O que a ciência descobriu no coração de homem que correu 366 maratonas em um ano

Hugo Farias completou uma maratona por dia durante 1 ano, sob monitoramento do InCor, que analisou os efeitos extremos no coração

Por Clara Figueiredo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
12/06/2025 09:00 / Atualizado em 22/06/2025 23:35

A inspiração veio de Stefaan Engels, atleta belga que completou 365 maratonas em um ano
A inspiração veio de Stefaan Engels, atleta belga que completou 365 maratonas em um ano - iStock/ LeonidKos

Em uma época em que correr virou tendência e completar uma maratona já é um grande desafio, o brasileiro Hugo Farias, de 45 anos, levou essa meta a um nível inimaginável: correu uma maratona — 42,195 km — todos os dias durante um ano inteiro, totalizando 366 maratonas em 366 dias consecutivos.

A inspiração veio de Stefaan Engels, atleta belga que completou 365 maratonas em um ano. Hugo quis ir além: adicionou um dia a mais ao projeto e transformou o desafio em algo ainda mais extremo.

“Foram 22 anos na área de tecnologia, mas comecei a sentir um vazio. Queria um desafio que me reconectasse com um propósito maior. Correr 366 maratonas não era só sobre correr, era sobre me redescobrir e inspirar outras pessoas”, compartilhou em suas redes.

O desafio além da corrida

A preparação levou oito meses e envolveu não só treinos, mas também um planejamento logístico intenso, suporte da família e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar — treinador, fisioterapeuta, psicóloga e médicos.

Durante toda a jornada, o coração de Hugo foi monitorado por especialistas do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo. O objetivo era entender como o corpo — e, especialmente, o sistema cardiovascular — responderia a esse esforço físico extremo e diário. Os resultados saíram este ano, publicados na revista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Benefícios comprovados da corrida

A corrida é uma das atividades físicas mais acessíveis e com benefícios cientificamente comprovados, tanto físicos quanto mentais. Logo nas primeiras semanas, já é possível perceber:

  • Melhora no humor, redução do estresse e sensação de bem-estar, graças à liberação de endorfina e serotonina.
  • Qualidade do sono aprimorada, com relaxamento natural do corpo.
  • Mais fôlego, força e resistência muscular com a prática constante.
  • Gasto calórico elevado, que continua até 36 horas após o treino.

O que aconteceu com o coração de Hugo?

Antes do início, Hugo passou por uma série de exames no InCor — eletrocardiograma, testes de sangue, avaliação física e teste de esforço. Todos esses procedimentos foram repetidos regularmente durante o desafio.

O que os médicos descobriram surpreendeu: o coração dele permaneceu saudável e funcionando normalmente durante todo o período.

  • A capacidade cardiorrespiratória se manteve alta para a sua idade.
  • O coração continuou com força de contração adequada e sem arritmias perigosas.
  • Marcadores de inflamação e lesão muscular ficaram dentro dos padrões saudáveis.
  • Nenhum sinal de sobrecarga cardíaca foi identificado.
Hugo correu uma maratona — 42,195 km — todos os dias durante um ano inteiro, totalizando 366 maratonas em 366 dias consecutivos
Hugo correu uma maratona — 42,195 km — todos os dias durante um ano inteiro, totalizando 366 maratonas em 366 dias consecutivos - iStock/ bymuratdeniz

Um feito que virou ciência (e recorde)

O estudo mostrou que o corpo de Hugo se adaptou ao estresse físico extremo sem apresentar danos cardíacos. É um dos primeiros registros científicos de acompanhamento médico contínuo de um desafio dessa magnitude.

Hugo finalizou o projeto em 28 de agosto de 2023, acumulando 15.569 km em 1.590 horas de corrida. O feito foi certificado pelo Guinness World Records como o maior número de maratonas consecutivas já realizadas por uma pessoa.

Um alerta importante

Apesar dos resultados surpreendentes, os médicos reforçam que esse tipo de desafio só é possível com acompanhamento profissional rigoroso. Não é algo seguro para ser replicado sem avaliação médica e suporte especializado. “Esses dados reforçam a importância de uma avaliação cardiovascular detalhada em atletas que enfrentam desafios de resistência extrema”, concluem os pesquisadores no artigo.