Gerar vida e lutar pela própria: a história da mãe de um recém-nascido contra o câncer de intestino
Entre a maternidade e a quimioterapia, Poliana encontrou na luta contra este tipo de tumor um novo significado para a vida
Poliana Silva de Oliveira Leite, 38 anos, nasceu entre o sol e o mar de Ilhéus, na Bahia, e construiu sua vida em Feira de Santana. Com uma carreira consolidada como gerente de negócios em uma multinacional de cosméticos, seu maior sonho sempre foi ser mãe.
Depois de duas perdas gestacionais, apostou na fertilização in vitro. E ali, no último embrião congelado, encontrou a esperança de um novo começo. Seu filho nasceu, trazendo luz. Mas quando ele tinha apenas dois meses, um novo desafio bateu à porta: um diagnóstico de câncer de intestino.
“Passei por um turbilhão de emoções. A alegria de ter meu filho nos braços e, ao mesmo tempo, o medo de não estar aqui para vê-lo crescer. Era um paradoxo cruel.”
Em entrevista exclusiva à Catraca Livre, para série especial do Março Azul, em conscientização do câncer colorretal, Poliana abre o coração e conta como está sendo o processo de luta contra a doença e todas adversidades que teve que enfrentar até o momento.
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Sinais de um corpo que gritava
O corpo sussurrava alertas, depois gritava. Sangue nas fezes, cansaço que pesava como um fardo invisível, perda de peso sem explicação. Mas as respostas que vinham eram desencontradas. “É psicológico”, diziam. “É só uma pedra no rim.” Foram mais de dez idas ao pronto-socorro, cada uma levando Poliana de volta para casa com uma nova explicação errada. E a doença avançava, silenciosa, disfarçada de pequenos desconfortos.
Na madrugada em que uma hemorragia a encontrou enquanto embalava o filho, o tempo parou. Dessa vez, não havia mais como ignorar. Era preciso enfrentar o desconhecido.
“Eu fui negligente, durante minha gestação a partir já do primeiro mês, já notei sangue nas fezes, cor estranha, com a evolução da gravidez os sintomas foram piorando, cheguei a ir ao pronto socorro mais de dez vezes com dores intensa no intestino, vômitos e diarreia ao mesmo tempo, me medicavam e eu retornava para casa, ás vezes falavam que era psicológico devido a gestação ser de FIV, outras pedra no rim.”
O instante em que tudo muda
O proctologista não hesitou. No exame de toque, encontrou o tumor. A colonoscopia confirmou: 80% do intestino estava obstruído. O chão sumiu. Depois de tantas batalhas para gerar uma vida, agora lutaria para salvar a sua própria.
“Assim que passei pelo proctologista no toque ele já sentiu o tumor que estava grande, e de imediato me encaminhou para colonoscopia, identificado o tumor também de imediato pois a câmera do equipamento não avançava devido o intestino já estar obstruído.”

A tempestade do tratamento
A cirurgia foi sua primeira batalha. Optou pela técnica robótica, arcando com custos extras. Depois, vieram as sessões de quimioterapia, cada uma um novo teste de resistência. O corpo se retraiu diante dos efeitos colaterais. Neuropatia transformou o toque em choques elétricos. O paladar se perdeu entre amargores. O cansaço se tornou um velho conhecido.
“Durante a quimioterapia e todo processo de cirurgia e recuperação, eu infelizmente tive todos os efeito colaterais, desenvolvi neuropatia nas mãos e nos pés, muita fraqueza de precisar de ajuda para se alimentar, tomar banho, levantar, perdi muito peso, devido o sabor amargo na boca, doía até para beber água. Não podia tomar sol, banho de piscina ou mar, banho gelado ou muito quente, comida quente não podia pois tinha muitas aftas na boca, e não pude tomar nada gelado por 8 meses.”
Mas Poliana nunca caminhou sozinha. O marido esteve ao seu lado em cada sessão. A mãe e a sogra transformaram sua casa em um refúgio para cuidar do bebê. Amigas, irmãs, vizinhos, todos seguraram suas mãos em silêncio e presença.
“Meu esposo nunca deixou ninguém ir me levar ou buscar de uma quimioterapia, ele estava comigo em absolutamente todas, minha mãe e minha sogra praticamente se mudaram para minha casa, para cuidar do meu filho recém nascido durante um ano.”
A escolha de seguir em frente
Mesmo debilitada, Poliana se recusou a se afastar do trabalho. A empresa ofereceu acolhimento e flexibilidade. Ela encontrou força na rotina, nos dias em que conseguia abrir o computador e se sentir parte do mundo.
Mas havia as madrugadas horríveis. O choro contido no banheiro. A oração sussurrada entre o medo e a esperança. Então, decidiu transformar sua dor em ponte. Criou um diário digital no Instagram, um espaço íntimo para desabafar. Com o tempo, abriu as portas desse refúgio para outras pessoas que precisavam de palavras que abraçassem.
“Acredito que por ter realizado o sonho de ser mãe, após tantas tentativas frustradas, tantos hormônios, agulhadas que a fertilização proporciona, eu encarei de forma determinada a fazer o que tivesse ao meu alcance para ver meu filho crescer, as vezes eu chorava no banheiro e brigava com Deus, tinha meus momentos de fraqueza e questionamentos, então resolvi escrever como se fosse um diário fechado no Instagram, todos os meus sentimentos, tratamentos, e quando me senti fortalecida abri ao público para ajudar pessoas em situações parecidas, isso torna minha jornada um pouco mais leve.”

Um novo olhar sobre a vida
O tratamento ainda não acabou. O gene MUTYH, descoberto nos exames, é uma sombra que exige vigilância. Mas a vida ganhou novas cores. Os dias são mais intensos, mais sentidos. A alimentação mudou. O corpo se move mais. Cada instante ao lado do filho é uma vitória celebrada.
“Eu aprendi que o câncer não é bonito, bonito é o que ele nos ensina, e que não precisamos perder a nossa vida, enquanto estamos lutando por ela.”
Para quem enfrenta essa batalha
Poliana sabe que o caminho do câncer é angustiante, mas não precisa ser sem esperança. “ Você pode escolher passar pelo câncer sorrindo, ou reclamando não vai mudar absolutamente nada no seu diagnóstico, mas você também pode passar por ele vivendo! Você não está sozinho (a), tratar um câncer é acordar cansada para resolver os mesmo problemas que te cansaram na noite anterior”, disse ela.
“O que eu tenho certeza é que a dor do câncer e do tratamento vai mudar você, te ensinar a orar mais e te ensina a ter forças para prosseguir, que a vida é hoje e que passa a ter um novo sentido.”
E ela escolheu viver. Com todas as dores e incertezas, mas também com toda a coragem que habita um coração que nunca desistiu de bater forte.