Pesquisadores descobrem ponto de virada do envelhecimento aos 60 anos

Mudanças no metabolismo e na aptidão física marcam o ponto de virada do envelhecimento aos 60 anos

Por Thatyana Costa em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
24/11/2024 18:01 / Atualizado em 27/11/2024 11:53

Efeitos do envelhecimento no organismo se tornam mais evidentes após os 60 anos
Efeitos do envelhecimento no organismo se tornam mais evidentes após os 60 anos - iStock/Eva-Katalin

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) descobriram que o envelhecimento começa a se manifestar de forma mais evidente aos 60 anos, afetando principalmente o controle da frequência cardíaca e a aptidão cardiorrespiratória. A pesquisa, realizada com 118 pessoas saudáveis de diferentes faixas etárias, sugere que, a partir dessa idade, o corpo começa a apresentar mudanças mais significativas nos sistemas de transporte e consumo de oxigênio durante o exercício físico, um dos principais indicativos da saúde cardiovascular.

O ponto de virada: 60 anos

O estudo revela um possível “ponto de virada” no envelhecimento, especialmente nos componentes do metabolismo, da modulação autonômica cardíaca e da aptidão cardiorrespiratória. Embora o envelhecimento seja um processo gradual, os pesquisadores identificaram que as mudanças mais significativas nesses sistemas ocorrem após os 60 anos. A diminuição da capacidade de captação e consumo de oxigênio, conhecida como consumo de oxigênio pico, é um dos principais reflexos desse processo.

A professora Aparecida Maria Catai, coordenadora do estudo, explicou que as mudanças observadas no estudo são o resultado de uma redução na eficiência do sistema cardiovascular e respiratório. “Com o envelhecimento, o organismo realiza ajustes fisiológicos para manter o equilíbrio, mas esses mecanismos acabam se exaurindo”, destacou a pesquisadora.

O papel dos metabólitos na mitigação dos efeitos do envelhecimento

Entre as descobertas mais importantes do estudo está o aumento significativo de um metabólito chamado ácido hipúrico, especialmente entre os 60 e 70 anos. Esse composto, associado à saúde metabólica e à diversidade da microbiota intestinal, pode ajudar a mitigar alguns dos efeitos negativos do envelhecimento. A pesquisa sugere que o aumento do ácido hipúrico pode estar relacionado à melhoria da absorção de nutrientes, essencial para a manutenção da saúde em idades avançadas.

Contudo, os pesquisadores alertam para a possibilidade de que esse aumento possa também indicar comprometimento na função renal. No entanto, estudos recentes sugerem que o ácido hipúrico pode, na verdade, funcionar como um mediador da saúde metabólica e ter um efeito protetor nas células beta do pâncreas.

Declínio dos aminoácidos essenciais e o impacto na saúde dos idosos

Outro achado relevante do estudo foi a redução dos níveis de aminoácidos essenciais, como os BCAAs (valina, leucina e isoleucina), comuns no processo de envelhecimento saudável. Esses aminoácidos são fundamentais para a síntese proteica, mas sua diminuição pode refletir uma estratégia do corpo para se preservar, já que a atividade anabólica – que favorece a construção muscular – diminui com a idade.

Embora a suplementação de BCAAs seja uma questão controversa, com alguns estudos sugerindo benefícios, a pesquisa enfatiza que a redução dessa atividade anabólica poderia ser benéfica em contextos em que o organismo está comprometido, evitando consequências indesejadas, como o câncer.

Metodologia do estudo

A pesquisa foi conduzida com a participação de 118 indivíduos, divididos em cinco faixas etárias, e com o objetivo de avaliar o metabolismo, a modulação cardíaca e a aptidão cardiorrespiratória. Todos os participantes eram saudáveis, sem diagnóstico de doenças cardiovasculares ou metabólicas. Os testes realizados incluíram exercícios cardiopulmonares, análises da variabilidade dos períodos cardíacos e investigações metabólicas por meio de amostras de sangue.

O envelhecimento e seus impactos funcionais

A modulação autonômica cardíaca, essencial para o controle da frequência cardíaca, e a capacidade do organismo de gerar energia durante o exercício são fortemente impactadas pelo envelhecimento. Segundo Étore de Favari Signini, um dos autores do estudo, o aumento da modulação simpática e a diminuição da modulação parassimpática com o envelhecimento geram maior estresse no organismo, comprometendo a resposta do corpo aos desafios físicos.

Estudos anteriores já haviam mostrado uma relação entre o envelhecimento e desequilíbrios na modulação autonômica cardíaca, evidenciando o impacto dessa condição na capacidade de recuperação e adaptação do corpo ao esforço físico.