Mofo e umidade: como eles podem afetar sua saúde e como eliminar de vez da sua casa
Alergista alerta sobre os riscos do mofo para a saúde respiratória e explica como combater o problema dentro de casa
Por trás de manchas escuras nas paredes, cheiro de mofo e aquela sensação de ar pesado, esconde-se um problema de saúde pública frequentemente ignorado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% das edificações no mundo apresentam algum tipo de problema relacionado à umidade e mofo, fatores diretamente ligados ao aumento de doenças respiratórias.
No Brasil, país de clima predominantemente úmido, a situação é ainda mais crítica. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunologia (SBAI), as alergias respiratórias afetam cerca de 30% da população, sendo que muitos desses casos estão relacionados à exposição contínua a ácaros, fungos e outros agentes presentes em ambientes domésticos.
“A presença de mofo e umidade dentro de casa não é apenas um problema estético. É, sim, uma ameaça concreta à saúde”, alerta a Dra. Brianna Nicoletti, médica alergista e imunologista pela USP, em entrevista à Catraca Livre. Ela explica que locais úmidos favorecem a proliferação de fungos como Aspergillus, Penicillium e Cladosporium, além de ácaros, que liberam esporos e partículas alergênicas no ar.

Respire fundo… se conseguir
O mofo é classificado como um alérgeno respiratório importante. “Quando inalamos esses esporos, nosso sistema imunológico, em pessoas predispostas, reage de forma exagerada, provocando inflamação das vias aéreas”, explica Brianna. Isso se manifesta por meio de sintomas clássicos de rinite, como espirros, coriza e obstrução nasal, ou quadros mais graves, como crises de asma — doença que, segundo o Ministério da Saúde, atinge 6,4 milhões de brasileiros.
A especialista reforça que não se trata apenas de incômodo. “O ar úmido e mofado interfere diretamente na qualidade do sono, na respiração e, consequentemente, no bem-estar geral das pessoas.”
Sintomas e sinais de alerta
Os efeitos do mofo vão muito além do desconforto. Estudos da Environmental Protection Agency (EPA), dos Estados Unidos, indicam que a exposição prolongada a fungos aumenta significativamente o risco de desenvolver doenças respiratórias, mesmo em indivíduos sem histórico prévio de alergia.
Entre os principais sintomas associados estão:
- Espirros constantes e nariz entupido, especialmente ao acordar;
- Coceira nos olhos, nariz e garganta;
- Tosse seca, persistente e sem explicação aparente;
- Chiado no peito e falta de ar, principalmente à noite;
- Sensação de cansaço, dor de cabeça e ar pesado no ambiente.
“Se os sintomas melhoram quando a pessoa se afasta de casa, como em viagens, e retornam quando ela volta, esse é um sinal claro de que o ambiente está contribuindo para o quadro alérgico”, ressalta a médica.

Quem sofre mais?
Crianças e idosos estão no topo da lista dos mais vulneráveis. “O sistema respiratório das crianças ainda está em desenvolvimento, o que as torna mais suscetíveis. Já os idosos possuem imunidade naturalmente mais frágil”, explica Brianna.
Além deles, pessoas com histórico de rinite, asma, dermatite atópica, doenças autoimunes, pacientes oncológicos ou transplantados correm riscos maiores. Para esse público, segundo a especialista, evitar ambientes com mofo não é só uma recomendação: é parte essencial do tratamento e da prevenção de crises.
O perigo não escolhe vítimas
Engana-se quem acredita que o problema se limita aos alérgicos. A própria OMS reconhece que a exposição ao mofo está ligada ao aumento de infecções respiratórias, crises de sinusite, dores de cabeça e fadiga crônica, mesmo em pessoas saudáveis.
“Qualquer indivíduo exposto a esporos de fungos em alta concentração pode apresentar irritação nasal, ocular, tosse seca ou ardência nos olhos e nariz”, alerta Brianna. Ela explica ainda que, com o tempo, uma pessoa pode se tornar alérgica por conta da exposição contínua — um processo chamado de sensibilização alérgica.
Ambientes campeões de umidade
Dentro de casa, alguns cômodos são praticamente fábricas de fungos quando não recebem os devidos cuidados. Banheiros sem ventilação natural, áreas de serviço, armários embutidos, quartos com infiltrações e locais com vazamentos são os mais propensos.
De acordo com um relatório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), ambientes fechados, mal ventilados e com umidade superior a 60% são ideais para a proliferação de mofo e ácaros. “Ambientes pouco iluminados, sem circulação de ar, se tornam verdadeiros focos de problemas respiratórios”, reforça a médica.
Prevenção: o melhor remédio
A boa notícia é que há formas eficazes de prevenir o problema. A principal delas, segundo a especialista, é garantir ventilação adequada. “Abrir janelas todos os dias, mesmo no inverno, faz toda a diferença”, orienta.
Outras medidas importantes incluem:
- Consertar infiltrações e vazamentos o quanto antes;
- Evitar secar roupas dentro de casa;
- Usar desumidificadores ou carvão ativado, especialmente em armários e ambientes pouco ventilados;
- Limpar superfícies propensas ao mofo com soluções simples, como água sanitária diluída (uma parte para dez de água);
- Reduzir o excesso de objetos que dificultem a circulação do ar.
“O ar parado e úmido é o grande vilão. A circulação de ar e a entrada de luz solar são inimigos naturais do mofo”, destaca Brianna.

Quando buscar ajuda médica?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), cerca de 20% dos atendimentos em consultórios de pneumologia estão relacionados a problemas decorrentes da qualidade do ar nos ambientes internos.
Brianna orienta que se deve procurar um alergista quando:
- Os sintomas são persistentes e não melhoram com medidas caseiras;
- Há dificuldade para dormir ou realizar atividades do dia a dia devido aos sintomas;
- As crises de asma ou rinite se tornam mais frequentes;
- Percebe-se piora dos sintomas em determinados cômodos da casa.
- Nesses casos, o especialista poderá solicitar exames específicos, como testes de IgE, e orientar tanto o controle ambiental quanto o uso de medicamentos.
Tratamento e qualidade de vida
O tratamento inclui três pilares: controle ambiental, uso de medicamentos e, quando indicado, imunoterapia. “Eliminar ou reduzir o máximo possível a exposição ao mofo é o primeiro passo. Depois, entramos com antialérgicos, sprays nasais ou broncodilatadores, conforme a gravidade de cada caso”, detalha a médica.
Em situações mais crônicas, pode ser indicada a imunoterapia — as chamadas vacinas de alergia — que ajudam o sistema imunológico a reagir de forma menos intensa aos alérgenos.
Por fim, Brianna reforça a importância da educação dos pacientes. “Orientamos que a família monitore a umidade do ambiente, faça manutenção periódica de filtros de ar e adote hábitos que garantam uma casa sempre ventilada, seca e limpa. Isso é fundamental para a saúde respiratória de toda a família.”