Os prós e contras do primeiro medicamento contra Alzheimer aprovado pela Anvisa

O medicamento retarda a progressão da doença

02/06/2025 20:00

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o medicamento Kisunla (donanemabe) para o tratamento de adultos com doença de Alzheimer em fase inicial, especificamente aqueles com comprometimento cognitivo leve ou demência leve, e que sejam portadores do gene da apolipoproteína E ε4 (ApoE ε4).

A medicação, já aprovada pela FDA nos Estados Unidos em julho de 2024, agora pode ser distribuída e utilizada no Brasil, de acordo com os critérios estabelecidos.

Como o medicamento funciona?

Donanemabe é um anticorpo monoclonal, ou seja, uma proteína produzida em laboratório para agir de forma específica no organismo. No caso do Alzheimer, ele tem como alvo as placas de beta-amiloide — depósitos anormais de proteína que se acumulam no cérebro e estão associadas à degeneração dos neurônios.

Ao se conectar a essas placas, o medicamento facilita sua remoção pelo sistema imunológico. É importante dizer, no entanto, que o medicamento não reverte os danos já causados, mas pode desacelerar a progressão da doença, especialmente quando iniciado nas fases leves do Alzheimer.

A abordagem é inovadora por atuar diretamente sobre uma das causas da doença, em vez de apenas aliviar os sintomas.

Medicamento não reverte os danos causados pelo Alzheimer, mas retarda sua progressão
Medicamento não reverte os danos causados pelo Alzheimer, mas retarda sua progressão - nopparit/istock

Resultados promissores em estudos clínicos

Em estudos clínicos de fase avançada, o donanemabe demonstrou resultados expressivos. Cerca de 75% dos participantes tratados com a medicação conseguiram eliminar com sucesso as placas de amiloide de seus cérebros. Além disso, os dados mostram:

  • Redução de até 35% no declínio cognitivo e funcional em comparação com o placebo.
  • Redução de até 39% no risco de progressão para estágios mais avançados da doença.

Esses números colocam o donanemabe como uma alternativa real no combate ao Alzheimer, especialmente em um cenário em que a maioria dos tratamentos atuais apenas ameniza sintomas sem interferir na progressão da doença.

Indicação e administração

Este tratamento é indicado para pacientes com comprometimento cognitivo leve ou demência leve devido ao Alzheimer. O donanemabe é administrado por infusão intravenosa mensal. Antes de iniciar o tratamento, é necessário confirmar a presença de placas beta-amiloide no cérebro por meio de exames específicos, como PET scan ou punção lombar.

Efeitos colaterais e monitoramento

Alguns pacientes podem apresentar efeitos colaterais, como inchaço cerebral reversível (ARIA) e pequenas hemorragias cerebrais. Esses efeitos geralmente não causam sintomas, mas em casos raros podem levar a dores de cabeça, confusão ou tontura.

É essencial o monitoramento por ressonância magnética antes e durante o tratamento para detectar essas alterações.

Embora seja um avanço importante no tratamento do Alzheimer, um obstáculo importante é o custo elevado. Nos Estados Unidos, o valor anual pode chegar a US$ 36 mil (cerca de R$ 172 mil), além dos custos associados a exames, monitoramento e hospitalização. Ainda não se sabe quanto vai custar no Brasil.