Pai antivacina dos EUA diz que não vacinaria filha de 8 anos mesmo após morte dela por sarampo
País norte-americano enfrenta maior surto em mais de uma década; Brasil já confirma quatro casos e reforça campanhas de prevenção
O sarampo, uma das doenças mais contagiosas do mundo e considerada erradicada nos Estados Unidos desde o ano 2000, voltou a preocupar autoridades de saúde pública em 2025. Um surto em expansão, com epicentro no Texas, já acumula mais de 700 casos confirmados em diversos estados e reacende o debate sobre vacinação, desinformação e políticas públicas.
O caso da menina Daisy Hildebrand, de 8 anos, que morreu sem ter sido vacinada, colocou em evidência os riscos de retrocessos na imunização infantil. No Brasil, onde também já há registros recentes da doença, o Ministério da Saúde reforçou o alerta para a prevenção e o controle de novos casos.

Casos nos Estados Unidos: uma tragédia anunciada
- Em Seminole, no oeste do Texas, a morte de Daisy Hildebrand, de 8 anos, comoveu o país. A menina fazia parte de uma comunidade menonita com histórico de desconfiança em relação à medicina moderna, especialmente às vacinas. Daisy não havia sido imunizada contra o sarampo. Seu pai, Peter Hildebrand, declarou publicamente que não se arrepende da decisão e que não pretende vacinar futuros filhos.
- A declaração foi dada à Children’s Health Defense, organização antivacina fundada por Robert F. Kennedy Jr., atual secretário da Saúde do governo Trump.
- Kennedy, que já afirmou falsamente que vacinas causam autismo, visitou a família para prestar condolências, apesar da confirmação oficial do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) de que a causa da morte foi, de fato, sarampo.
- O Texas lidera os casos da doença em 2025. Só naquele estado, duas outras crianças em idade escolar morreram, além de um adulto no Novo México.
- O vírus também se espalha por Indiana, Kansas, Oklahoma e Ohio, todos com surtos ativos (mais de três casos). Uma onda de desinformação tem contribuído para o aumento de isenções vacinais por motivos religiosos ou pessoais.
A desinformação e o impacto político
- A volta do sarampo nos EUA não pode ser dissociada do cenário político. Robert F. Kennedy Jr., que se aliou à campanha presidencial de Donald Trump em 2024, é um dos principais nomes do movimento antivacina.
- Kennedy é conhecido por divulgar teorias conspiratórias e por sua militância durante a pandemia da Covid-19.
- Agora, no cargo de secretário da Saúde, minimiza os dados do surto, afirmando em rede nacional que os casos estão “estabilizados”, apesar de o país já ter dobrado o número de infecções em relação a todo o ano anterior.

Transmissão: uma doença altamente contagiosa
- O sarampo é transmitido pelo ar, por meio de gotículas respiratórias quando a pessoa infectada tosse, espirra, fala ou até mesmo respira. É tão contagioso que pode infectar até 90% das pessoas não vacinadas próximas ao paciente.
- A transmissão pode ocorrer entre seis dias antes e quatro dias após o surgimento das manchas vermelhas no corpo, o que aumenta o risco de contágio em ambientes fechados e com aglomeração.
Sintomas e tratamento
- Os principais sintomas do sarampo incluem febre alta, manchas vermelhas pelo corpo, tosse, coriza, conjuntivite e mal-estar generalizado. Em casos graves, pode levar à pneumonia, encefalite e morte, especialmente entre crianças pequenas e pessoas com imunidade comprometida.
- Não existe tratamento específico para o sarampo. A abordagem médica é de suporte, incluindo hidratação, controle da febre e prevenção de complicações. A vitamina A é frequentemente utilizada em crianças para reduzir a gravidade da doença.
Prevenção: a vacina salva vidas
- A forma mais eficaz de prevenção contra o sarampo é a vacinação. A imunização contribui para a chamada “imunidade de rebanho”, que impede a circulação do vírus quando mais de 95% da população está protegida.
- Nos EUA, a queda nas taxas de vacinação infantil desde a pandemia tem comprometido essa barreira coletiva.
- Muitos pais passaram a alegar motivos religiosos ou de consciência pessoal para evitar a imunização obrigatória.
- No Brasil, o Ministério da Saúde disponibiliza três tipos de vacinas que protegem contra o sarampo: dupla viral (sarampo e rubéola), tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e tetra viral (inclui também varicela). A escolha depende da idade da pessoa e da situação epidemiológica da região.
- A vacina tríplice viral é contraindicada na gestação. Gestantes não vacinadas devem receber a dose no puerpério. Em surtos, a vacinação pode ser ampliada para bebês entre 6 e 12 meses, conforme recomendação das autoridades.
Casos no Brasil em 2025
- Segundo a Nota Técnica Conjunta nº 124/2025 do Ministério da Saúde, até 18 de março, foram confirmados quatro casos de sarampo no Brasil: três no Rio de Janeiro e um no Distrito Federal.
- Em São João de Meriti (RJ), duas irmãs com menos de um ano e sem histórico vacinal apresentaram sintomas entre fevereiro e março. Ambas tiveram diagnóstico confirmado, com identificação do genótipo B3. Medidas de bloqueio vacinal, isolamento e rastreamento de contatos foram adotadas.
- O terceiro caso fluminense foi retrospectivamente confirmado em Itaboraí, envolvendo uma criança de seis anos com esquema vacinal completo. Não houve transmissão secundária.
- No Distrito Federal, uma mulher de 35 anos, também com vacinação em dia, retornou de viagem à Ásia e apresentou sintomas em março. O exame confirmou o genótipo D8, circulante nos países visitados. O caso foi classificado como importado.

Situação epidemiológica e resposta das autoridades
- O genótipo B3 encontrado nos casos do Rio de Janeiro é o mesmo que circula em países africanos e já foi identificado em surtos anteriores. O D8, presente no caso do Distrito Federal, é comum em países do Pacífico Ocidental e Sudeste Asiático.
- A identificação do genótipo permite traçar a origem da infecção e avaliar a circulação comunitária do vírus. Até o momento, o Brasil não registra transmissão sustentada, mas o alerta é máximo.
- Em todos os casos confirmados, o Ministério da Saúde coordenou ações de vigilância, bloqueio vacinal, comunicação de risco e articulação com estados e municípios.
A importância da vacinação de rotina
- No Brasil, todas as pessoas entre 12 meses e 59 anos devem ser vacinadas contra o sarampo. Adultos e adolescentes com esquema vacinal incompleto devem iniciar ou completar as doses de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação.
- A tríplice viral e a tetra viral são as vacinas utilizadas nos serviços públicos de saúde. A proteção conferida é duradoura e eficaz, especialmente se a população mantiver altas taxas de cobertura.
- Durante surtos, estratégias adicionais podem ser adotadas, como a vacinação em bebês menores de 1 ano em regiões afetadas.