Por que o mosquito da dengue está mais resistente ao inseticida?

O estudo, divulgado em agosto de 2024, mostra o impacto global desse fenômeno

Por André Nicolau em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
25/10/2024 21:00

A dengue é uma doença viral passada pelo mosquito Aedes Aegypti – Soumyabrata Roy/istock
A dengue é uma doença viral passada pelo mosquito Aedes Aegypti – Soumyabrata Roy/istock - Soumyabrata Roy/istock

Segundo artigo publicado pela revista científica Parasites & Vectors, embora o inseticida seja hoje um dos métodos mais eficazes de prevenção ao mosquito da dengue, a resistência às substâncias presentes nos produtos tem colocado em xeque o controle populacional do Aedes aegypti. 

O estudo, divulgado em agosto de 2024, mostra o impacto global desse fenômeno, evidenciando uma mutação inédita do Aedes aegypti identificada na Argentina.

Por que o mosquito da dengue está mais resistente ao inseticida?

 O Aedes aegypti é também um transmissor de doenças sérias, como zika, chikungunya e febre amarela.  

Os piretróides, grupo de inseticidas que inclui a permetrina, têm sido amplamente utilizados para combater o mosquito da dengue. Contudo, desde 2013, notou-se uma redução na efetividade desses compostos contra o Aedes aegypti, segundo o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet), da Argentina. Esse fenômeno impulsionou uma investigação aprofundada.

Como foi feito estudo?

Cientistas do Conicet, em parceria com a Universidade de Salta e a Fundação Mundo Sano, coletaram ovos de Aedes aegypti nas cidades argentinas de Orán, Tartagal, Clorinda e Puerto Iguazú, criando-os em laboratório até a fase adulta. Sob cuidadosas condições de biossegurança, esses insetos foram submetidos a doses de piretróides – doses que, teoricamente, seriam letais.

O resultado? Todas as populações testadas apresentaram uma resistência notável ao composto. “Aplicamos até dez vezes a dose comum, e os mosquitos ainda resistiram”, afirma Laura Harburguer, PhD em Biologia e pesquisadora do Conicet, que liderou o estudo.

A análise revelou uma mutação genética inédita, chamada V410L, no Aedes aegypti, ligada à sua capacidade de resistir aos piretróides. Além dessa, foram identificadas outras duas mutações já conhecidas (F1534C e V1016I), que, quando combinadas, contribuem para essa elevada resistência, explica Paula Gonzalez, autora principal do estudo e pesquisadora do Conicet, em uma publicação da organização argentina.

Essa resistência, segundo o estudo, é um subproduto do uso intensivo e contínuo dos piretróides, levantando preocupações sobre o futuro do combate ao Aedes aegypti e os desafios globais que a evolução desse vetor traz para o controle de doenças tropicais.