Pelo menos de meia hora de exercício físico melhora a cognição

Pesquisas comprovam que exercícios, mesmo de curta duração, melhoram memória, atenção e plasticidade cerebral

29/03/2025 14:02

Há muito tempo, pesquisadores identificam a relação entre a prática de atividades físicas e a melhora das funções cerebrais. Novas evidências sugerem que não é necessário um esforço intenso ou de longa duração para obter essas vantagens. Um estudo publicado na revista Communications Psychology indicou que apenas alguns minutos de atividade já são suficientes para impactar positivamente o cérebro.

exercício físico
exercício físico - iStock/Rawpixel

O estudo e seus achados

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Santa Barbara analisaram 113 estudos publicados entre 1995 e 2023, envolvendo um total de 4.390 participantes, com idades entre 18 e 45 anos. A pesquisa demonstrou que até mesmo uma única sessão de exercícios melhora diferentes funções cognitivas, incluindo a memória, a atenção, o processamento de informações e a função executiva, que está relacionada ao planejamento e execução de tarefas.

Os resultados foram mais expressivos quando os participantes praticaram atividades de alta intensidade, especialmente o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT). Outro ponto relevante foi que as melhorias cognitivas se tornaram mais evidentes após o treino, e não durante ele. Sessões com menos de 30 minutos apresentaram melhores resultados do que aquelas que ultrapassaram esse tempo.

Movimentar-se melhora a memória e a atenção, segundo estudos recentes.
Movimentar-se melhora a memória e a atenção, segundo estudos recentes. - iStock/PeopleImages

A importância da pesquisa para adultos

Grande parte dos estudos sobre os efeitos dos exercícios na cognição se concentra em crianças e idosos, tornando essa pesquisa particularmente relevante. O educador físico Caio Novaes, do Espaço Einstein – Esporte e Reabilitação, do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que os adultos enfrentam desafios como estresse, ansiedade e sono reduzido devido às demandas do trabalho, estudo e vida familiar. Esses fatores podem impactar negativamente a função cognitiva, tornando a atividade física uma ferramenta essencial para mitigar esses efeitos.

Mudanças químicas no cérebro

Os pesquisadores da Universidade da Califórnia observaram que uma única sessão de exercícios desencadeia uma série de reações químicas similares às que ocorrem com a prática regular. Entre elas, está o aumento na síntese de neurotransmissores fundamentais para o bem-estar e desempenho cognitivo: dopamina (relacionada ao prazer), acetilcolina (importante para memória, aprendizado e sono) e GABA (que promove relaxamento). Também foi constatado um aumento nos fatores neurotróficos, substâncias essenciais para a sobrevivência e desenvolvimento das células cerebrais.

O neurologista Ricardo Mário Arida, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca ainda que os exercícios elevam os níveis do fator de crescimento IGF-1, essencial para a plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar a novos desafios e consolidar memórias. Estudos com animais também apontam que os exercícios estimulam a neurogênese, ou seja, a formação de novos neurônios no hipocampo, região associada ao aprendizado e à memória.

Treinos curtos e intensos trazem benefícios imediatos para a saúde cerebral.
Treinos curtos e intensos trazem benefícios imediatos para a saúde cerebral. - iStock/Paperkites

Benefícios a longo prazo

Embora sessões isoladas de exercícios possam gerar efeitos positivos imediatos, os especialistas enfatizam que a prática regular potencializa essas melhorias. “A longo prazo, o exercício promove adaptações cerebrais mais duradouras, aprimorando a plasticidade neural”, explica Arida.

Atividades que envolvem estratégia, interação social e estímulos sensoriais, como danças, esportes coletivos e lutas, são especialmente eficazes para esse efeito. No que diz respeito ao bem-estar mental, exercícios aeróbicos, como corrida e ciclismo, se destacam na literatura científica. Além de potencializarem a cognição, eles também auxiliam na redução do estresse e ansiedade. Novaes ressalta ainda que a combinação dessas práticas com exercícios de força é essencial para evitar lesões e garantir um condicionamento equilibrado.

Dessa forma, tanto pequenas sessões quanto uma rotina estruturada de atividades físicas podem trazer ganhos expressivos para o cérebro, reforçando a importância do movimento para a saúde mental e cognitiva.