O que significa quando uma pessoa está sempre fazendo tatuagem, segundo a psicologia?

A tatuagem pode revelar muito sobre fases da vida e mudanças internas

12/12/2025 07:16

As tatuagens deixaram de ser um símbolo restrito a grupos específicos e passaram a fazer parte do cotidiano urbano em diferentes países. Em cidades de médio e grande porte, é comum encontrar profissionais de várias áreas com desenhos permanentes na pele, o que levanta perguntas sobre o que significa quando uma pessoa está sempre fazendo tatuagem e parece nunca “encerrar” o próprio projeto de corpo.

A repetição do gesto de tatuar o corpo costuma estar ligada a uma maneira específica de lidar com o tempo e com a própria história
A repetição do gesto de tatuar o corpo costuma estar ligada a uma maneira específica de lidar com o tempo e com a própria históriaImagem gerada por inteligência artificial

O que significa quando uma pessoa está sempre fazendo tatuagem?

Pesquisas em psicologia e comportamento indicam que a tatuagem não deve ser entendida apenas como adorno estético. Em muitos casos, trata-se de um recurso para registrar experiências de vida, dar forma a lembranças e construir uma narrativa pessoal.

Assim, alguém que busca constantemente novos desenhos pode estar envolvido em um processo contínuo de organização de identidade. Mais do que uma simples busca por aparência, as tatuagens representam capítulos de uma história em constante construção.

Alguns estudos também mencionam a dimensão de prazer e ritual: a ida recorrente ao estúdio, a relação de confiança com o tatuador e a expectativa pelo novo desenho podem reforçar um sentimento de pertencimento a uma comunidade específica, além de gerar uma sensação de renovação simbólica a cada sessão.

Por que algumas pessoas estão sempre fazendo uma nova tatuagem?

A repetição do gesto de tatuar o corpo costuma estar ligada a uma maneira específica de lidar com o tempo e com a própria história. Em vez de representar uma característica fixa de personalidade, os sucessivos desenhos funcionam como marcos de momentos importantes.

Cada sessão de tatuagem pode sinalizar uma fase, um aprendizado ou uma ruptura, criando uma espécie de linha do tempo visual na pele. Para algumas pessoas, essa prática reforça a sensação de continuidade entre passado, presente e futuro.

Também é comum que novas tatuagens apareçam em períodos de transição intensa — mudanças de trabalho, luto, término ou início de relacionamentos. Nesses contextos, marcar a pele ajuda a transformar experiências abstratas em algo concreto, visível e, de certo modo, “domável”.

Como as tatuagens se relacionam com a construção da identidade?

A palavra-chave nesse debate é identidade. A pessoa que está sempre fazendo tatuagem costuma enxergar o corpo como um suporte de memória e significado, escolhendo cuidadosamente o que deseja tornar visível e permanente.

Entre os sentidos mais frequentes atribuídos a essa prática recorrente, destacam-se alguns motivos que ajudam a entender por que marcar tanto a pele ao longo da vida:

  • Registro de etapas: cada tatuagem marca um período específico da vida, como início de carreira, término de relacionamento ou mudança de cidade.
  • Âncora emocional: o desenho funciona como lembrete permanente de algo que não se quer esquecer, como uma pessoa querida ou uma superação.
  • Definição de quem se é: símbolos, frases e imagens ajudam a reforçar a forma como a pessoa se enxerga e deseja ser vista.
  • Reescrita da própria história: ao escolher o que ficará na pele, a pessoa também escolhe quais episódios quer destacar em sua narrativa pessoal.

A psicologia contemporânea tem se afastado de interpretações rígidas que associam tatuagens a traços negativos ou positivos específicos. Pesquisas mostram que o fato de ter muitos desenhos não permite prever, de forma confiável, se alguém é mais extrovertido, impulsivo ou estável emocionalmente.

O que aparece com mais consistência é o papel simbólico do ato de tatuar-se repetidamente, ligado à construção ativa da identidade e à busca de coerência interna. Para algumas pessoas, escolher o que será tatuado e onde será tatuado também representa um exercício de controle sobre o próprio corpo e sobre experiências passadas.

A repetição do gesto de tatuar o corpo costuma estar ligada a uma maneira específica de lidar com o tempo e com a própria história
A repetição do gesto de tatuar o corpo costuma estar ligada a uma maneira específica de lidar com o tempo e com a própria históriaImagem gerada por inteligência artificial

Como as tatuagens funcionam como mapa de vida?

Quando uma pessoa acumula tatuagens ao longo dos anos, o corpo pode ser visto como um mapa de vida. Figuras pequenas, grandes painéis, frases discretas ou desenhos coloridos passam a formar um conjunto que conta uma história, ainda que nem sempre compreensível para quem olha de fora.

Nesse contexto, interpretar alguém apenas pelo número ou pelo estilo das tatuagens tende a ser reducionista. O hábito de estar sempre se tatuando indica um compromisso contínuo com a própria narrativa, mostrando que a trajetória pessoal está em constante atualização e que as tatuagens funcionam como uma linguagem silenciosa de memórias e mudanças.

Em vez de sinalizar um “vício” ou uma falta de limite, para muitas pessoas esse acúmulo de símbolos na pele é uma forma de manter viva a própria história, negociar com o tempo e afirmar, de maneira visual e permanente, quem se é — e quem ainda se está se tornando.