Misofonia, fonofobia: conheça os problemas auditivos prejudicam saúde mental e convívio social

Existem casos clínicos em que pacientes desenvolvem uma redução da tolerância aos sons que impacta o dia a dia

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
14/12/2024 08:01 / Atualizado em 19/12/2024 20:24

Para muitas pessoas, certos sons podem ser mais do que apenas irritantes — eles causam desconforto intenso ou até mesmo dor física e emocional. Essa sensibilidade extrema pode estar relacionada a problemas auditivos, como hiperacusia, misofonia, fonofobia e zumbido, que afetam a forma como o cérebro processa os estímulos sonoros.

Em alguns casos, o desconforto é tanto que o problema pode até afastar essas pessoas do convívio social com familiares.

Hiperacusia

A hiperacusia é uma condição em que sons normais do dia a dia, como o barulho de uma conversa ou o som de talheres, são percebidos como excessivamente altos ou dolorosos. Isso ocorre devido a alterações no sistema auditivo, que amplifica esses estímulos.

A médica Dra. Nathália Prudencio, otorrinolaringologista e especialista em tontura e zumbido, explica que a hiperacusia é um distúrbio da via auditiva que ocorre após alguma lesão ou agressão que essa via sofreu.

Intolerância a barulho pode ser um caso clínico que prejudica o emocional e a convivência social
Intolerância a barulho pode ser um caso clínico que prejudica o emocional e a convivência social - olesiabilkei/depositphotos

“É o que chamamos de ganho aumentado na via auditiva. Existem várias causas possíveis, como infecções, uso de determinados medicamentos e algumas patologias que podem causar perda de audição, como a Doença de Ménière, bem como a exposição prolongada a ruídos de alta intensidade e perda auditiva súbita, entre outras possibilidades”, explica a médica.

O tratamento consiste na terapia sonora e no aconselhamento feito junto a um profissional capacitado, geralmente um fonoaudiólogo com experiência nessa área. A terapia sonora pode ser realizada com sons do ambiente ou por meio do uso de aparelho de amplificação sonora, principalmente em pessoas que já apresentam algum grau de perda auditiva.

“O paciente será submetido a exposição sonora de uma maneira lenta e gradual com o objetivo de dessensibilizar a via auditiva”, comenta a médica.

Misofonia

A misofonia vai além do desconforto: é uma reação emocional negativa a sons específicos, como mastigar, respirar ou clicar uma caneta. Essas respostas podem incluir irritação extrema, ansiedade e até raiva. Ainda que as causas não sejam totalmente compreendidas, acredita-se que a misofonia esteja relacionada a conexões anormais entre o sistema auditivo e áreas do cérebro responsáveis pelas emoções.

“Um paciente com misofonia pode se desconcentrar por causa do ruído sutil de um aparelho elétrico, mas não se importar com uma música alta ou o som de uma avenida movimentada, por exemplo”, esclarece a Dra. Nathália.

Nesses casos, por conta da relação direta com a resposta emocional do paciente, é sempre indicado o acompanhamento terapêutico com psicólogo. A Terapia Cognitivo Comportamental é um dos métodos indicados.

Fonofobia 

A fonofobia é um medo irracional ou intenso de sons específicos ou até mesmo de ruídos inesperados. Essa condição pode levar a sintomas físicos, como taquicardia, sudorese e tremores, e está frequentemente associada a transtornos de ansiedade. Diferentemente da misofonia, que é uma reação emocional a sons específicos, a fonofobia está mais relacionada ao medo de sons que são percebidos como ameaçadores.

O acompanhamento psicológico também é o mais indicado para o tratamento dessa condição.

Zumbido

Diferente da hiperacusia, misofonia e fonofobia, no zumbido não há uma fonte externa do som, mas esse sintoma pode acompanhar alguns desses problemas auditivos.

“O zumbido crônico pode ser percebido como apito ou chiado nos ouvidos, mas vai muito além de um sintoma auditivo. Apenas um em cada dez pacientes apresenta o zumbido como um incômodo importante. Nessas pessoas, o sintoma pode ser um fator determinante para o surgimento ou agravamento de transtornos do humor, como a ansiedade e a depressão”, afirma a otorrinolaringologista.

O problema, quando é crônico, também pode levar a impactos cognitivos, afetando funções como memória, atenção e capacidade de concentração. Esses diagnósticos podem estar ligados à tentativa constante de ignorar o ruído auditivo.

Também existem tratamentos para o zumbido, mas para isso é fundamental compreender a causa por trás do problema.