Pesquisa indica que situações estressantes aceleram o envelhecimento
E se sua idade biológica fosse diferente da sua idade real? Estudo científico explora a reversibilidade da idade biológica em decorrência do estresse
Por muito tempo, acreditou-se que a idade biológica seguia apenas uma trajetória unidirecional, correspondente ao envelhecimento ao longo do tempo. No entanto, pesquisadores vêm acumulando evidências de um fenômeno intrigante: os seres humanos podem apresentar uma idade biológica que difere de sua idade cronológica, tanto para mais velha quanto para mais jovem, em determinados momentos.
Estudo relaciona estresse ao envelhecimento rápido
Um estudo recente publicado na revista Cell Metabolism se propôs a investigar até que ponto a idade biológica pode ser reversível ao longo da vida e quais eventos podem desencadear essas mudanças. Os resultados revelam que situações estressantes, como doenças, alterações no estilo de vida, traumas e até mesmo gestações, podem desencadear esse efeito surpreendente.
Os pesquisadores constataram que a idade biológica pode experimentar um aumento temporário em resposta ao estresse, mesmo em períodos de tempo relativamente curtos. No entanto, é importante destacar que esse processo de “envelhecimento” é transitório e tende a se reverter, retornando ao nível esperado.
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“Essa descoberta de idade fluida, flutuante e maleável desafia a concepção de uma trajetória ascendente unidirecional da idade biológica ao longo da vida”, diz, em nota, o coautor do estudo James White, da Duke University School of Medicine, nos Estados Unidos.
Conforme White explica, estudos científicos recentes têm fornecido evidências cada vez mais sólidas de que o estilo de vida, doenças e exposição a poluentes ambientais podem acelerar o processo de envelhecimento biológico. No entanto, a possibilidade de reverter esse envelhecimento ainda era desconhecida.
Com o objetivo de preencher essa lacuna, os pesquisadores utilizaram características do DNA para avaliar o envelhecimento do organismo em resposta a diversos estímulos estressantes. Esses testes foram conduzidos em camundongos e em seres humanos.
Beatriz Lassance, cirurgiã plástica e membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida, destaca que há diversas teorias que buscam explicar como a idade biológica é calculada.
“Essa avaliação, por exemplo, pode ser clínica, que leva em consideração atividade física, porcentagem de massa magra, cognição, hábito e estilo de vida”, diz. “Mas existem também marcadores biológicos. Nosso DNA sofre alterações desde o momento em que nascemos, e isso é considerado um relógio biológico. Essas alterações determinam a eficiência com que produzimos as proteínas que fazem nosso organismo funcionar”.
Essas pequenas mudanças, conhecidas como metilação, ocorrem quando moléculas interagem com o material genético, afetando sua função. Beatriz Lassance explica que é possível medir essas alterações no DNA por meio de exames de sangue ou saliva, que determinam a quantidade de metilação presente. Os pesquisadores americanos concentraram-se nesse fenômeno, utilizando os relógios epigenéticos para analisar os níveis de metilação do DNA em humanos e camundongos.
Essas pequenas mudanças, conhecidas como metilação, ocorrem quando moléculas interagem com o material genético, afetando sua função. Beatriz Lassance explica que é possível medir essas alterações no DNA por meio de exames de sangue ou saliva, que determinam a quantidade de metilação presente. Os pesquisadores americanos concentraram-se nesse fenômeno, utilizando os relógios epigenéticos para analisar os níveis de metilação do DNA em humanos e camundongos.
“Os relógios epigenéticos usam algoritmos para prever a idade biológica com base na extensão e na localização da metilação ligada ao DNA de uma pessoa”, explica White. “O envelhecimento cronológico altera o padrão de metilação no DNA, e os relógios usam esse padrão natural para prever a idade biológica. Nesse estudo, usamos os relógios para mostrar o rápido aumento e a reversão do envelhecimento biológico em resposta a um estressor e subsequente recuperação.”
Os resultados da pesquisa indicaram que a idade biológica pode temporariamente aumentar em resposta ao estresse, mas retorna ao normal uma vez que o fator estressor é removido. Os cientistas, liderados por White, observaram mudanças transitórias na idade biológica em diferentes situações. Por exemplo, durante a gravidez, ocorrem alterações reversíveis na idade biológica.
Para investigar esse fenômeno, eles coletaram amostras de sangue de 54 mulheres durante um trimestre de gestação e observaram um aumento na idade biológica até o momento do parto. No entanto, após o nascimento do bebê, grande parte do estresse e das condições relacionadas foram naturalmente revertidos, levando a uma restauração da idade biológica anterior.