Paciente acusa médico de operar seu coração sem permissão em cirurgia de endometriose
O caso ocorreu em São Paulo e está sob segredo de justiça; após a cirurgia, a paciente recebeu diagnóstico de pericardite
Em outubro de 2023, uma mulher de 34 anos, diagnosticada com endometriose, submeteu-se a uma cirurgia em São Paulo para tratar a condição e melhorar sua fertilidade.
No entanto, durante o procedimento, o ginecologista responsável realizou uma intervenção não autorizada no coração da paciente.
A cirurgia inicialmente tinha como foco as região do útero, ovário, trompas e intestino grosso (cólon). Mas foi ampliada sem consentimento para o diafragma e o pericárdio, membrana que envolve o coração.
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O que motivou o médico a realizar a intervenção cardíaca?
De acordo com o relato dos familiares, o ginecologista afirmou que a endometriose havia atingido o diafragma e o pericárdio, justificando a necessidade de ampliar a cirurgia.
No entanto, não havia indicação emergencial para essa intervenção, e a paciente ou seus familiares não foram consultados previamente.
A cirurgia, que deveria durar cinco horas, ultrapassou o dobro do tempo, sem a presença de um cirurgião especializado em cardiologia, ainda segundo a família.
Quais foram as consequências para a paciente?
Após a cirurgia, a paciente recebeu o diagnóstico de pericardite, uma inflamação crônica no pericárdio.
Antes saudável e praticante de esportes, agora ela depende do uso contínuo de medicamentos e precisa monitorar rigorosamente seus batimentos cardíacos, que não podem ultrapassar 100 por minuto.
Além disso, a medicação que usa impede que ela engravide, afetando seus planos de ser mãe.
O caso está sendo investigado
A Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para investigar a conduta do médico. E o caso também está sendo analisado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e pela Comissão de Ética do Hospital Israelita Albert Einstein, onde a operação ocorreu.
A denúncia contra o ginecologista inclui depoimentos de familiares e mensagens trocadas entre o médico e a paciente, além de gravações.
O processo está sob segredo de Justiça, e a defesa do médico e a paciente optaram por não se manifestar publicamente.
À Folha de S. Paulo, que teve acesso aos depoimentos dos familiares da paciente, o Hospital Albert Einstein disse que está oferecendo todos o acolhimento necessário a paciente e sua família, e que “os fatos relatados acerca da conduta do médico estão sendo apurados nas instâncias competentes”.