Nove fatores de risco que podem estar ligados à demência
Um em cada três casos de demência poderia ser prevenido se fosse dada a devida atenção à saúde do cérebro ao longo da vida, visando nove fatores de risco, incluindo educação continuada no início da vida, reduzindo a perda auditiva na meia-idade e o tabagismo na vida adulta.
Um relatório, feito por de pesquisadores da University College London (UCL), Inglaterra), aponta o impacto de fatores de risco em todos os estágios da vida e quantifica a contribuição potencial da perda auditiva e do isolamento social como fatores de risco para a demência, segundo o site da instituição.
A ‘Comissão Lancet sobre prevenção, intervenção e cuidados de demência’ apresentou-se na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer 2017 que terminou ontem, 19- e combina a experiência de 24 especialistas internacionais para realizar uma revisão abrangente da doença, incluindo pontos chave para ajudar a melhorar os cuidados para prevenção da demência.
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As últimas estimativas apontam que cerca de 47 milhões de pessoas no mundo vivem com demência, o problema deve triplicar até 2050, atingindo 131 milhões. Os casos aumentam principalmente em países de baixa e média renda.
Para o ator principal do estudo, Professor Gill Livingston (UCL Psychiatry), atuar agora – e preventivamente para as novas gerações – pode transformar o futuro da sociedade.
“Embora a demência seja diagnosticada na vida adulta, as alterações cerebrais geralmente começam a se desenvolver anos antes, com fatores de risco para o desenvolvimento da doença ocorrendo ao longo da vida, não apenas na velhice. Acreditamos que uma abordagem mais ampla para a prevenção da demência, que reflita esses fatores de risco, irá beneficiar nossas sociedades em envelhecimento e ajudar a prevenir o crescente número de casos de demência globalmente”, afirma Livingston.
O relatório aponta nove fatores de saúde e hábitos – em vários estágios da vida – que podem impactar no desenvolvimento de demência:
- Não ter acesso ou não permanecer no sistema educacional até (pelo menos) os 15 anos de idade
- Pressão arterial elevada
- Obesidade na meia idade (45-65 anos)
- Perda auditiva na meia idade (45-65 anos)
- Tabagismo
- Depressão
- Inatividade física
- Isolamento social
- Diabetes na vida adulta (acima de 65 anos)
Segundo o estudo, a estimativa é que a erradicação desses fatores poderia prevenir um em cada três casos de demência (35%). Comparativamente, encontrar uma maneira de atingir o principal fator de risco genético, o alelo ε4 da apolipoproteína E (ApoE), preveniria menos de um em cada 10 (7%) casos.
Dos 35% de todos os casos de demência que poderiam ser prevenidos, os três fatores de risco mais comuns apontados foram a falta de acesso à educação no início da vida (estima-se que reduziria o número total de casos de demência em 8% se todas as pessoas continuassem a educação até, pelo menos, os 15 anos), atentar para a perda de audição na metade da vida (reduziria o número de casos em 9% se todas as pessoas foram tratadas) e evitar o tabagismo ou parar de fumar (diminuiria em 5% o número de casos).
Não completar o ensino secundário no início da vida pode aumentar o risco de demência ao reduzir a reserva cognitiva – uma resiliência ao declínio cognitivo causado pelo cérebro, que fortalece suas redes e, portanto, o ajuda a continuar a funcionando na vida adulta, apesar dos danos.
Preservar a audição pode ajudar as pessoas a experimentar um ambiente cognitivamente rico e criar uma reserva cognitiva, o que pode ser perdido se a ela estiver prejudicada.
Parar de fumar, por sua vez, é importante para reduzir a exposição a neurotoxinas e melhorar a saúde cardiovascular, o que, por sua vez, afeta a saúde cerebral.
Para combater esses pontos, pesquisadores sugerem intervenções de saúde pública, incluindo a criação de reservas cognitivas, aumentando o número de crianças que completaram o ensino secundário e, mais tarde, envolvendo-as em atividades mentalmente estimulantes, como o envolvimento em um hobby, ir ao cinema, restaurantes ou eventos esportivos, leitura, trabalho voluntário, jogos e ter uma vida social ocupada.
“A sociedade deve se engajar em formas de reduzir o risco de demência ao longo da vida e melhorar o atendimento e tratamento para aqueles que já tema doença. Isso inclui o fornecimento de intervenções sociais e de cuidados de saúde seguros e eficazes para integrar pessoas com demência dentro de suas comunidades. Espero que isso também assegure que as pessoas com demência, suas famílias e cuidadores se encontrem com uma sociedade que os aceite e apoie “, diz o co-autor Professor Lon Schneider, Faculdade de Medicina Keck da Universidade do Sul da Califórnia, EUA.
Os autores observam algumas limitações dentro de suas estimativas, já que não levam em consideração a dieta e ingestão de álcool. Algumas estimativas não podem ser baseadas em dados globais, pois tais dados não estavam disponíveis.