Os efeitos da perda de peso na saúde mental
Estudo mostra que estratégias saudáveis para emagrecer estão ligadas à melhora do bem-estar mental, enquanto métodos extremos aumentam o risco de depressão

Uma nova pesquisa aponta que a forma como as pessoas tentam perder peso pode influenciar diretamente sua saúde mental. Publicado no Journal of Affective Disorders, o estudo identificou que práticas saudáveis de emagrecimento estão ligadas a menores índices de depressão, enquanto métodos considerados prejudiciais aumentam o risco de sintomas depressivos.
Métodos saudáveis x estratégias perigosas
Segundo os pesquisadores, estratégias como aumentar o consumo de frutas e vegetais, optar por alimentos com menos calorias e praticar atividades físicas estão associadas a uma melhora no bem-estar emocional. Por outro lado, métodos drásticos — como pular refeições, tomar pílulas para emagrecer ou provocar vômitos — tendem a intensificar sintomas depressivos.
Com a crescente popularidade das dietas e do desejo de emagrecer, cresce também a preocupação com os efeitos psicológicos dessas escolhas. Muitas pessoas, em busca de resultados rápidos, acabam adotando práticas que, embora pareçam eficazes no curto prazo, podem ser emocionalmente danosas.
A pesquisa
O estudo utilizou dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos (NHANES), analisando respostas de 9.334 adultos entre 20 e 79 anos que tentaram perder peso no ano anterior. A maioria dos participantes era mulher (61%) e a média de idade foi de 47 anos.
Com base nos relatos, os comportamentos de perda de peso foram classificados em duas categorias:
- Métodos protetores: exercício físico, alimentação com baixa caloria e maior consumo de frutas e vegetais.
- Métodos prejudiciais: jejum prolongado, uso de fórmulas líquidas, medicamentos para emagrecer (com ou sem prescrição), indução de vômito e uso de laxantes.

Principais resultados
A análise estatística revelou associações claras entre o tipo de estratégia adotada e a presença de sintomas depressivos:
- Praticar exercícios foi relacionado a uma redução de 39% nas chances de depressão.
- Aumentar o consumo de frutas e vegetais reduziu esse risco em 22%.
- Já pular refeições elevou o risco em 71%.
- Induzir vômitos ou usar laxantes mais do que dobrou a probabilidade de sintomas depressivos.
O número de métodos utilizados também teve impacto: quanto mais práticas saudáveis, menor o risco; quanto mais estratégias prejudiciais, maior a propensão à depressão. Indivíduos que recorreram a três ou mais métodos prejudiciais apresentaram quase três vezes mais chances de relatar sintomas depressivos.
Diferenças entre os grupos
O estudo também apontou que os efeitos variam entre diferentes perfis demográficos. Estratégias saudáveis mostraram ser especialmente benéficas para mulheres, pessoas com menor escolaridade e indivíduos em situação de vulnerabilidade econômica — grupos já propensos a maior risco de depressão. Por outro lado, práticas prejudiciais tiveram impacto mais intenso entre jovens, homens e pessoas sem doenças crônicas.
Resultados importam
Outro fator relevante foi o sucesso (ou não) na perda de peso. Participantes que usaram métodos extremos, mas não conseguiram emagrecer, apresentaram níveis ainda mais altos de sintomas depressivos. Isso sugere que a frustração com a falta de resultados, somada ao uso de estratégias prejudiciais, pode aumentar o sofrimento emocional.
Apesar das conclusões importantes, os autores do estudo destacam limitações: os dados são autorrelatados, o que pode gerar vieses, e não é possível afirmar com certeza se os comportamentos causam depressão ou se pessoas deprimidas tendem a adotar certos métodos de emagrecimento.
Ainda assim, os pesquisadores ressaltam que os achados são valiosos para orientar intervenções mais completas. Mais do que alcançar o peso ideal, é fundamental escolher estratégias que cuidem do corpo e da mente.
Como destacou Zheng Zhang, autor principal do estudo e doutorando na Universidade Normal do Sul da China: “Com o aumento da obesidade e da depressão na população, entender como diferentes métodos de emagrecimento impactam o bem-estar mental é fundamental para a saúde pública.”