O que significa falar dormindo? Mitos e verdades sobre o comportamento noturno
Quem fala dormindo raramente percebe, mas esse comportamento pode estar ligado ao stress, emoções acumuladas e à forma como o cérebro descansa
Falar dormindo é um comportamento que chama a atenção de familiares e parceiros de quarto, gerando curiosidade sobre o que está acontecendo na mente de quem está na cama. Em muitos casos, a pessoa nem sequer lembra que falou alguma coisa durante a noite, o que aumenta dúvidas sobre o que esse fenômeno pode indicar sobre emoções, conflitos internos e funcionamento psicológico.

O que é falar dormindo do ponto de vista clínico?
O hábito de falar dormindo é conhecido como somniloquia e é classificado como uma parassonia, ou seja, um comportamento incomum que ocorre durante o sono. Ele pode surgir tanto nas fases mais leves quanto nas mais profundas, variando em intensidade e clareza da fala, e muitas vezes é um evento benigno.
Em contexto clínico, profissionais observam se a fala está associada a outros sinais, como pesadelos frequentes, despertares abruptos, movimentos bruscos ou cansaço excessivo durante o dia. Quando ocorre de forma isolada, tende a ser vista como reflexo do funcionamento cerebral noturno, sem indicação direta de transtorno mental.
Confira abaixo um vídeo no Tiktok @muitosqueremsaber que fala sobre porque falamos ao dormir:
Falar dormindo significa extravasar pensamentos reprimidos?
A ideia de que falar dormindo seria uma forma de extravasar conteúdos reprimidos vem, em parte, de antigas teorias psicanalíticas que relacionavam sonhos a desejos e conflitos inconscientes. Hoje, porém, abordagens em psicologia e neurociências indicam que a relação não é tão direta quanto se imaginava.
Estudos apontam que a somniloquia resulta, em grande medida, de descargas automáticas de áreas cerebrais ligadas à linguagem, quando o controle consciente está reduzido. As palavras podem refletir pedaços de sonhos, frases ouvidas durante o dia, preocupações atuais e também conteúdos sem importância clara, misturados de forma aleatória.
O que a psicologia considera ao avaliar a fala durante o sono?
Na prática clínica, psicólogos analisam o fenômeno de falar dormindo dentro de um conjunto maior de informações, como história de vida, rotina de sono, nível de stress, uso de substâncias e sintomas emocionais. A somniloquia raramente é usada isoladamente para diagnósticos, mas pode complementar o entendimento sobre conflitos internos e sobrecarga do sistema nervoso.
Alguns fatores costumam ser considerados para compor esse quadro e orientar a decisão sobre a necessidade de investigação mais detalhada:
- Intensidade e frequência dos episódios de fala noturna.
- Conteúdo aproximado, sempre com cautela na interpretação.
- Presença de eventos estressantes recentes, como perdas ou mudanças bruscas.
- Histórico de ansiedade, depressão ou trauma e outras parassonias.

Quando buscar ajuda profissional para falar dormindo?
Na maioria dos casos, falar dormindo não exige tratamento específico e reflete a forma como o organismo processa informações durante o repouso. No entanto, alguns sinais indicam a necessidade de avaliação com psicólogo, psiquiatra ou especialista em medicina do sono, especialmente quando o sono deixa de ser reparador.
Em geral, o foco do cuidado não é “calar” a fala, mas melhorar a qualidade geral do sono e o manejo do stress e das emoções ao longo do dia. Estratégias incluem higiene do sono, horários regulares, redução de estímulos intensos à noite e psicoterapia quando indicado, ajudando a elaborar preocupações e permitindo que a somniloquia seja vista como um sinal entre muitos, e não como verdade absoluta sobre o mundo interno.