Médicos da Califórnia realizam primeiro transplante de bexiga do mundo com sucesso

Transplante traz esperança para milhares de pessoas que, até agora, enfrentavam opções limitadas e arriscadas

Por André Nicolau em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
19/05/2025 16:45 / Atualizado em 24/05/2025 18:43

Transplante traz esperança para milhares de pessoas que, até agora, enfrentavam opções limitadas e arriscadas – Nick Carranza/UCLA Health
Transplante traz esperança para milhares de pessoas que, até agora, enfrentavam opções limitadas e arriscadas – Nick Carranza/UCLA Health - Nick Carranza/UCLA Health

Pela primeira vez na história da medicina, uma equipe de cirurgiões no sul da Califórnia realizou com sucesso um transplante de bexiga humana. O procedimento inédito foi feito no início deste mês em Oscar Larrainzar, de 41 anos, que enfrentava sérias complicações após um câncer raro comprometer quase toda a sua bexiga.

A cirurgia foi conduzida por especialistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e da Universidade do Sul da Califórnia (USC), marcando um feito promissor no tratamento de condições urológicas graves. Segundo os médicos, o procedimento durou cerca de oito horas e apresentou resultados imediatos.

“Eu era uma bomba-relógio. Mas agora tenho esperança”, disse ele, em entrevista recente publicada pelo The New York Times.

Revolução no tratamento urológico

Até então, pacientes que perdiam a bexiga eram submetidos a procedimentos alternativos, como o uso de segmentos do intestino para redirecionar ou armazenar a urina. Apesar de funcionais, esses métodos frequentemente trazem complicações, pois envolvem inserir tecido intestinal — normalmente contaminado — em um sistema que deveria ser estéril, como o trato urinário.

A nova técnica representa uma revolução. Desenvolvida ao longo de vários anos, a abordagem foi refinada em modelos animais, cadáveres e doadores com morte cerebral. Um dos grandes desafios era preservar os delicados vasos sanguíneos da bexiga, órgão que possui uma complexa vascularização. Para superar essa barreira, os cirurgiões inovaram ao conectar artérias e veias durante a conservação do órgão, facilitando sua integração no corpo do paciente.

Candidato ideal e recuperação surpreendente

Oscar foi considerado o candidato ideal para o pioneirismo. Ele já fazia uso de imunossupressores devido a um transplante renal anterior, o que reduzia os riscos de rejeição da nova bexiga. Além disso, sua bexiga original havia sido praticamente destruída, com uma capacidade reduzida a meros 30 mililitros — muito abaixo dos mais de 300 ml de uma bexiga saudável.

Oscar Larrainzar, de 41 anos, que enfrentava sérias complicações após um câncer raro comprometer quase toda a sua bexiga -Nick Carranza/UCLA Health
Oscar Larrainzar, de 41 anos, que enfrentava sérias complicações após um câncer raro comprometer quase toda a sua bexiga -Nick Carranza/UCLA Health - Nick Carranza/UCLA Health

O resultado da cirurgia surpreendeu até os próprios médicos. Diferente de transplantes renais, que podem levar dias para entrar em funcionamento, o rim de Oscar passou a produzir urina imediatamente após a conexão com a nova bexiga. Dois dias após receber alta hospitalar, ele conseguiu urinar espontaneamente, sem necessidade de cateter.

“O rim produziu um grande volume de urina logo após a cirurgia, e a função renal melhorou de forma imediata”, explicou o Dr. Abhi Nassiri, da UCLA, em comunicado. “Não houve necessidade de diálise, e a urina foi corretamente direcionada para a nova bexiga”.

Próximos passos

Segundo o Dr. Inderbir Gill, chefe do departamento de urologia da USC e um dos responsáveis pela operação, esse é apenas o começo. A equipe médica já planeja realizar outros quatro transplantes como parte de um estudo clínico que visa avaliar a segurança e a eficácia do procedimento antes de sua possível adoção em larga escala.

Estamos abrindo uma nova porta para pacientes que vivem com dor crônica, infecções urinárias recorrentes e inflamações persistentes. É um avanço com potencial de mudar vidas”, afirmou Gill.

O transplante de bexiga representa mais do que um feito cirúrgico. É um sinal claro de que a medicina regenerativa e os avanços em técnicas de preservação de órgãos estão rompendo barreiras antes consideradas intransponíveis — trazendo esperança para milhares de pessoas que, até agora, enfrentavam opções limitadas e arriscadas.


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