‘Nem todo caso que parece Parkinson é realmente Parkinson’, alerta médico sobre diagnóstico equivocado
Dificuldade para andar e perda de memória nem sempre são Parkinson; entenda os sinais e saiba diferenciar
Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, celebrado nesta sexta-feira, 11 de abril, o alerta do Dr. Fernando Gomes, neurocirurgião, neurocientista e professor livre-docente da USP, ganha ainda mais relevância: é preciso atenção ao diagnóstico.
Isso porque há condições neurológicas que imitam os sintomas do Parkinson, mas exigem tratamentos completamente diferentes.
“Nem todo caso que parece Parkinson é realmente Parkinson. Muitos pacientes que apresentam sintomas como dificuldade para caminhar, incontinência urinária e lapsos de memória podem, na verdade, estar enfrentando um quadro de Hidrocefalia de Pressão Normal (HPN) — uma condição menos conhecida, mas uma das poucas formas de demência com tratamento eficaz disponível”, afirma o médico.

O que é a HPN?
A Hidrocefalia de Pressão Normal é uma condição causada pelo acúmulo de líquido cefalorraquidiano nos ventrículos cerebrais.
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Esse acúmulo provoca alterações no cérebro mesmo sem aumento da pressão intracraniana detectável, o que torna o diagnóstico mais difícil.
“A HPN é uma condição neurológica que ocorre quando há acúmulo de líquido cefalorraquidiano nos ventrículos do cérebro, provocando pressão anormal, mas sem aumento da pressão intracraniana detectável”, explica Dr. Fernando Gomes.
Ainda segundo o médico, como os sinais da HPN são sutis, eles são frequentemente confundidos com envelhecimento natural ou com doenças, como o Parkinson. “Por isso, muitas vezes o paciente deixa de receber o tratamento adequado, simplesmente por desconhecimento.”
Sintomas que confundem
Entre os principais sinais da HPN estão a dificuldade para andar, com passos curtos e desequilíbrio; incontinência urinária, que pode começar como urgência e evoluir para perda involuntária; e perda de memória ou outros sintomas cognitivos.
“Esses sinais costumam surgir a partir dos 65 anos e são muitas vezes ignorados pela própria família, que atribui ao envelhecimento ou à progressão de doenças neurodegenerativas”, afirma.
Esses sintomas se sobrepõem aos de outras doenças comuns na terceira idade, como Parkinson e Alzheimer, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador.
A ausência de tremores, porém, costuma ser um diferencial importante: tremores são típicos do Parkinson, mas não da HPN.
Diagnóstico e tratamento
A boa notícia é que a HPN pode ser identificada por exames de imagem como tomografia de crânio e ressonância magnética de encéfalo, que revelam o aumento dos ventrículos cerebrais.
Com o diagnóstico correto, o tratamento — geralmente feito com a colocação de uma válvula de derivação para drenar o excesso de líquido — pode reverter significativamente os sintomas.
“Quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maiores são as chances de melhorar a qualidade de vida do paciente e retardar a progressão da doença”, reforça.
Entenda as diferenças entre Parkinson e HPN
A Doença de Parkinson é um distúrbio neurológico progressivo causado pela degeneração de células responsáveis pela produção de dopamina, substância essencial para o controle dos movimentos.
Os sintomas mais comuns são tremores, rigidez muscular, lentidão nos movimentos e alterações na fala e no equilíbrio. É incurável, mas tratável com medicamentos, fisioterapia e, em alguns casos, cirurgia.
Já a Hidrocefalia de Pressão Normal é uma condição que pode simular o Parkinson, mas tem outra origem: o acúmulo de líquido no cérebro.
Seus sintomas — alterações na marcha, incontinência e déficit cognitivo — podem ser revertidos com o tratamento cirúrgico, especialmente quando diagnosticada precocemente.
Neste 11 de abril, o recado é claro: reconhecer os sinais é fundamental. Nem toda dificuldade para andar ou perda de memória em idosos significa Parkinson. Diante de sintomas persistentes, buscar avaliação especializada é essencial.