Mitos e verdades sobre dietas sem glúten e sem lactose

15/02/2016 20:22 / Atualizado em 07/05/2020 02:15

Viver com saúde, comer bem e manter o peso ideal de acordo com as características particulares de cada organismo é o tripé de uma alimentação capaz de proporcionar o bem-estar. No entanto, o conceito sobre cada item anterior pode variar bastante hoje em dia, dificultando os esforços de cada um e até mesmo o trabalho de profissionais da saúde.

Os mitos em torno do que é comer bem e estar em forma podem até mesmo prejudicar a saúde de muitas pessoas. Um exemplo é realização de dietas restritivas, como a sem glúten e lactose, para a perda de peso. Por influência da mídia e por falta de informação correta, o glúten e os derivados de leite transformaram-se em um vilão da alimentação em muitos países. Mas restringir alimentos pode ser um erro.

A nutricionista Teresa Bello, com 20 anos de experiência em trabalhos com obesidade, emagrecimento e dietas restritivas, revela os segredos de comer bem, com saúde e muito sabor, sem comprometer o organismo ou mesmo o orçamento. Veja quais os mitos e verdades da alimentação para ficar em forma e de bem com a vida.

Cortar glúten e lactose ajuda a emagrecer

Mito

Com a troca alimentos comuns do dia a dia, em um primeiro momento, a pessoa passa fome, fica perdida nas substituições e, então, emagrece. Depois vem a segunda parte dessa mudança, que é o dia em que a pessoa já conhece o que pode e não pode comer e começa a engordar novamente. Por quê? As preparações sem glúten levam outros ingredientes (sal, açúcar e gordura, por exemplo) em maior quantidade para dar mais sabor e textura. Deve-se considerar, ainda, que ao deixar de ingerir certos alimentos por conta própria, sem orientação e sem necessidade, corre-se o risco de o organismo ficar carente de fibras, vitaminas e outros nutrientes importantes. Mas, é claro, com tanta restrição e sem saber o que fazer, a fama corre na frente sobre a relação da perda de peso e a retirada do glúten e da lactose. Com certeza é apenas mais um modismo infundado.

O aumento de pessoas com restrição alimentar é moda

Mito

Existe um modismo, mas essa “moda” veio tão forte que serviu para aqueles que realmente têm o problema perceberem os seus sintomas quando ingerem tais alimentos. Além disso, a intolerância à lactose e a doença celíaca estão começando a ser problemas conhecidos do grande público, facilitando a compreensão e conscientização dos pacientes e das pessoas próximas a eles para ajudar nos diagnósticos.

Se o glúten não me faz bem, devo cortá-lo da minha alimentação

Mito

Não, não é aconselhável retirar o glúten antes dos exames necessários para o diagnóstico. Os exames podem dar um falso-negativo e confundirem o profissional quanto ao fechamento do diagnóstico. Se a pessoa está sem consumir glúten, seria necessário voltar a consumi-lo pelo menos durante dois meses para positivar os exames, mas mesmo assim não há garantia de que esse tempo será suficiente. O pior é que essa volta ao glúten para confirmação do diagnóstico pode ser uma tortura para o paciente devido aos sintomas que essa proteína traz a quem tem alguma desordem relacionada a ela.

Após um diagnóstico, cortar o alimento é suficiente para se ter saúde

Mito

Não, é importante o acompanhamento médico e nutricional até que a pessoa esteja bem. Dependendo do tipo de problema apresentado, a compreensão do paciente sobre ele pode levar tempo. Quanto à intolerância à lactose, dependendo do grau, é possível ingerir uma certa quantidade de laticínios sem fazer mal ou fazer uso de enzimas lactase. A intolerância à lactose, em princípio, não causa deficiências nutricionais se a pessoa é bem orientada sobre a substituição de alimentos. Já no caso de alergias alimentares, depende se a alergia é em relação a um único alimento ou de vários, e a orientação nutricional faz-se necessária para evitar carências nutricionais. Mas com doença celíaca é preciso ter um cuidado com a absorção de nutrientes. Como o órgão afetado é o intestino, e é lá que ocorre a absorção de nutrientes, enquanto ele não estiver saudável e com suas vilosidades recuperadas, haverá má absorção de vitaminas e minerais.

Mudar hábitos em dietas restritivas é mais difícil

Verdade

Saúde está diretamente ligada a hábitos alimentares e estilo de vida. As dietas para alergias alimentares e doenças autoimunes são de pior adesão em função da idade avançada da descoberta ou, no caso das crianças, pela dificuldade de compreensão delas e da exigência do envolvimento de quem as cuida (pais, familiares e escola). Por parte do profissional, é necessário entendimento sobre o problema, o ambiente e condições em que vive o paciente e seu grau de instrução. É preciso dar toda a orientação sobre as substituições de alimentos, do cuidado com os rótulos, sobre contaminação, preparo, dar opções e até mesmo encaminhar para um psicólogo, pois muitos não aceitam a nova condição e não aderem ao tratamento.

Deficiência nutricional é comum em pessoas que não comem glúten

Verdade

Não é nada incomum um celíaco apresentar deficiências nutricionais pela má absorção de nutrientes, principalmente se não houver cuidado com a ingestão de glúten ou a contaminação cruzada. Muitas vezes é necessário um acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico para superar e aprender a lidar com a restrição, pois isso impacta no convívio social e hábitos de vida. Reforço que a orientação nutricional é de extrema importância para trocas alimentares, adequação da dieta e recuperação da saúde. É preciso ter paciência, a melhora não ocorrerá tão rapidamente. Leva tempo até que a pessoa se sinta segura na hora de escolher novos produtos. É preciso se reeducar, provar e incluir novos alimentos que provavelmente não faziam parte da rotina. Tem que aprender a cozinhar, ler rótulos e na dúvida não consumir mesmo que a vontade seja maior, pois não há como escapar: o único tratamento é a exclusão do glúten.

Cortar glúten pode engordar

Verdade

No caso de pessoas celíacas, antes do cuidado com alimentos que faziam mal, havia uma má absorção de nutrientes. Com a adequação de nutrientes é possível que o organismo queira recuperar tudo aquilo que vinha faltando e com isso aumentar o peso. Ou, ainda, pode ocorrer uma compensação com outros alimentos tão calóricos ou mais do que os habituais, pois farinhas sem glúten podem ter mais calorias e menos fibras dos que as que contêm glúten. Não há melhora na saúde se não tiver adesão de novos hábitos alimentares.

Combinação de alimentos têm impacto na dieta

Verdade

Diversas combinações contêm substâncias que interagem entre si influenciando na sua absorção, às vezes para o bem, outras de uma forma até prejudicial – e ainda vale lembrar que nem todos os nutrientes presentes no alimento são absorvidos na quantidade em que são consumidos. Nas interações benéficas, um nutriente favorece a absorção intestinal e o aproveitamento de outra substância, como a famosa dupla ferro (feijão) e vitamina C (laranja) ou cálcio (leite) e vitamina D (sol, gema de ovo e manteiga). Já o cálcio (leite) e o ferro (carne vermelha) competem entre si, prejudicando a absorção um do outro. Mas não basta combinar os nutrientes, o estado nutricional do indivíduo é um dos principais problemas para o aproveitamento das substâncias. A percepção de si mesmo é muito importante para cuidar disso.

Dicas para comer bem e economizar

– Aproveite a safra de cada alimento. Além de sair mais barato, o sabor será melhor do que de um vegetal ou fruta fora de época;

– Reserve um tempo para cozinhar. Você amplia suas opções de alimentos, e também pode ajudar a quebrar preconceitos e a experimentar novos ingredientes. Comer fora quase sempre sai mais caro;

– Dê preferência a temperos naturais para dar mais sabor às refeições, como orégano, pimentas, curry, manjericão, salsinha, entre outros. De uma forma geral, eles possuem componentes antioxidantes e zero caloria. Usar limão no lugar de sal, principalmente em saladas, pode ser útil para quem precisa diminuir o sódio da alimentação;

– Faça uma lista de compras antes de ir ao mercado pode ajudar muito. Seguir o que anotou ajuda a focar no que realmente está faltando e faz pensar duas vezes antes de se deixar seduzir por um alimento pouco nutritivo;

– Não vá às compras com fome. A fome faz tudo parecer muito mais apetitoso;

– Faça seu próprio suco. O jeito mais barato de beber sucos é fazê-los a partir da própria fruta – sucos industrializados custam caro e possuem uma quantidade exagerada de açúcar e conservantes;

– Programe-se para os dias de feira no seu bairro ou aproveite os dias de hortifrutis e carnes nos supermercados.

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