O cara que degusta sons

13/05/2015 18:22 / Atualizado em 06/05/2020 21:13

Texto por Kate Samuelson

 
 

Ketchup, presunto, elástico e torta de amêndoa são apenas quatro dos vários sabores que James Wannerton degustou durante nossa entrevista. Ele concordou em conceder a palavra porque meu nome, Kate, tem gosto de chocolate e, segundo ele, suas papilas gustativas o distrairiam durante boa parte de nossa conversa.

Wannerton tem um tipo raro de sinestesia conhecida como sinestesia léxico-gustativa, o que significa que sua audição e seu paladar não funcionam separados um do outro. Para Wannerton, cada palavra falada tem um sabor distinto. Embora esses sons não tenham uma ligação clara com seus respectivos gostos, os sabores são sempre os mesmos; a palavra “falar”, por exemplo, tem gosto de bacon desde que Wannerton se entende por gente.

“Palavras e sons fazem ‘ping, ping, ping’ na minha boca o tempo todo, como uma lâmpada piscando sem parar”, explicou. “Alguns sabores vão embora rápido, mas outros podem durar por horas e me fazem desejar aquela comida específica; fico meio distraído até satisfazer a vontade.”

Wannerton acredita que já nasceu com a sinestesia, uma condição herdada de sua mãe, que vê “os dias da semana como cores”. Em geral, a sinestesia não é tão rara; ela ocorre em quase 4% da população e costuma se manifestar como uma ligação entre letras e cores conhecida como sinestesia grafema-cor. Essa condição faz, por exemplo, que os afetados “saibam” com toda certeza que a letra “A” é vermelha. O tipo de sinestesia rara de Wannerton, porém, levou décadas para ser propriamente estudada.

“Quando eu tinha dez anos, meus pais me levaram para o médico da família porque eu me distraía com sabores durante minhas provas — o som de um lápis caindo da carteira tinha gosto de pão integral, e isso tirava minha atenção”, ele disse. “O médico disse que aquilo fazia parte do processo de amadurecimento, que eu tinha uma imaginação hiperativa e que eu esqueceria tudo com o tempo. Durante minha adolescência, o consenso era que eu estava tentando chamar atenção. Só desobri que a sinestesia existia aos 20 anos.”

Onze anos depois, os cientistas começaram a se interessar pelo quadro de Wannerton. Em 1991, ele foi transferido para o Hospital Maudsley em Londres, instituição especializada em trauma craniano, para fazer alguns testes. Anos depois ele… [Continue lendo aqui.]