Nove fatores de risco que podem estar ligados à demência

20/07/2017 15:06

Um em cada três casos de demência poderia ser prevenido se fosse dada a devida atenção à saúde do cérebro ao longo da vida, visando nove fatores de risco, incluindo educação continuada no início da vida, reduzindo a perda auditiva na meia-idade e o tabagismo na vida adulta.

 47 milhões de pessoas no mundo vivem com demência, problema deve triplicar até 2050 
 47 milhões de pessoas no mundo vivem com demência, problema deve triplicar até 2050  - Getty Images/iStockphoto

Um relatório, feito por de pesquisadores da University College London (UCL), Inglaterra), aponta o impacto de fatores de risco em todos os estágios da vida e quantifica a contribuição potencial da perda auditiva e do isolamento social como fatores de risco para a demência, segundo o site  da instituição.

A ‘Comissão Lancet sobre prevenção, intervenção e cuidados de demência’ apresentou-se na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer 2017 que terminou ontem, 19- e combina a experiência de 24 especialistas internacionais para realizar uma revisão abrangente da doença, incluindo pontos chave para ajudar a melhorar os cuidados para prevenção da demência.

As últimas estimativas apontam que cerca de 47 milhões de pessoas no mundo vivem com demência, o problema deve triplicar até 2050, atingindo 131 milhões. Os casos aumentam principalmente em países de baixa e média renda.

Para o ator principal do estudo, Professor Gill Livingston (UCL Psychiatry), atuar agora – e preventivamente para as novas gerações – pode transformar o futuro da sociedade.

“Embora a demência seja diagnosticada na vida adulta, as alterações cerebrais geralmente começam a se desenvolver anos antes”, afirma Gil Livingston
“Embora a demência seja diagnosticada na vida adulta, as alterações cerebrais geralmente começam a se desenvolver anos antes”, afirma Gil Livingston - Getty Images/iStockphoto

“Embora a demência seja diagnosticada na vida adulta, as alterações cerebrais geralmente começam a se desenvolver anos antes, com fatores de risco para o desenvolvimento da doença ocorrendo ao longo da vida, não apenas na velhice. Acreditamos que uma abordagem mais ampla para a prevenção da demência, que reflita esses fatores de risco, irá beneficiar nossas sociedades em envelhecimento e ajudar a prevenir o crescente número de casos de demência globalmente”, afirma Livingston.

O relatório aponta nove fatores de saúde e hábitos – em vários estágios da vida – que podem impactar no desenvolvimento de demência:

  1. Não ter acesso ou não permanecer no sistema educacional até (pelo menos) os 15 anos de idade
  2. Pressão arterial elevada
  3. Obesidade na meia idade (45-65 anos)
  4. Perda auditiva na meia idade (45-65 anos)
  5. Tabagismo
  6. Depressão
  7. Inatividade física
  8. Isolamento social
  9. Diabetes na vida adulta (acima de 65 anos)

Segundo o estudo, a estimativa é que a erradicação desses fatores poderia prevenir um em cada três casos de demência (35%). Comparativamente, encontrar uma maneira de atingir o principal fator de risco genético, o alelo ε4 da apolipoproteína E (ApoE), preveniria menos de um em cada 10 (7%) casos.

Completar o ensino secundário pode diminuir em 8% o risco de demência
Completar o ensino secundário pode diminuir em 8% o risco de demência - Getty Images/iStockphoto

Dos 35% de todos os casos de demência que poderiam ser prevenidos, os três fatores de risco mais comuns apontados foram a falta de acesso à educação no início da vida (estima-se que reduziria o número total de casos de demência em 8% se todas as pessoas continuassem a educação até, pelo menos, os 15 anos), atentar para a perda de audição na metade da vida (reduziria o número de casos em 9% se todas as pessoas foram tratadas) e evitar o tabagismo ou parar de fumar (diminuiria em 5% o número de casos).

Não completar o ensino secundário no início da vida pode aumentar o risco de demência ao reduzir a reserva cognitiva – uma resiliência ao declínio cognitivo causado pelo cérebro, que fortalece suas redes e, portanto, o ajuda a continuar a funcionando na vida adulta, apesar dos danos.

Preservar a audição pode ajudar as pessoas a experimentar um ambiente cognitivamente rico e criar uma reserva cognitiva, o que pode ser perdido se a ela estiver prejudicada.

Parar de fumar, por sua vez, é importante para reduzir a exposição a neurotoxinas e melhorar a saúde cardiovascular, o que, por sua vez, afeta a saúde cerebral.

Para combater esses pontos, pesquisadores sugerem intervenções de saúde pública, incluindo a criação de reservas cognitivas, aumentando o número de crianças que completaram o ensino secundário e, mais tarde, envolvendo-as em atividades mentalmente estimulantes, como o envolvimento em um hobby, ir ao cinema, restaurantes ou eventos esportivos, leitura, trabalho voluntário, jogos e ter uma vida social ocupada.

“A sociedade deve se engajar em formas de reduzir o risco de demência ao longo da vida e melhorar o atendimento e tratamento para aqueles que já tema doença. Isso inclui o fornecimento de intervenções sociais e de cuidados de saúde seguros e eficazes para integrar pessoas com demência dentro de suas comunidades. Espero que isso também assegure que as pessoas com demência, suas famílias e cuidadores se encontrem com uma sociedade que os aceite e apoie “, diz o co-autor Professor Lon Schneider, Faculdade de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia, EUA.

Os autores observam algumas limitações dentro de suas estimativas, já que não levam em consideração a dieta e ingestão de álcool. Algumas estimativas não podem ser baseadas em dados globais, pois tais dados não estavam disponíveis.