O mito da conexão entre celulares e câncer: o que a ciência realmente diz?

Essa preocupação, que atravessa décadas, motivou investigações extensivas

Por André Nicolau em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
12/02/2025 11:00

Essa preocupação, que atravessa décadas, motivou investigações extensivas – gorodenkoff/iStock
Essa preocupação, que atravessa décadas, motivou investigações extensivas – gorodenkoff/iStock - Getty Images

A controvérsia acerca da suposta relação entre o uso de telefones celulares e o desenvolvimento de câncer cerebral tem sido um tema recorrente em debates científicos e públicos.

Essa preocupação, que atravessa décadas, motivou investigações extensivas, visando compreender eventuais riscos associados à exposição às radiofrequências emitidas por esses dispositivos.

Recentemente, uma ampla revisão científica, conduzida sob solicitação da Organização Mundial da Saúde (OMS), ofereceu um posicionamento conclusivo: não há evidências que sustentem a hipótese de que o uso de celulares esteja associado ao desenvolvimento de câncer, mesmo entre os usuários mais assíduos.

O estudo foi elaborado por um grupo de 11 especialistas provenientes de 10 países distintos, que analisaram meticulosamente décadas de pesquisas sobre o tema. Ao examinarem aproximadamente 5.000 estudos publicados entre 1994 e 2022, os cientistas selecionaram 63 trabalhos para uma avaliação aprofundada. Os resultados dessa investigação foram divulgados no renomado periódico Environment International.

Principais descobertas

A revisão científica explorou a relação entre a exposição às radiofrequências de celulares e o risco de tumores cerebrais. Uma das questões centrais era determinar se o uso prolongado desses dispositivos poderia aumentar a incidência de câncer.

Os resultados foram tranquilizadores. Mesmo entre aqueles que utilizam seus celulares há mais de 10 anos e passam longas horas em chamadas telefônicas, não houve aumento significativo na incidência de tumores cerebrais. Além disso, a pesquisa analisou a exposição de crianças a emissores de radiofrequência, como antenas de telefonia, sinais de televisão e transmissores de rádio, concluindo que não há correlação relevante com o aumento do risco de leucemia ou câncer cerebral.

A origem da preocupação

O receio quanto aos possíveis efeitos cancerígenos das ondas de radiofrequência ganhou força em 2011, quando a Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (IARC), vinculada à OMS, classificou essas ondas como “possivelmente cancerígenas para humanos”. Essa classificação teve base em evidências limitadas, oriundas de estudos observacionais.

A partir desse momento, dispositivos que emitem radiofrequência, como celulares, redes WiFi e torres de transmissão, passaram a ser vistos com certo ceticismo. Para dissipar essas incertezas, a OMS encomendou uma revisão científica mais abrangente e criteriosa, cujos resultados recentes indicam que não há motivos para alarme.

Implicações para o usuário

Se você é uma daquelas pessoas que passam horas ao telefone, pode se tranquilizar. As evidências mais recentes reforçam que, ao menos no que se refere ao câncer, o uso do celular não representa uma ameaça. Assim, é possível continuar utilizando seu dispositivo sem receios infundados, mantendo-se, como sempre, atento a novas descobertas da ciência.

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