Matheus Nachtergaele rompe o silêncio sobre o álcool: “se tornou horror”

Um dos maiores nomes de sua geração, ator falou abertamente sobre relação com o álcool e outras drogas

Por André Nicolau em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
12/05/2025 16:02 / Atualizado em 25/05/2025 16:56

Um dos maiores nomes de sua geração, ator falou abertamente sobre relação com o álcool – Beatriz Damy/TV Globo
Um dos maiores nomes de sua geração, ator falou abertamente sobre relação com o álcool – Beatriz Damy/TV Globo - Beatriz Damy/TV Globo

Por trás do talento consagrado de Matheus Nachtergaele, 57, existe uma trajetória marcada por lutas pessoais, reencontros com a arte e um olhar crítico sobre a sociedade brasileira.

Em uma entrevista reveladora à revista Breeza, o ator — um dos nomes mais prestigiados de sua geração — falou de forma franca sobre sua relação com drogas, o impacto do sucesso precoce e o papel da arte em sua reconstrução.

Hoje longe do álcool, substância que descreve como sua “droga principal por muitos anos”, Nachtergaele conta que passou por períodos de uso abusivo. “Foi no álcool que eu encontrei o divertimento que depois se tornou horror”, desabafa. A escolha de interromper o consumo veio não apenas por motivos pessoais, mas por uma compreensão mais ampla do impacto social das drogas.

Consequências sociais

Esse entendimento ganhou contornos mais concretos quando interpretou Sandro Cenoura no aclamado filme Cidade de Deus (2002), onde se deparou com a violência estrutural ligada ao tráfico e à dependência química. “A consciência do que envolve esse mundo te afasta um pouco das drogas. Quando você entende a violência que está envolvida ainda nessa coisa toda, você se retrai.”

O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil causou um total de 104,8 mil mortes em 2019 no Brasil, o que equivale a uma média de 12 óbitos por hora – Depositphotos/jordan_rusev
O consumo de bebidas alcoólicas no Brasil causou um total de 104,8 mil mortes em 2019 no Brasil, o que equivale a uma média de 12 óbitos por hora – Depositphotos/jordan_rusev - Depositphotos/jordan_rusev

Para o ator, não existe uso de substâncias ilegais sem consequências sociais. “As pessoas que usam essas drogas acabam, de alguma forma, patrocinando uma realidade violenta que eu conheci de perto naquele trabalho”, afirma, refletindo sobre as marcas que a experiência deixou.

Batalha contra o cigarro 

Mesmo tendo deixado o álcool, Nachtergaele admite ainda consumir tabaco — com críticas abertas ao próprio hábito. “Tenho vontade de parar. Meu corpo, agora com 57 anos, sente os efeitos”, diz, ampliando o debate para incluir substâncias médicas legalizadas. “Não tenho preconceito com drogas, mas tenho consciência do quanto podem ser nocivas, inclusive as prescritas, como antidepressivos, ansiolíticos e emagrecedores.”

O ator também atribui parte do desequilíbrio emocional ao impacto repentino da fama. “Foi violento, rápido, cedo. Acho que meu abuso de álcool teve a ver com isso — para suportar a excitação da sociedade em torno de mim e o que isso provocava no meu ego”, admite, numa fala rara sobre os bastidores da carreira artística.

De volta à TV

Após quase uma década longe das novelas, Nachtergaele voltou à TV em 2024, interpretando Norberto no remake de Renascer, e agora vive Poliana em Vale Tudo. Mesmo com passagens marcantes no cinema e no teatro, ele reconhece a força da televisão. “Na novela das oito você entra na casa das pessoas, em contato direto com o país. Eu voltei e voltei com tudo — enfiei o pé na jaca de novo. Mas, dessa vez, é na arte.”

A fala de Matheus Nachtergaele não é apenas um relato pessoal: é um testemunho poderoso sobre como a arte pode ser tanto espelho quanto salvação. Seu retorno às novelas representa mais que um reencontro com o público — é também um mergulho maduro e consciente no Brasil de hoje.

O que acontece quando consumimos bebida alcoólica?

Socialmente aceito, é difícil encontrar situações em que o álcool não esteja presente ou que não sejamos bombardeados por propagandas que incentivem o consumo de bebida alcoólica. Contudo, é preciso sempre considerar o efeito do álcool no organismo e o risco que isso traz no curto, no médio e no longo prazo.