Ozempic e Wegovy: remédios populares podem afetar a saúde bucal

Além da perda de peso, usuários relatam efeitos como boca seca, mau hálito e problemas dentários associados ao uso prolongado dos medicamentos

Por Clara Figueiredo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
24/06/2025 14:00

Um dos primeiros impactos notados é o chamado “rosto Ozempic”, uma aparência mais magra e envelhecida causada pela perda de gordura facial
Um dos primeiros impactos notados é o chamado “rosto Ozempic”, uma aparência mais magra e envelhecida causada pela perda de gordura facial - iStock/ Munro

Os remédios à base de semaglutida, como Ozempic e Wegovy, revolucionaram o tratamento da obesidade, sendo considerados soluções eficazes na redução de peso. Porém, conforme mais pessoas fazem uso contínuo dessas drogas, seus efeitos adversos começam a aparecer de forma mais ampla — e não se limitam apenas à estética corporal.

Alterações no rosto e boca seca

Um dos primeiros impactos notados é o chamado “rosto Ozempic”, uma aparência mais magra e envelhecida causada pela perda de gordura facial. Isso acontece porque a semaglutida reduz a gordura de todo o corpo, não apenas das áreas desejadas.

Além disso, a medicação interfere nas glândulas salivares, levando à boca seca (xerostomia). A produção de saliva é reduzida, ou a consistência da saliva se altera, tornando-a mais viscosa. Como consequência, a boca fica menos lubrificada, o que compromete a saúde bucal.

A sensação de sede também pode ser afetada, reduzindo o consumo de água e agravando ainda mais a produção de saliva. Com menos fluido, a língua pode ficar pegajosa, a saliva espessa e a boca ressecada — um ambiente ideal para o acúmulo de bactérias.

Mau hálito e desgaste dental

Com a boca seca, o mau hálito (halitose) se torna mais comum. Isso ocorre porque a saliva é essencial para eliminar bactérias e resíduos da boca. Quando escassa, ela favorece o crescimento de microrganismos como Streptococcus mutans e Porphyromonas gingivalis, que contribuem para odores desagradáveis.

A aparência de uma “língua peluda” também pode surgir, resultado do acúmulo de bactérias que não são eliminadas adequadamente sem saliva suficiente.

Outro problema frequente é o vômito, causado pelo esvaziamento mais lento do estômago promovido pela semaglutida. O ácido estomacal, ao passar repetidamente pela boca, pode corroer o esmalte dos dentes, principalmente na parte de trás dos dentes superiores — o que pode passar despercebido inicialmente.

A saliva também forma uma camada protetora chamada película dentária. Com sua produção comprometida, essa camada se torna menos eficaz, deixando os dentes mais vulneráveis a desgastes.

Ozempic Insulin injection pen for diabetics and weight loss. Woman weighs herself and holds Ozempic in her hand. Weight loss concept.
Ozempic Insulin injection pen for diabetics and weight loss. Woman weighs herself and holds Ozempic in her hand. Weight loss concept. - iStock/ Carolina Rudah

Como proteger dentes e gengivas

Para minimizar os danos, é essencial manter a hidratação constante, ingerindo entre seis e oito copos de água por dia. Isso ajuda tanto na produção de saliva quanto na manutenção do equilíbrio do microbioma bucal.

Mascar chicletes sem açúcar pode estimular as glândulas salivares, e versões com eucalipto ajudam a combater o mau hálito. Alimentos e suplementos probióticos, como iogurte ou kefir, também podem contribuir para o controle das bactérias bucais.

Outras práticas recomendadas incluem:

  • Escovar os dentes com frequência (mas evitando logo após episódios de vômito),
  • Reduzir o consumo de alimentos ácidos e bebidas açucaradas,
  • Utilizar enxaguante bucal,
  • Fazer refeições menores para evitar náuseas.

Especialistas também alertam que mulheres tendem a apresentar mais efeitos colaterais, como vômitos, possivelmente por influência hormonal. Nesses casos, cuidados redobrados com a hidratação e a alimentação são fundamentais.

Embora muitos desses efeitos desapareçam com a interrupção do medicamento, danos aos dentes podem ser irreversíveis. Por isso, acompanhamento médico e odontológico ao longo do tratamento é essencial para garantir saúde completa — da cabeça aos pés.