Novo estudo traz avanço promissor na busca pela cura do HIV

Estudo internacional testa com sucesso tecnologia que desperta o HIV oculto nas células, tornando-o vulnerável a tratamentos

Por Wallace Leray em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
06/06/2025 15:16 / Atualizado em 24/06/2025 22:25

Uma nova abordagem científica reacende as esperanças em torno da cura do HIV, vírus causador da aids. Pesquisadores da Austrália, Estados Unidos e Holanda desenvolveram uma tecnologia inovadora baseada em mRNA — a mesma utilizada nas vacinas contra a Covid-19 — capaz de reativar o HIV latente, considerado o maior obstáculo à erradicação do vírus no organismo. O estudo foi publicado em maio na revista científica Nature Communications.

Novo estudo traz avanço promissor na busca pela cura do HIV
Novo estudo traz avanço promissor na busca pela cura do HIV - iStock/jarun011

O desafio do HIV latente

Apesar da eficácia dos antirretrovirais em controlar a carga viral no sangue, o HIV tem a capacidade de permanecer adormecido dentro das células T CD4+ do sistema imunológico. Nessa fase latente, o vírus não é detectado nem destruído pelo sistema imune nem pelos medicamentos convencionais. Por isso, quando o tratamento é interrompido, o vírus volta a se multiplicar. Esse “esconderijo” viral é o principal entrave para a cura definitiva da doença.

Como funciona a nova técnica com mRNA

A equipe de cientistas programou moléculas de RNA mensageiro (mRNA) para carregar instruções específicas até as células infectadas. Essas instruções estimulam a produção da proteína viral Tat, um elemento essencial para a reativação do HIV. Para garantir que o mRNA chegasse ao seu destino, os pesquisadores utilizaram nanopartículas lipídicas — pequenas cápsulas de gordura que protegem e transportam o material genético até o interior das células.

A proteína Tat funciona como um “interruptor”, acordando o vírus dormente e tornando-o visível ao sistema imunológico ou a terapias complementares. Isso aumenta significativamente as chances de que as células infectadas sejam finalmente destruídas.

Cientistas programam mRNA para “acordar” o HIV escondido no corpo e facilitar sua destruição.
Cientistas programam mRNA para “acordar” o HIV escondido no corpo e facilitar sua destruição. - iStock/Artem_Egorov

CRISPR também foi testada

Além da estratégia com mRNA, os pesquisadores experimentaram uma abordagem baseada na tecnologia CRISPR, tradicionalmente usada para editar genes. Neste caso, a CRISPR foi adaptada para ativar o DNA viral do HIV sem realizar cortes. Embora essa técnica tenha se mostrado menos eficaz do que a reativação com a proteína Tat, ela demonstrou alta precisão, afetando apenas os genes-alvo, sem causar danos às células saudáveis.

Resultados promissores, mas ainda preliminares

Os experimentos foram realizados em laboratório, com células sanguíneas de pessoas vivendo com HIV. Apesar de não terem conseguido eliminar completamente o vírus, os cientistas alcançaram sucesso na reativação da forma latente, um passo essencial para uma possível cura no futuro.

Nanopartículas lipídicas transportam instruções genéticas até as células infectadas para expor o vírus latente.
Nanopartículas lipídicas transportam instruções genéticas até as células infectadas para expor o vírus latente. - iStock/dragana991

Próximos passos e aplicações futuras

Os autores do estudo ressaltam que essa abordagem pode ir além do HIV. Como os glóbulos brancos também estão envolvidos em outras doenças, como certos tipos de câncer e enfermidades autoimunes, a tecnologia pode ter implicações terapêuticas mais amplas. Os próximos estágios da pesquisa envolvem testes em modelos animais e, posteriormente, ensaios clínicos em humanos, com o objetivo de avaliar a segurança e a viabilidade da técnica em larga escala.