciente foi infectada pelo P. chrysogenum. Os pesquisadores destacam que, embora o fungo esteja amplamente distribuindo no ambiente, é mais comum encontrá-lo em solos onde há matéria em decomposição, passagem de esgotos e obras.

Novos casos de infecções fúngicas

O texto também destaca um aumento recente na incidência de infecções fúngicas no sistema nervoso central humano. Entre as principais síndromes desencadeadas pelo contágio estão meningite, encefalite e elevação da pressão intracraniana.

Segundo Manoel Marques, o aumento está relacionado ao crescimento do número de pessoas imunossuprimidas nas últimas duas décadas. “Os motivos são diversos: pessoas que vivem com HIV/Aids, uso indiscriminado de medicamentos, casos de depressão e, mais recentemente, a Covid-19. Esses indivíduos estão propícios a contraírem infecções por fungos”, explica.

A maioria das ocorrências está relacionada a espécies do gênero Cryptococcus, que provocam meningite. A infecção geralmente ocorre pela inalação de esporos em poeiras de solos contaminados com excrementos de pombos.

Outro fator de risco é a mudança de comportamento dos fungos devido às alterações climáticas. Eles podem estar se adaptando às novas condições do ambiente, suportando temperaturas próximas às do corpo humano.