Os prós e contras do primeiro medicamento contra Alzheimer aprovado pela Anvisa
O medicamento retarda a progressão da doença
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o medicamento Kisunla (donanemabe) para o tratamento de adultos com doença de Alzheimer em fase inicial, especificamente aqueles com comprometimento cognitivo leve ou demência leve, e que sejam portadores do gene da apolipoproteína E ε4 (ApoE ε4).
A medicação, já aprovada pela FDA nos Estados Unidos em julho de 2024, agora pode ser distribuída e utilizada no Brasil, de acordo com os critérios estabelecidos.
Como o medicamento funciona?
Donanemabe é um anticorpo monoclonal, ou seja, uma proteína produzida em laboratório para agir de forma específica no organismo. No caso do Alzheimer, ele tem como alvo as placas de beta-amiloide — depósitos anormais de proteína que se acumulam no cérebro e estão associadas à degeneração dos neurônios.
Ao se conectar a essas placas, o medicamento facilita sua remoção pelo sistema imunológico. É importante dizer, no entanto, que o medicamento não reverte os danos já causados, mas pode desacelerar a progressão da doença, especialmente quando iniciado nas fases leves do Alzheimer.
A abordagem é inovadora por atuar diretamente sobre uma das causas da doença, em vez de apenas aliviar os sintomas.

Resultados promissores em estudos clínicos
Em estudos clínicos de fase avançada, o donanemabe demonstrou resultados expressivos. Cerca de 75% dos participantes tratados com a medicação conseguiram eliminar com sucesso as placas de amiloide de seus cérebros. Além disso, os dados mostram:
- Redução de até 35% no declínio cognitivo e funcional em comparação com o placebo.
- Redução de até 39% no risco de progressão para estágios mais avançados da doença.
Esses números colocam o donanemabe como uma alternativa real no combate ao Alzheimer, especialmente em um cenário em que a maioria dos tratamentos atuais apenas ameniza sintomas sem interferir na progressão da doença.
Indicação e administração
Este tratamento é indicado para pacientes com comprometimento cognitivo leve ou demência leve devido ao Alzheimer. O donanemabe é administrado por infusão intravenosa mensal. Antes de iniciar o tratamento, é necessário confirmar a presença de placas beta-amiloide no cérebro por meio de exames específicos, como PET scan ou punção lombar.
Efeitos colaterais e monitoramento
Alguns pacientes podem apresentar efeitos colaterais, como inchaço cerebral reversível (ARIA) e pequenas hemorragias cerebrais. Esses efeitos geralmente não causam sintomas, mas em casos raros podem levar a dores de cabeça, confusão ou tontura.
É essencial o monitoramento por ressonância magnética antes e durante o tratamento para detectar essas alterações.
Embora seja um avanço importante no tratamento do Alzheimer, um obstáculo importante é o custo elevado. Nos Estados Unidos, o valor anual pode chegar a US$ 36 mil (cerca de R$ 172 mil), além dos custos associados a exames, monitoramento e hospitalização. Ainda não se sabe quanto vai custar no Brasil.