Leite: vilão ou aliado? O que a ciência realmente diz sobre os laticínios

Longa relação com os laticínios vem sendo questionada nos dias atuais. Mas será que essa condenação tem respaldo científico?

04/03/2025 18:00

Longa relação com os laticínios vem sendo questionada nos dias atuais. Mas será que essa condenação tem respaldo científico? PeopleImages/iStock
Longa relação com os laticínios vem sendo questionada nos dias atuais. Mas será que essa condenação tem respaldo científico? PeopleImages/iStock - PeopleImages/iStock

Há milhares de anos, o ser humano domesticou animais e passou a consumir leite, um hábito que atravessou gerações e civilizações. No entanto, essa longa relação com os laticínios vem sendo questionada nos dias atuais por discursos radicais que os apontam como inimigos da saúde. Mas será que essa condenação tem respaldo científico?

Pesquisas recentes sugerem que a exclusão indiscriminada dos laticínios pode ser um erro. Um estudo publicado no Clinical Nutrition traz novas perspectivas sobre o impacto do leite e seus derivados no metabolismo da glicose. Ao analisar dados de 7.521 participantes do estudo britânico Fenland, os cientistas observaram que o consumo de leite desnatado pode, na verdade, reduzir o risco de pré-diabetes. Por outro lado, o excesso de laticínios ricos em gordura pode ser prejudicial.

O pré-diabetes, condição caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue, pode evoluir para o diabetes tipo 2 se não for controlado. No entanto, mudanças no estilo de vida, como alimentação equilibrada e prática regular de exercícios, podem reverter o quadro.

E quanto ao impacto dos laticínios na saúde cardiovascular?

Os lácteos já foram acusados de aumentar o risco de doenças cardíacas, mas estudos mais recentes desafiam essa crença. O Elsa-Brasil, um dos maiores levantamentos sobre saúde no país, sugere que o consumo equilibrado de laticínios pode, na verdade, trazer benefícios às artérias. Além disso, a suposta ligação entre leite e inflamação ainda carece de comprovação científica sólida.

Contudo, quem tem alergia ou intolerância precisa ficar atento. A nutricionista Daniela Boulos, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que a caseína – principal proteína do leite – pode causar desconforto digestivo em algumas pessoas. “Ela pode ser de difícil digestão, especialmente para organismos mais sensíveis”, alerta.

Alergia, intolerância e diagnósticos precisos

É importante distinguir alergia à proteína do leite e intolerância à lactose. No primeiro caso, o sistema imunológico reage de forma exacerbada, desencadeando sintomas como vômitos, diarreia e até dificuldades respiratórias. Já a intolerância ocorre quando o organismo produz pouca lactase, enzima responsável pela digestão da lactose. Isso pode resultar em distensão abdominal, gases e desconforto intestinal.

Antes de eliminar os laticínios da dieta, o ideal é buscar um diagnóstico preciso. “A restrição sem necessidade pode até trazer prejuízos à saúde”, destaca a nutricionista Carla Muroya, também do Hospital Albert Einstein.

O que há de nutritivo no leite?

Leite e derivados são verdadeiros pacotes nutricionais. Rico em cálcio, ele é essencial para a saúde óssea e desempenha um papel importante na contração muscular e na regulação da pressão arterial. Além disso, fornece proteínas de alto valor biológico, vitaminas A e do complexo B, além de pequenas quantidades de vitamina D, fundamentais para a imunidade.

No entanto, a moderação é sempre a melhor estratégia. “Os laticínios também contêm gorduras saturadas, que, quando consumidas em excesso, podem elevar o colesterol e impactar a saúde cardiovascular”, alerta Daniela Boulos.

Para adultos, a recomendação é dar preferência a versões mais leves, como leite desnatado, queijo minas frescal, cottage e ricota. E, claro, manter um olhar atento aos rótulos, evitando produtos ultraprocessados e ricos em aditivos.

O veredito? Equilíbrio sempre vence

Leite e derivados não são heróis nem vilões. O segredo está no consumo consciente, alinhado às necessidades individuais de cada pessoa. Para quem não apresenta restrições, os laticínios continuam sendo uma excelente fonte de nutrientes. Em vez de seguir modismos, vale a pena se basear na ciência e, quando necessário, buscar orientação profissional. Afinal, em nutrição, como na vida, equilíbrio é a chave.

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